*Por Túlio Velho Barreto, no JC de hoje Este é um primeiro esforço de análise das eleições majoritária de 2008 no Recife.
O tempo para reflexões foi curto e o espaço de um artigo é parco.
Para enfrentar o desafio, dividi o texto em três partes: os antecedentes, as campanhas, os resultados e seus significados. 1.
Em relação ao candidato situacionista, João da Costa, é preciso destacar que, como o PT está à frente dos poderes municipal e federal, e contribuiu decisivamente para eleger Eduardo Campos (PSB) em 2006, o partido não teve tanta dificuldade para montar um enorme palanque.
Assim, agregou aos aliados históricos legendas que não sobrevivem longe do poder.
Mas isso só foi possível depois que o prefeito João Paulo (PT) conseguiu impor seu candidato – sem dúvida, uma aposta dele – aos próprios petistas e ao governador.
Já a oposição à direita – Mendonça (DEM), Raul Henry (PMDB) e Cadoca (PSC) – foi maniqueísta e apostou na fórmula que deu certo para petistas e socialistas em 2006.
Ou seja, dividiu-se para viabilizar o segundo turno.
Esqueceu, no entanto, que por trás de Humberto Costa (PT) e Eduardo estava o presidente Lula, que disputava reeleição.
E que, agora, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) apoiava apenas um palanque, e não disputava eleição alguma.
Além disso, sendo estrela solitária do esvaziado PMDB, Jarbas não parece ser decisivo para eleger candidatos majoritários.
Já a oposição à esquerda – PSTU, P-Sol e PCB – também dividiu-se.
E, de certa forma, vê as eleições como meio para a construção partidária e não para a mudança social. 2.
Enfrentando o candidato de João Paulo, Eduardo e Lula, todos muito bem avaliados no Recife, a oposição não conseguiu encontrar o tom ideal da campanha.
E desde o início da disputa estava claro que o eleitor desejava a continuidade da gestão petista.
Daí, Mendonça prometer que ia “fazer mais e melhor”, o que implica em reconhecer o já feito.
E Raul Henry patinar entre a continuidade, também prometendo manter o que deu certo, e a novidade, traduzido pelo slogan “Por um novo Recife”.
Já Cadoca sequer conseguiu ter marca própria. “Recife para todos” foi mal copiado do “Brasil para todos”, de Lula, que tinha candidato no Recife e fez campanha para ele.
Então, se o eleitor desejava continuidade, se o prefeito, o governador e o presidente tinham candidato, se a oposição não mostrou disposição, não teve condições reais ou não encontrou o tom ideal para enfrentar a trinca de avalistas da candidatura oficial, e, por fim, se o debate foi o mais despolitizado dos últimos anos, centrado na competência administrativa e não em projetos políticos, o resultado não podia deixar de ser a vitória de João da Costa, um técnico e afilhado político do prefeito.
O que ocorreu a despeito da cassação em primeira instância de sua candidatura.
Assim, mesmo diplomado, Costa estará sub judice.
As conseqüências do pleito, portanto, ainda não estão totalmente claras. 3.
Não será necessário me referir ao capital eleitoral, representado pelos votos obtidos pelos candidatos, para tratar de vitoriosos e derrotados.
Mas, sim, analisar o capital político acumulado ou desperdiçado pelos principais atores.
Entre os primeiros, está, sem dúvida, João Paulo, que elegeu seu sucessor, um desconhecido, e logo no primeiro turno.
O que não é pouco.
Basta lembrar que Jarbas só conseguiu isso em 1996, com Roberto Magalhães (então PFL), um ex-governador com brilho próprio.
E Miguel Arraes nem isso.
Assim, João Paulo consolidou-se como principal nome do PT, pondo fim à disputa com Humberto e aliados, e, ao lado de Eduardo, como um dos dois principais líderes das “forças populares” do Estado.
Será candidato ao Senado, se Eduardo disputar a reeleição.
Mas pode embaralhar a sucessão.
Já Mendonça e Cadoca perderam capital político e tiveram desempenhos eleitorais inferiores ao esperado, enquanto Raul acumulou capital eleitoral e político.
Mendonça não agregou e perdeu a segunda eleição majoritária em dois anos.
E mais: em 2006, no Recife, obteve o dobro dos votos obtidos agora. É jovem, mas não mostra brilho próprio e a legenda não ajuda.
Cadoca perdeu a segunda majoritária, e para o mesmo cargo, após liderar ambas. É da geração que está deixando o centro da cena política.
Brigou com o padrinho político e não terá outro.
Dificilmente deixará de ser coadjuvante.
Já Raul, um quase desconhecido do eleitorado, disputou a primeira majoritária, veio de baixo e triplicou os votos.
Contou com Jarbas, é certo.
Mas não se sabe ainda se isso ajuda ou atrapalha, pois possuem perfis opostos.
Acumulou capital político e mostrou potencial para liderar a oposição local.
Mas o fato de estar em Brasília pode atrapalhá-lo.
Ainda teremos muito a analisar sobre as eleições 2008.
Até porque pouco foi dito pelos protagonistas.
Mas há uma certeza: a realização de imprevisível “terceiro turno”, que só findará quando o TSE decidir sobre todas as denúncias contra João da Costa. *Túlio Velho Barreto é cientista político.