Por Kátia Telles Semana final de campanha.
Depois de muito trabalho duro e noites mal dormidas que me deixaram com um extremo cansaço, resolvi passear um pouco.
Saí sem rumo, fui visitar a estátua de Manuel Bandeira na R. da Aurora e ele me alertou: “Recife Não a Veneza americana Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais Não o Recife dos Mascates Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois” Pensei nos sem-teto que são expulsos de seus locais de moradia, nos kombeiros que permanecem sem emprego após serem impedidos de trabalhar pela dupla Jarbas/ João Paulo.
Pensei que o Recife não é só a “Veneza Americana” mas a capital que ostenta o maior índice de desemprego do país.
Procurei apressar os passos, necessitava ir de metrô até Tejipió, onde amigos me esperavam, diante da Estação Central,Luiz Gonzaga me alertou: “Mas dotô uma esmola A um home qui é são Ou lhe mata de vergonha Ou vicia o cidadão” Lembrando do “velho Lua” recordei o governo LULA, que é muito generoso com os bancos, fazendo que estes tenham os maiores lucros da história (enquanto só querem conceder um ridículo reajuste aos seus funcionários) e contenta-se em “dar” um pequeno auxílio aos trabalhadores, esquecendo que o que todos necessitam é um emprego com um digno salário.
Chegando a Tejipió, andando pelas ruas não calçadas sem saneamento (como cerca de 70% do Recife), encontrei escolas degradadas , postos de saúde sem condições de funcionamento e juro que ouvi o vozeirão de Ascenso Ferreira: “Felizmente, à boca da noite, eu tinha uma velha que me contava histórias…
Lindas histórias do reino da Mãe-d’Água…
E me ensinava a tomar a bênção à lua nova .” Como erradicar o analfabetismo em uma cidade que praticamente não tem bibliotecas municipais?
Como exigir qualidade excepcional a um professor que trabalha até 16 horas por dia?
Como incentivar a prática de esportes se muitas escolas municipais não tem sequer uma quadra?
Como fazer delicioso o ato da leitura e do saber a um garoto que mora em um barraco?
Precisava ir para a Zona Norte, embarquei em um ônibus sujo e com passagem cara.
Observei vários alunos de escolas do bairro que não podiam pagar aquela preço e só andavam à pé.
Senti a dor das crianças que se arrastam por baixo da catraca de maneira humilhante. “O passe-livre deve ser implantado urgentemente para estudantes e desempregados” foi meu pensamento naquela ocasião.
No meio da viagem, vi empresários que saíam de uma reunião em apoio a um candidato de um partido da classe dominante.
Empresários que corriam para seus carros blindados por puro medo do contato com a realidade além das salas refrigeradas, aí ouvi um sussurro trazido pelo poeta Erikson Luna: “Vosso Scotch pode me sujar por dentro cachaça não vosso perfume pode me sujar por fora suor nunca porque sou suor a cachaça e a lama” Fiquei matutando, observando tantos meninos ao longo das avenidas.
Jovens que empunhavam bandeiras por R$ 10,00 o dia, sem direito a mais nada.
Bandeiras de candidatos que se aproveitam da miséria de nossa cidade para explorar a juventude… mas tive uma ponta de orgulho.
Orgulho do PSTU não se vender, não aceitar qualquer centavo dos empresários e ter uma militância aguerrida que luta por um mundo justo.
Eita ! já estou chegando em Casa Amarela ! passando em frente ao cemitério do bairro lembrei das palavras do coveiro na magistral obra de João Cabral: “parece que a gente que se enterra no de Casa Amarela está decidida a mudar-se toda para debaixo da terra.” Passando pela feira deparei com uma multidão de meninos e idosos que pedem esmolas, uma multidão à margem da disputa eleitoral e que aparece como simples estatística nos discursos dos “quatro da burguesia” (João da Costa/ Mendonça/ Raul/ Cadoca), alguns foram expulsos de suas casas e recebem um ridículo “auxílio-moradia”, outros tinham pequenas vendas que foram arruinadas pela falta de incentivo, incentivo que não falta para os empresários de ônibus e para as empresas de call center, que recebem grandes benefícios da prefeitura e pagam salários miseráveis aos seus funcionários.
Lembrei que estava chegando o dia 5 de outubro, o dia das eleições.
Passando em frente a sede de uma troça carnavalesca ,lembrei dos três milhões doados à Mangueira, enquanto aquele lugar estava praticamente em ruínas, E não pude deixar de gritar, no meio da rua, embriagada de Recife como Solano Trindade: “Na minh’alma ficou o samba o batuque o bamboleio e o desejo de libertação.” Dia 5 de outubro, os recifenses vão escolher seu prefeito. É preciso refletir que a luta vai muito além das eleições. È muito maior que qualquer eleição. É muito maior do que qualquer debate na “poderosa” TV GLOBO (que foi homenageada por João Paulo e nos excluiu de seu debate ).
Nós do PSTU estaremos nos beijaços, nas ocupações, nas greves, nas passeatas e onde houver luta em cada canto dessa cidade; independente do resultado das eleições.
Para nós, só a luta que muda a vida.
Finalizei meu passeio ouvindo uma voz distante que falava aos trabalhadores, aos trabalhadores que merecem governar essa cidade, aos que são oprimidos, discriminados e estão cansados de ouvir as mesmas promessas dos que governam nosso município há décadas.
Essa voz vinha da Espanha, era a potente voz de Miguel de Cervantes, que me disse assim: “Sonhar mais um sonho impossível Lutar quando é fácil ceder Vencer o inimigo invencível Negar quando a regra é vender” PS: Um fraternal abraço a todos os que leram nossas parcas linhas aqui no Blog de Jamildo.
Aos que criticaram, aos que conosco sonharam, até aos que foram rudes, a certeza que uma vida melhor se constrói no cotidiano.Liguem pro PSTU-PE: 32222549