Por Giovanni Sandes, do JC A partir das 11h de hoje, a 2.660 km de distância do Recife, começa um leilão que pode mudar a face da capital.

Em São Paulo, no endereço localizado no quilômetro 20 da Rodovia Raposo Tavares, são esperados em torno de dez investidores que disputarão, em um leilão milionário, um terreno de pouco mais de 100 mil metros quadrados.

O imóvel a ser leiloado ocupa praticamente todo o Cais José Estelita, no Recife, uma região que conecta a Zona Sul e a Zona Norte.

Do terreno, a vista é estonteante, e, por isso mesmo, quem trabalha com turismo torce para o arrematante da área destiná-la à atividade, renovando o setor na capital pernambucana. “Tudo o que se fizer ali vai deixar melhor do que está”, acredita o secretário de Turismo do Recife, Samuel Oliveira.

Para ele, a vocação turística do local é o grande atrativo do terreno, que vai a leilão com lances partindo de R$ 55,278 milhões. “Acredito que prefeitura e governo do Estado nem precisarão interferir bruscamente para direcionar o uso.

Até porque, se observar o mercado, ninguém faz um projeto imobiliário isoladamente”, emenda Oliveira.

O terreno pertence à Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), extinta através da Lei 11483/07.

O dinheiro servirá para ajudar a reduzir a dívida trabalhista da RFFSA, à época, em R$ 30 milhões.

O leilão está sendo promovido pela Caixa Econômica Federal (CEF), sob determinação da Secretaria do Patrimônio da União (SPU).

A nova versão do Plano Diretor do Recife, que está tramitando na Câmara dos Vereadores, contempla o Complexo Turístico-Cultural Recife-Olinda, que vai de Brasília Teimosa até o Sítio Histórico de Olinda.

Mas, embora o projeto do plano ainda não tenha sido aprovado, há um entendimento de que a área deve ter uma utilização de acordo com o que foi planejado para a região: um mix de serviços, imóveis e equipamentos turísticos.

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (ABIH-PE) e do Recife Convention & Visitors Bureau, José Otávio Meira Lins, o imóvel corresponde à última zona possível de expansão hoteleira, além de ser uma alternativa a novos projetos do mercado imobiliário, estrangulado em Boa Viagem. “Participamos ativamente da feitura do Complexo Recife-Olinda.

Demos a sugestão de que a área (no Cais José Estelita) fosse destinada ao crescimento do setor turístico-hoteleiro.

Obviamente, não sabemos o que o arrematante do terreno pretende, mas ele terá que submeter o projeto a algumas regras do município.

Não acredito que eles terão uma liberdade tão grande (de uso da área)”, opina José Otávio.

Na leitura do presidente da Associação Brasileira de Viagens (Abav), Jorge Sales, a incerteza sobre o destino do terreno indica que o poder público perdeu uma chance de garantir um grande projeto turístico. “Espero que seja (um projeto no setor).

Mas a gente não sabe se será um grupo vocacionado para o turismo.

Acho que o governo – Estado ou prefeitura – deveria ter comprado.

Fazia um píer grande, com parada de barco na frente.

Quem já foi a Miami sabe como ficaria lindo”, lamenta Sales.