De Veja As eleições no Rio de Janeiro têm uma tradição de viradas espetaculares.
Não foi diferente desta vez.
O verde Fernando Gabeira saiu da lanterninha para o segundo lugar com uma campanha que conquistou a rica e escolarizada Zona Sul e, depois, contagiou a Zona Norte.
Graças a esse desempenho, ele conseguiu reduzir a vantagem de Eduardo Paes, do PMDB, a apenas 6 pontos no primeiro turno, quando mesmo as pesquisas mais favoráveis a Gabeira apontavam 12 pontos de diferença entre os dois candidatos.
No segundo turno, a disputa acirrou-se ainda mais.
O Datafolha dá um empate técnico entre Gabeira e Paes.
O verde tem 43% das intenções de voto, contra 41% do adversário peemedebista.
Mostrou ainda que seu potencial de crescimento entre os eleitores de outros candidatos no primeiro turno é bem maior do que se supunha inicialmente.
Uma eventual vitória de Gabeira, que, há poucos dias, era tida como impossível, hoje já está no terreno do razoável.
O crescimento do candidato verde é mais um dos reveses eleitorais que as urnas reservaram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No primeiro turno, o presidente flertava com quatro candidaturas: Alessandro Molon, do PT, Marcelo Crivella, do PRB, Jandira Feghali, do PCdoB, e Eduardo Paes.
Só sobrou o último, justamente aquele de quem Lula queria manter maior distância.
O presidente e dona Marisa não perdoam Paes por ele ter citado um dos seus filhos, Lulinha, em 2005, durante a CPI dos Correios.
Paes, então, era secretário-geral do PSDB e lugar-tenente de José Serra no Rio.
Com a eleição de Sérgio Cabral, do PMDB, para o governo do estado, Paes virou a casaca e se tornou governista.
Na semana passada, fez um gesto desesperado para atrair o apoio formal de Lula: enviou à primeira-dama Marisa Letícia uma carta em que pede desculpas ao casal pelo seu comportamento na oposição.
Francamente.
Aos 38 anos, Paes é o candidato mais jovem e, ao mesmo tempo, o que representa a política tradicional.
Tem números e projetos na ponta da língua.
Procura encarnar a figura do jovem empreendedor, com mais capacidade administrativa que seu adversário.
Aos 67 anos, Gabeira é o mais velho, mas significa renovação na política.
Sua atuação como deputado federal pautou-se, nos últimos anos, pela defesa da ética.
Sua campanha deslanchou depois que ele começou a mostrar, no horário eleitoral gratuito, as cenas em que, em 2005, mandou o então presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, calar a boca.
Também veiculou imagens do dia em que, aos trancos, entrou na sessão do Senado em que se votava a cassação do presidente da casa em 2007, Renan Calheiros.
Não importa de onde se olhe, é um bom combate o que se trava no segundo turno do Rio.
Pela primeira vez nos últimos vinte anos, o debate sobre as propostas está entregue a candidatos que não vêem a prefeitura como trincheira para rivalizar com o governo federal.
Só por isso, ganhe quem ganhar, o Rio já saiu vitorioso.