Larissa Alencar, de Política/JC Para o juiz Nilson Nery, das Investigações Judiciais do Recife, as declarações depreciativas do governador Eduardo Campos (PSB) sobre a sentença que cassou a candidatura de João da Costa (PT) ficaram no passado.
Ontem, após ler nos jornais o que considerou uma nova postura do governador, o juiz afirmou estar “mais tranqüilo” e comentou, pela primeira vez, a polêmica com o chefe do Executivo Estadual. “O governador reconheceu que tem que respeitar o Judiciário como um Poder autônomo.
Não tem porque um Poder invadir a esfera do outro, eles têm que viver em harmonia”, avaliou.
E reforçou a posição da Associação dos Magistrados de Pernambuco (Amepe) ao afirmar que quem tem que decidir ou não se reforma a sua sentença de cassação, em primeira instância, de João da Costa é o Tribunal Regional Eleitoral (TRE). “Se alguém tem que emitir juízo de valor sobre a minha sentença, que tem 32 páginas, é o TRE, não um político”.
O mal-estar entre o magistrado que decidiu pela inelegibilidade do candidato petista e o governador começou com uma entrevista concedida por Eduardo criticando a sentença de Nilson Nery.
Na última quinta-feira, durante ato de campanha em Belo Horizonte, Eduardo Campos qualificou como “não fundamentado” e “frágil” o veredicto do juiz.
Na sexta, em resposta, a Amepe divulgou uma nota em solidariedade a Nilson Nery. “As decisões judiciais - certas ou equivocadas - devem ser questionadas pela via recursal própria, perante instância superior e jamais desqualificadas publicamente, principalmente, por representantes de um dos Poderes da República, porquanto em um estado democrático de direito é fundamental que sejam respeitadas a independência e a harmonia entre os Poderes”, dizia o texto.
Já no Recife, Eduardo procurou colocar panos quentes na controvérsia.
Disse defender um Judiciário “forte e independente” e respeitar tanto a Associação quanto a decisão.
Mas lembrou que “o ato de julgar não é um ato que cabe só a uma instância” e enfatizou que o povo é o “grande juiz” da sociedade.
DECISÃO Nilson Nery aguarda apenas o pronunciamento dos advogados da campanha do PT para encaminhar o processo que resultou na cassação de João da Costa ao TRE.
Eles têm até amanhã para apresentar a defesa do prefeito João Paulo (PT).
O prefeito foi absolvido da acusação de uso da máquina em favor de seu candidato, mas a promotora Andrea Nunes recorreu da sentença.
Na última sexta à noite, Andrea Nunes também apresentou as contra-razões ao recurso que questiona a decisão do juiz de anular a candidatura de João da Costa.
Não há prazo para que o processo seja julgado no TRE, mas a expectativa é de que isso não ocorra antes da eleição.