O Brasil tem de aproveitar o momento da crise para retomar a agenda das principais reformas estruturais, como a tributária, de modo a se tornar mais competitivo e não depender da evolução da economia mundial para garantir o seu próprio crescimento.

A avaliação foi feita nesta terça-feira, 30 de setembro, pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, durante a cerimônia de entrega da Medalha do Conhecimento 2008, em Brasília.

O empresário disse ainda que o Brasil tem força para enfrentar a crise, mas deverá ter uma redução do crescimento do PIB no ano que vem. “Vamos aproveitar a crise para o Brasil retomar uma agenda que perdemos, para fazer o dever de casa em vez de ficar sempre imaginando que o cenário externo será muito benigno, favorável como foi nos últimos”, avaliou Monteiro Neto.

Segundo ele, o crescimento econômico deste ano deverá ser de 5%, aproximadamente. “Mas vai haver desaceleração em 2009.

Em que nível ninguém pode prever”, ressaltou.

Monteiro Neto disse que a CNI prevê um crescimento da economia entre 3,5% e 4% no ano que vem, mesmo patamar em que deve ficar o PIB industrial. “A CNI já projetava um crescimento menor mesmo antes desse pico da crise”, salientou.

De acordo com o presidente da CNI, o governo deve ficar atento para tomar as medidas necessárias para estancar a crise e amenizar seus reflexos. “Temos uma série de instrumentos de crédito, financiamento, desburocratização, de desonerações que podem ser promovidas. É uma agenda extensa”, disse.

Ele lembrou que é preciso atuar para manter as exportações, que tinham queda nos volumes embarcados antes do início da crise. “É uma agenda que precisa de atenção permanente, porque as exportações representam para o Brasil uma opção estratégica.

O país não pode perder participação no comércio mundial”, argumentou.

Monteiro Neto informou que as empresas industriais já estão sentindo os efeitos da crise, sobretudo em relação a linhas de financiamento.

Segundo ele, esses reflexos são para todos os setores industriais.

Por isso, o presidente da CNI defendeu que o governo reduza, por exemplo, os compulsórios bancários (recolhimento obrigatório de parte dos recursos poupados nos bancos), tanto para os depósitos à vista quanto para os a prazo. “Vamos ter mais recursos para financiamento”, disse, ao lembrar que as empresas já estão pagando juros mais altos e que os bancos aumentaram os spreads (diferença entre o valor de captação do dinheiro e o preço cobrado do tomador).

O ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, disse, durante a entrega da Medalha do Conhecimento 2008, que o governo está elaborando medidas para dar mais linhas de crédito ao exportador brasileiro.

Segundo ele, as propostas serão entregues ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva semana que vem.

Miguel Jorge disse que é uma prevenção para que, num eventual agravamento da crise, os instrumentos de crédito já estejam prontos.

Segundo o ministro, as medidas podem envolver mais recursos para o PROEX, mais dinheiro para os Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACCs) e mesmo mais recursos para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Para ele, essas são as medidas óbvias. “Mas precisamos, num momento como esse, ter criatividade”, afirmou.

Miguel Jorge lembrou que mais da metade das exportações brasileiras são financiadas, por isso as linhas de crédito para os exportadores não podem secar.

O vice-presidente da República, José Alencar, que também participou da cerimônia de entrega da Medalha do Conhecimento 2008, afirmou que entre as medidas necessárias para o país enfrentar a crise financeira internacional está o fortalecimento do BNDES. “Ele é um banco raro.

São poucos os bancos que têm seus recursos e estão emprestando dinheiro a 6,25% ao ano”, disse o vice-presidente.

Alencar afirmou que o Brasil tem condições excepcionais de atravessar a crise, mas, para garantir boas condições durante a turbulência, precisa fortalecer seu mercado interno e não deixar faltar recursos para financiar as exportações e também a produção interna.

Com informações da CNI