Por Vandson Holanda Muitos estudos têm sido realizados no Brasil nos últimos anos para tentar explicar o fenômeno da violência e suas conseqüências sanitárias e sociais.
Parece consenso entre os pesquisadores de que não dá para mensurar a amplitude do problema e seus reflexos sobre os mais variados setores da área social e da saúde.
Seja pelo fator de incidir prioritariamente sobre uma população em idade produtiva, seja pela morte precoce, seja pela ocorrência de seqüelas, a maioria dos estudiosos concorda que o problema tem gravidade ímpar.
A complexidade da temática é tão profunda que requer que nos despojemos de “extremismos ideológicos” que não conduziriam à boa reflexão do problema nem à sua superação.
A análise da violência do ponto de vista sanitário requer que reflitamos, inclusive, sobre os indicadores epidemiológicos de mortalidade apresentados pelo Ministério da Saúde e, por conseguinte, os indicadores da OMS.
Não existe aqui uma crítica aos indicadores por si só, mas sim uma reflexão sobre a forma como são divulgados números e “números”.
Entretanto esta discussão conceitual e metodológica de apresentação de números fica para outro momento…
O despojamento ideológico referido anteriormente nos faz analisar o tema violência e homicídios sob vários ângulos técnicos e racionais sem buscar culpados pelo problema (governo x, y ou z), mas sim encontrar caminhos que nos levem a suplantar esta chaga social.
Um grande autor, afirma inteligentemente, “que todo discurso que assume, no sentido negativo, uma postura ideológica, cria atitudes sectárias, com elementos polarizados que determinam a manutenção da situação atual”.
Talvez este seja o grande desafio da sociedade pernambucana e dos governos constituídos no combate da epidemia da violência que não tem de hoje, é verdade, esse nível alarmante.
Nesse contexto, a partir do próximo dia 17 de Outubro, a Pastoral da Saúde da Arquidiocese de Olinda e Recife, o PEbodycunt e outras organizações estarão lançando a primeira fase da Campanha “Não Matarás!” que tem como objetivo sensibilizar a sociedade para o problema atual e mais grave de saúde pública que é a violência e o homicídio.
Apesar de usar uma expressão aparentemente de cunho confessional a campanha sanitária se pautará em questões epidemiológicas, antropológicas e sociais.
Três grandes serão os desafios: o primeiro será distanciar-se de ideologias que simplificam o problema e não constroem mudanças na sociedade.
Assim poderemos enxergar as coisas pelo melhor ângulo sem paralisar nossas ações e decisões, não nos achando o dono da verdade e libertando-nos da armadilha de nossas idéias pré-concebidas.
Isso auxilia também na eliminação de atitudes forçadas e estereotipadas, comportamentos travados e pouco produtivos que não levariam à transformação almejada pelo grupo.
O segundo desafio será fazer com que o termo “Não Matarás!’ não soe como sentença de juízo, ordem de valor ou determinação religiosa, pois essa metodologia não seria educativo-reflexiva.
De nada adiantaria afirmar que matar é errado, crime ou pecado.
Temos sim que fazer as pessoas pensarem sobre os porquês de homicídio e violência serem considerados condutas criminosas. É aí que está o nosso terceiro e maior desafio: fazer uma campanha de educação para a saúde (e para a vida) sem determinismos biológicos ou sociológicos e levar às pessoas a simplesmente PENSAR os porquês da campanha.
Afinal, por que homicídio é crime?
VANDSON HOLANDA Coordenador da Pastoral da Saúde da Arquidiocese de Olinda e Recife Secretário do Instituto Nacional de Biomedicina (INB) vandsonholanda@uol.com.br