Por Edilson Silva O presidente do PT-PE, Jorge Perez, assinou e divulgou uma nota no dia de ontem, 25/09, em que acusa o PSOL de fazer parte de uma armação junto com partidos de direita para impedir a democracia nas eleições municipais, razão pela qual sentimo-nos no dever de responder-lhe prontamente.

Em primeiro lugar, Perez se esqueceu de citar que o candidato João da Costa teve seu registro cassado por decisão judicial, após denúncia investigada e acatada pelo Ministério Público Eleitoral e após análise de laudos periciais muito contundentes e conclusivos realizados pela Polícia Federal.

O candidato do PT foi condenado e teve sua candidatura cassada por ter cometido crime eleitoral.

Diferentemente da maioria de nossa população, que não tem acesso aos recursos jurídicos para postergar a observância da Lei, os ricos e demais portadores de colarinho branco, como o candidato condenado, podem adiar as penalidades, recorrendo às instâncias superiores, como o fez João da Costa.

O candidato da prefeitura, portanto, pode ser chamado de candidato condenado por crime eleitoral.

Estes são os fatos objetivos estabelecidos pela realidade.

A fraseologia de Perez, recheada de ideologismos com cor e cheiro de fumaça, não passa de mera retórica para desavisados e para aqueles que querem enganar-se propositalmente.

Estabelecidos os fatos, vamos ao conteúdo mágico da referida nota.

Direita e Esquerda, na visão de Perez, são categorias imutáveis para alguns e mutáveis para outros.

Obviamente, isto não é dialética, mas o exercício do mais puro e baixo oportunismo político.

Para os petistas, independente do que façam no poder e com quem estejam no poder, o PT continua sendo de esquerda.

Para não sermos tão anti-científicos como Perez, e sair soltando fumaça por aí, vamos à raiz dos conceitos.

Do ponto de vista histórico, o termo ou conceito “direita” surgiu com os membros da nobreza e do clero que, nas reuniões dos Conselhos de Estados, na França do século 18, sentavam-se à direita do Rei Luis 16.

A nobreza e o clero defendiam a conservação da ordem econômica, política e social numa França às portas da revolução que mudaria o mundo. À esquerda do rei, nas mesmas reuniões, sentavam-se os membros da burguesia, revolucionários à época, e que defendiam outra ordem, inclusive o desaparecimento da nobreza e do clero como tais.

O final da história todos conhecem, inclusive os detalhes das guilhotinas.

Do ponto de vista da ciência histórica, que Perez e seu PT parecem ter abandonado, esquerda e direita são categorias políticas, podendo sim um segmento transitar de um lado para outro, dependendo da realidade presente.

A burguesia, em princípio revoltosa e revolucionária, progressista, de esquerda enfim, com o caminhar do desenvolvimento das forças produtivas acabou tornando-se reacionária, conservadora, com setores inteiros desta entregues ao mais puro parasitismo, como os nobres e o clero de outrora.

Para tentar enquadrar o “PT no poder” na categoria de esquerda ou direita não vamos exigir-lhe o ímpeto e o espírito revolucionário da burguesia francesa do século 18.

Aliás, eles adoram quando alguém lhes exige atitudes “radicais demais”, pois assim podem exercitar a tese do governo possível, da correlação de forças desfavorável para se causar rupturas, afirmando que o máximo que se pode fazer é passar um batom rouge nos lábios do paradigma neoliberal, batom da grife Bolsa-Família.

Vamos tentar enquadrar o “PT no poder” a partir de uma postura minimamente progressista em relação aos nossos principais problemas contemporâneos, e que o PSOL acha que são os principais a serem enfrentados.

Estão combatendo o latifúndio pré-capitalista ainda existente no Brasil, avançando na reforma agrária?

Não.

Estão combatendo a destruição da Amazônia e cuidando da maior reserva biotecnológica do mundo?

Segundo Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, não.

Estão ampliando os direitos da maioria da população, como os trabalhistas, sociais e previdenciários?

Não, pelo contrário, estão tirando-os gradativamente.

Estão distribuindo melhor a renda do país?

Não, aumentaram as migalhas dos miseráveis com o Bolsa-Família (R$ 10 Bi/ano), mas aumentou ainda mais a transferência de renda aos mais ricos da sociedade, podendo fechar seus oito anos de governo federal repassando nada menos que R$ 1 trilhão aos parasitas do setor financeiro.

Estão combatendo o monopólio das comunicações, abrindo espaços para a comunicação alternativa e comunitária?

Não, a repressão continua firme e forte com os pequenos.

Estão combatendo a corrupção que sempre caracterizou os governos anteriores?

Não, vide mensalão e outras maracutaias de domínio público.

Algum espertinho pode dizer que no governo Lula as parcelas oprimidas da população têm espaço.

Balela pura.

As secretarias que abrigam estas demandas servem tão somente para acomodar e cooptar ex-lideranças dos negros, mulheres, GLBTS e outros.

Não há recursos para programas que efetivem políticas públicas eficientes.

A essência do “PT no poder” explica com facilidade por que figuras como Sarney, Jader Barbalho, Romero Jucá, Inocêncio Oliveira, Maluf, Severino Cavalcanti, José Múcio Monteiro e tantas outras figuras clássicas da velha Direita, sentem-se tão à vontade no governo do PT.

Em essência, “tudo continua como d’antes no quartel de Abrantes”.

Por falar nisso, José Múcio anda pelo interior do estado falando em nome de Lula e apoiando candidaturas do DEM e do PSDB, contra candidatos do PT.

Outro ministro de Lula está desembarcando na cidade de João Alfredo, para fortalecer a candidatura de Severino Cavalcanti. É a esquerda em ação!

Um outro espertinho poderia afirmar que João Paulo é diferente do governo federal.

Será?

Quem fez parceria política por seis anos com o governo truculento de Jarbas/Mendonça?

Não falo de parceria administrativa, mas de política, para varrer o transporte alternativo sem dar-lhes chance de regulamentação organizada; para massacrar jovens que protestavam contra o aumento das passagens nas ruas.

O governo do PT em Recife conta com a velha direita em seu primeiro escalão.

Os casos de corrupção são públicos, como o FINATEC e outras fundações, além da utilização da máquina pública descoberta agora.

Setores empresariais como empreiteiras e de transporte de passageiros estão acima dos governos, mandando na cidade, conseguindo até imorais isenções fiscais que oneram os cofres públicos em mais de R$ 12 milhões/ano.

Além disso, a gestão petista conta com um jornal de grande circulação que vem funcionando como verdadeiro panfleto da campanha do candidato oficial.

Portanto, as gestões petistas vem se comportando de forma essencialmente conservadora, reacionária.

Se quisermos ser um pouco generosos, são de centro-direita.

O PSOL, como partido de esquerda e popular, está cumprindo seu papel de oposição à gestão municipal.

Agora, se o PT não conseguiu levar o DEM, o PSDB e o PMDB para seus governos locais, como o fizeram em várias outras cidades e até no próprio governo federal, a culpa não é nossa.

Faltou “habilidade” local.

Por fim, seria muita irresponsabilidade do PSOL deixar a bandeira da ética nestas eleições exclusivamente nas mãos do DEM.

Seria o fim da picada, o fim da ética na política.

Podemos ser pobres e ter pouca estrutura, mas a burrice não graça em nós.

Presidente do PSOL/PE e candidato à prefeitura do Recife