A casa de vidro do PCB Por Edilson Silva Caros colegas do PCB, de forma alguma quero numa disputa eleitoral tão acirrada, em que coalizões conservadoras e as velhas direitas disputam o imaginário da população, tratar de diferenças entre atores que se esforçam para manter programas e estratégias de esquerda na pauta da sociedade.
No entanto, já é a segunda vez que vocês dedicam artigo neste espaço para criticar nossa candidatura e nosso partido.
Nosso silêncio seria compreendido como aceitação de seus pontos de vista equivocados, por isso, pedimos licença para fazer algumas observações e discordar de suas posições.
Nossa crítica é fraternal.
Primeiramente, orientamos vocês à leitura de nosso programa de governo para a prefeitura do Recife.
Sim, nós temos um programa de governo para administrar a cidade do Recife.
Não entramos na disputa para fazer mera propaganda do socialismo e atacar o sistema capitalista, ou para agir como sindicalistas, apresentando pautas de reivindicações para algumas categorias.
Estamos trabalhando sobre um programa alternativo, baseado na radicalização da democracia e da participação popular e controle social, prioridade para a estruturação de saídas para as demandas das periferias e também para colocar o tema ambiental na agenda da cidade.
Ou seja, um programa de governo de esquerda.
Acreditamos que a matéria-prima fundamental da sociedade socialista serão seres humanos capazes de exercitar a solidariedade, com forte formação humanística, e por isso temos a obrigação de lutar com todas as forças contra a desumanização de nossa espécie, imposta pelo forte processo de exclusão social que vivemos.
Numeriano equivocou-se quando disse a assistentes sociais que seus trabalhos com meninos de/na rua eram inócuos.
Não, não são inócuos.
São nobres e estratégicos para a construção de uma sociedade solidária.
Aqueles e aquelas assistentes sociais, talvez até não tenham a consciência comunista de seu agrado, mas fazem muito mais pelo socialismo do que muitos comunistas de carteirinha que conheço.
Quem sabe não sejam gramscianos convictos?
Os comunistas, a meu ver, deveriam ter a humildade de reconhecer isto e tentar construir pontes, para que todos juntos consigamos ligar nossas consciências imediatas com nossas consciências históricas.
Este sim é um bom desafio político.
O artigo assinado por seu candidato nos remete às polêmicas da social-democracia européia do início do século passado.
Em minha opinião, a polêmica já foi estruturalmente resolvida por Rosa Luxemburgo.
As reformas são partes permanentes da luta política dos socialistas.
Cerca de um século depois, a história se mostrou generosa com Rosa, e infelizmente, muita gente ainda não aprendeu a lição.
Mas o que mais me preocupou no artigo foi a forma como foi tratado o crime cometido pelo prefeiturável oficial.
Seu texto começa assim: “As denúncias de uso da máquina pública por afiliados petistas e funcionários da Prefeitura do Recife em prol do candidato do PT…”.
Ou seja, o artigo é aberto isentando o prefeiturável petista de ter utilizado a máquina pública.
Foram funcionários, não ele.
A mesma tese dos advogados de João da Costa.
Mas, a essência do texto está em consonância com as palavras do candidato do PCB em entrevista na Rádio Jornal no início da campanha, em que este deu nota 7 (sete) à administração de João Paulo e colocou que seu objetivo nas eleições era combater as forças de direita, e ainda disse que apoiaria João da Costa num eventual segundo turno.
Também está em consonância com o fato do PCB ter cargos de confiança na administração municipal, o que lhe impediria também de fazer uma conseqüente oposição à atual administração e a seu candidato oficial.
Por fim, está em consonância com o fato do PCB estar apoiando formalmente o PT de André Campos e Carlos Wilson em Jaboatão, Sergio Leite com Nena Cabral em Paulista, e também estar como coadjuvante do PT em quase todo o Brasil.
A candidatura própria em Recife é uma exceção na tática eleitoral do PCB, que está em outros municípios aliados com os maiores sustentadores do sistema capitalista que tanto critica.
O PSOL está enfrentando a suposta supremacia petista e as velhas oligarquias em 22 capitais do país e em mais de 400 municípios brasileiros.
Em Pernambuco, estamos enfrentando estas forças em Petrolina, Garanhuns, Palmares e na maioria das cidades da região metropolitana.
Ou seja, não estamos somente no discurso, estamos agindo por um país melhor e uma sociedade com justiça social.
Definitivamente, não estamos com discurso moralista.
Ou não podemos mais falar em ética na política?
Ou temos que nos resignar com a roubalheira generalizada que tomou conta da política e das gestões públicas no Brasil?
De minha parte não me sinto e não quero ser nenhuma virgem da moralidade, mas também não estou enturmado na prostituição reinante na política brasileira.
Para nós, a luta pela ética na política continua sendo uma bandeira da esquerda.
Portanto, na posição do PCB é realmente impossível fazer oposição à atual gestão municipal em Recife, pois, neste caso, o partido tem o telhado, as paredes e inclusive o chão de vidro, daquele bem fininho.
Isto não é novo para nós, mas sinceramente, não achávamos que esta condição se converteria em ataques ao nosso projeto.
Um forte abraço a todos os camaradas.
PS: Presidente do PSOL/PE e candidato à prefeitura do Recife*