O inesperado segundo turno entre os candidatos João Henrique Carneiro (PMDB) e Walter Pinheiro (PT), os dois da base dos governos federal e da Bahia, torna a eleição para prefeito de Salvador o quadro mais delicado entre todos os segundos turnos do País.

O acirramento dos discursos de Henrique e Pinheiro deve deixar marcas profundas no relacionamento entre os dois partidos em nível nacional e, principalmente, pode respingar no governador Jaques Wagner (PT).

Embora o PT enfrente aliados em outras cidades, o duelo verbal entre os candidatos chegou ao ponto de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva querer distância da “guerra” na capital baiana.

Nem a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (virtual candidata a presidente), deverá passar perto.

Para analistas ouvidos pela Agência Estado, independente do resultado das urnas, a troca de farpas entre Henrique e Pinheiro deverá deixar seqüelas difíceis de se curar até 2010. “Está se arrumando uma encrenca mais cedo que se precisaria”, avalia o cientista político Carlos Melo, do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) de São Paulo Para Melo, a disputa antecipou a entrada de dois gigantes: Wagner, estrela em ascensão no PT que precisará do apoio do PMDB para se reeleger em 2010, e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, principal articulador do PMDB e que precisa consolidar a posição do partido no Estado, aproveitando a derrocada do carlismo nestas eleições.

O encontro entre PT e PMDB se deu em 2006 e foi fundamental para a derrota do PFL (hoje DEM) do ex-senador Antonio Carlos Magalhães.

O atual governador da Bahia foi o grande articulador da candidatura de Pinheiro, uma vez que não havia compromisso do PT em apoiar o PMDB nesta eleição e as pesquisas indicarem um alto índice de rejeição de Henrique - a idéia era apresentar uma candidatura que tivesse chance de ampliar a aliança e enfrentar o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), o ACM Neto, num possível segundo turno. “Na medida que isso funcionasse, o apoio fluiria normalmente.

O imprevisto foi que ACM Neto estagnou, ficou no limite do voto do carlismo”, afirma o professor Joviniano Neto, da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

O clima da campanha na capital começou a esquentar com o crescimento de Pinheiro nas pesquisas.

Henrique, que tinha o maior tempo de publicidade eleitoral gratuita na televisão, soube explorar bem as realizações na prefeitura (principalmente as grandes obras canalizadas por Geddel) e posicionou-se como candidato com chances de enfrentar ACM Neto.

Como Henrique e Pinheiro eram competitivos, a questão era definir qual deles chegaria ao segundo turno contra o DEM.

Para isso, os dois tentaram capitalizar a proximidade com Lula, o que elevou o tom da campanha.

O que não estava nos cálculos, nem do ministro da Integração Nacional, nem de Wagner, era um enfrentar o outro no segundo turno.

Espera-se que o tom na cidade fique cada vez mais tenso, comprometendo a aliança entre PT e PMDB na Bahia e ampliando a discórdia para o campo nacional.

Geddel está contrariado por não ter tido o apoio do PT na reeleição de Henrique e, mesmo ele que ganhe, prevê Joviniano Neto, a negociação entre Wagner e o PMDB no Estado ficará mais difícil. “É uma situação pouco produtiva, que torna as coisas mais difíceis para 2010.

O duelo verbal está muito forte e sempre fica um ressentimento do derrotado”, destaca Melo.

O professor do Ibmec vê também um favorecimento do governador de São Paulo, José Serra (possível candidato tucano a presidente), com o agravamento dos ânimos na Bahia. “É um centro de conflito que pode transbordar, tudo vai depender da neutralidade do presidente Lula.

Uma guerra na Bahia pode ser a gota d´água (para a aproximação do PMDB com o tucano).

Serra também está de olho neste latifúndio”, reitera.

O governador da Bahia, que participou timidamente da campanha de Pinheiro no primeiro turno - por ter três candidatos da base na disputa -, promete ser mais ativo na segunda etapa.

Wagner deve gravar mais programas para TV e pode participar de atividades de rua com o petista.

Mesmo com a participação de Wagner na campanha, a assessoria do governador avisa que, em nome da parceria que começou em 2006, ele não se deixará influenciar pelo clima agressivo da campanha. “Eles (Wagner e Geddel) têm se preservado muito e não vão entrar neste nível porque têm uma parceria”, reitera a assessoria.

Mesmo com a reconhecida capacidade articuladora de Wagner, Joviniano Neto lembra que Geddel sofre de “incontinência verbal”, o que torna o clima da campanha instável. “Agora é que vai esquentar”, acredita.

No entanto, afirma, os ressentimentos que sobrarem da disputa devem se restringir aos limites territoriais da Bahia, uma vez que o PMDB deve se dar por satisfeito com a neutralidade de Lula na campanha. “A eleição vai deixar marcas significativas, sim. É a primeira vez que o carlismo não chega ao segundo turno, o quadro mudou.

Tornou claro que a base do governo na Bahia tem dois grandes pólos: PT e PMDB.” Fonte: Agência Estado