Deu no JC de hoje As oscilações da Bolsa de Valores têm reflexo não apenas nos balanços das empresas e na carteira de acionistas, mas também nos consultórios médicos.

Estudo do cardiologista João Mansur Filho, chefe do setor de cardiologia do Hospital Samaritano, em Botafogo, Rio, mostra que a queda das ações coincide com aumento da mortalidade por enfarto.

Para chegar a essa conclusão, o médico analisou os óbitos ocorridos entre 2001 e 2002 e comparou com o índice da Bovespa – em período de queda, a incidência de óbitos chegou a 12,06 ao dia, saldo 36,4% maior do que o registrado em época de calmaria, quando ficou em 8,8 casos diários.

Quando Mansur Filho levou em consideração apenas a população com nível superior – com maior probabilidade de movimentar investimentos em ações –, a taxa de óbito ficou 46,7% mais alta em tempos conturbados.

Isso corresponde à ocorrência de 1,8 morte por dia de desvalorização, ante 1,2 por dia de Bolsa em alta.

A pesquisa foi apresentada no último Congresso Brasileiro de Cardiologia.

Mansur Filho decidiu estudar os óbitos de 2001 e 2002 porque naqueles anos ocorreram importantes oscilações na Bovespa – a bolha da internet e o 11 de setembro em 2001 e, no ano seguinte, as incertezas provocadas pela eleição do presidente Lula.

Ele analisou a taxa de óbito por enfarto quando a média móvel do Ibovespa num período de 55 dias caiu mais de 20%.

Isso ocorreu entre 12 de março de 2001 e 5 de novembro de 2001 (queda de 33,3%) e entre 2 de maio de 2002 e 23 de outubro de 2002 (-28,6%). “Pesquisas mostram que após a queda das torres gêmeas houve aumento de casos de taquicardia ventricular em Nova Iorque.

Depois de terremotos no Japão, houve aumento de enfarto agudo.

Mostramos que a crise econômica grave também provoca aumento do enfarto agudo”, disse Mansur Filho, que compara a crise a uma virose, “que contamina toda a população”. “Mesmo quem não tem investimento na Bolsa sofre com o cenário de incerteza e pessimismo, teme o desemprego, teme não honrar compromissos." Mansur recomenda que as pessoas mantenham suas atividades físicas rotineiras ou iniciem os exercícios, como forma de combater o estresse. “O que vemos é que nesses momentos de crise as pessoas ficam tão abaladas que abandonam suas atividades.

E há ainda aumento do consumo de cigarro e bebida alcoólica”, afirma.

O diretor-médico do Med Rio Check-up, Gilberto Ururahy, confirma que nas últimas semanas houve “aumento substancial da demanda por check-ups”. “Não tenho dúvida alguma de que essa procura é decorrente do cenário econômico mundial”, afirmou.

Ururahy explicou que, em momento de estresse, o organismo aumenta a produção de adrenalina, que atinge o sistema cardiovascular, provocando taquicardia, por exemplo, e do hormônio cortisol, que deprime o sistema imunológico, aumenta espessura do sangue (dificultando a circulação) e leva à depressão.