Por Roberto Numeriano O artigo do candidato do PSOL, sr.
Edilson Silva, postado no dia 29 último, rebate nossa crítica política com argumentos distorcidos e até inverdades sobre palavras que proferi em palestra para educadores e assistentes sociais, no salão do Movimento dos Trabalhadores Cristãos.
Não é uma boa tática combater idéias atribuindo mentiras a terceiros.
Mas esta é até uma questão secundária em relação ao “conjunto da obra” do autor, um arrazoado típico de quem pretende possuir a verdade revelada ou a pedra filosofal para as mazelas do Recife.
Vamos aos fatos.
O PCB também possui o seu programa de governo para o Recife, disponível no endereço www.robertonumeriano21.can.br. É produto de uma discussão coletiva, aberta, de militantes e técnicos da sociedade civil.
Trata-se de uma proposta de gestão racional, que incorpora processos de emancipação popular (na perspectiva de uma democracia de corte substancial), e de distribuição / socialização do poder político e econômico (no sentido de quebrar a lógica dessa institucionalidade liberal que concentra poderes no Executivo e na Câmara de Vereadores).
Nós estamos na disputa com essa perspectiva, também, e não apenas para fazer, como alegou o candidato do PSOL, “mera propaganda do socialismo” ou “atacar o sistema capitalista”. “Mera propaganda do socialismo”, caro Edilson?
Desde quando combater, também em termos político-ideológicos, pelo socialismo, é fazer “mera propaganda”?
Desde quando não devemos combater os sistemas social e econômico capitalista, dentro de um processo eleitoral?
Se o PSOL esgota a sua luta na perspectiva político-eleitoral, siga em frente, mas não aceitamos suas receitas “táticas”.
Aqui, esclareço uma abordagem falsa a respeito do que eu disse para os educadores e assistentes sociais (aliás, se eu tivesse dito para eles o que o sr.
Edilson afirma em seu artigo, decerto eu teria sido apupado pelos profissionais).
Eu chamei esse trabalho de sagrado e disse que ele é inócuo se, ao mesmo tempo, não incorporar uma crítica desse modelo de sociedade capitalista. É claro que eles assim fazem, e todos sabemos que não precisam se filiar a qualquer partido de (ou dito) de esquerda.
Temos humildade de reconhecer esse e outros trabalhos, mas não somos demagogos de esquerda.
Exercemos nossa pedagogia política disseminando o ideal socialista, antes que projetos e comportamentos políticos messiânicos.
Caro Edilson, a grande Rosa Luxemburgo morreu, assassinada no processo de ascensão nazi-fascista, sem ver alguns dos seus postulados colocados à prova.
Não há espaço aqui para esse debate, mas é bom registrar que recorrer ao tradicional argumento de autoridade é uma das saídas típicas de quem supõe saber a verdade, ainda que pela voz de terceiros.
Se Rosa Luxemburgo vivesse para ver o que houve na Europa nas décadas de 30 e 40, decerto mudaria alguns pontos de vista na polêmica entre reforma e revolução.
Outra coisa: o fato de uma pessoa ter escrito uma tese política não significa que tenha “resolvido estruturalmente” uma polêmica.
Pelo que me consta, Rosa foi uma das grandes teóricas marxistas, e por isso mesmo tinha um pensamento dialético.
Por último, a falácia maior do seu argumento.
A peça acusatória do juiz Nilson Nery foi montada a partir do que foi apurado nos computadores de funcionários da secretaria da Educação.
Não precisa ficar “preocupado” conosco, pois nós do PCB não nos preocupamos, por exemplo, com o fato de o sr. ter aparecido no guia eleitoral com candidatos da oposição de direita em Pernambuco.
Não isentamos ninguém, mas também não abordamos o episódio demagogicamente.
Não vamos imitar o PT dos primórdios, nem tampouco o PSOL do presente.
Dei e mantenho minha nota 7,0 à gestão do sr.
João Paulo.
Trata-se de um grau regular.
Coincidência ou não, dias depois que eu disse essa nota, pesquisa de opinião (acho que do DataFolha), registrou que a nota média do recifense sobre a gestão atual é 7,2.
Pelo jeito, eu até sou mais oposicionista, não?
E disse ainda que, para evitar a volta da direita ao poder, poderíamos apoiar o PT em um eventual segundo turno.
Caro Edilson, eu já vi o filme que o PSOL quer rodar, agora pela voz da senhora Heloísa Helena.
Não somos talibãs do socialismo, já ultrapassamos o esquerdismo típico do comportamento de afirmação de agremiações políticas que estão debutando na cena política brasileira.
Sabemos e reconhecemos que, sob certas condições, restam-nos integrar alianças que não são ideais do ponto de vista político-ideológico, mas são menos problemáticas do que o capital da multinacional Gerdau financiando campanha do PSOL (R$ 100.000,00), em Porto Alegre.
E agora?
Se o PSOL julgar ser possível o “assalto aos céus” na linha preconizada pelo PT dos velhos tempos (anos 80 e 90), mantenha-se firme nessa pisada.
O PSOL precisa matar ritualmente o seu pai biológico, ou seja, o PT.
Mas o problema é que o seu DNA é petista.
Daí o mesmo comportamento de afirmação, daí o mesmo proselitismo em torno da ética (são os novos paladinos da moralidade republicana), daí a mesma verborragia radical.
Em muitos aspectos, o PT é uma farsa socialista no poder.
Parece-me que o PSOL poderá ser, para repetir a história, uma tragédia.
PS: Roberto Numeriano é candidato do PCB à Prefeitura do Recife.