Por Roberto Numeriano As denúncias de uso da máquina pública por afiliados petistas e funcionários da Prefeitura do Recife em prol do candidato do PT, João da Costa, despertaram um debate acirrado entre PMDB, DEM, PSOL, PSC e PT.

Sem entrar no mérito do julgamento, observamos como esses partidos esperneiam e se apresentam como paladinos da moralidade político-eleitoral.

São como as virgens dos oráculos da Antigüidade, encarregadas de purificar o ambiente.

Devagar com esse andor, que esses telhados são de vidro.

Poderíamos relacionar aqui exemplos de práticas políticas nada puras de todos esses quatro partidos que se engalfinham, em termos do que pregam e (não) praticam.

Política pequena, vícios gigantes.

Leviandades, mentiras, manobras, debates estéreis, vaidades, falsas indignações, tudo é uma mistura de engodo e mistificação que explica em parte o porquê de o conceito da maioria dos brasileiros ser negativo a respeito dos políticos. É preciso discutir e expor o Recife real, de pessoas reais e misérias reais.

Realidades essas que o PCB expõe no Guia de Rádio e TV, além dos debates e entrevistas, panfletagens e reuniões com comunidades.

Ao mesmo tempo, é preciso fazer a crítica desse modelo de sociedade que estrutura a miséria e a exploração do homem, desumanizando-o.

Qualquer partido que se julgue (ou afirme), socialista e/ou de esquerda, não pode, ainda que nos termos dessa institucionalidade liberal de gestão, apresentar suas propostas e programas sem fazer a crítica político-ideológica dos sistemas político, econômico e social que estruturam e explicam a degradação do Recife, sua pobreza, sua exclusão, seu medo e violência.

Semana passada, em palestra para educadores e assistentes sociais, elogiei o trabalho sagrado desses profissionais que tentam resgatar das ruas do Recife os meninos e adolescentes, mas disse que o efeito dessa ação é inócuo se, em paralelo, eles não elaborarem uma crítica socialista do nosso modelo de sociedade capitalista.

Não é o que vemos, à exceção do PCB e do PSTU.

E por quê?

Porque, efetivamente, observamos que o PT (e apenas em tese coloco aqui este partido como de esquerda) e o PSOL colocam-se como antagônicos no discurso.

Nenhum deles aponta uma ruptura daquela institucionalidade liberal de gestão a partir de propostas que se fundamentem em novos tipos de intervenção política e social de movimentos e entidades sociais e de massa.

Se o PT repete no discurso e na prática a velha política de corte liberal que não emancipa o homem e não institui a cidadania, o PSOL embarca, para fazer contraponto como uma “alternativa de esquerda” ao petismo, no discurso do oposicionismo político em tudo semelhante ao PT quando fora do poder.

Lembro que, já nos anos 80, era típico do petismo criticar asperamente os comunistas que trabalhavam a articulação de frentes de esquerda para consolidar a democratização em curso.

E nem se importavam em levar água para o moinho dos reacionários da época, dentro e de fora do Congresso.

Parece-nos que o PSOL, guardadas as proporções de tempo e de contexto político, repete esse comportamento.

Daí não nos surpreender como o PMDB, DEM, PSOL, PSC e PT guerrearam no episódio da cassação como caranguejos em panela de água fervente.

Somado tanto palavreado, suspense e gritos, perderam o eleitor recifense e a Justiça, emulada demagogicamente por uns, achincalhada sem razão por outros.

Essa é a lógica da política como ela tem sido no Brasil, em Pernambuco e no Recife: um desfile de arrogâncias, vaidades, complexos de superioridade, mitos e mistificação.

Uma política que nivela em um mesmo nível de pobreza o debate político-ideológico, e que bloqueia as propostas de construção de um governo popular para romper progressivamente com essa ordem estreita de gestão liberal, à esquerda e à direita.

Para nós que um dia seremos velhos, essa política mistificadora não reflete o Recife e seu povo de carne, ossos e sonhos.

Até quando o recifense será mistificado, caberá à história dizer, e para tanto não precisará convocar as virgens vestais da moralidade.

Roberto Numeriano é candidato do PCB à Prefeitura da Cidade do Recife.