Por Mônica Valentim, em https://monicavalentim.blogspot.com/ Nunca havia acompanhado tão de perto os movimentos da política como neste ano.

Como muitos brasileiros, quando começavam os guias eleitorais, ou desligava a TV, ou mudava imediatamente para algum canal pago.

Buscava informações sobre meus candidatos no meu tempo e do meu modo, e rejeitava qualquer forma imposta de conhecer os personagens das eleições.

Por estar indiretamente envolvida com o processo eleitoral, ando ligada em tudo que tem acontecido na mídia.

Espero os guias eleitorais como se fosse mais um capítulo da novela que não posso perder.

Leio cada postagem e respectivos comentários dos blogs de política.

Acompanho as manchetes dos jornais.

Refiro-me com intimidade aos candidatos de uma cidade que não é nem aquela onde nasci, tampouco aquela em que moro.

E, para minha surpresa, tem sido bem mais interessante do que eu imaginava que pudesse ser.

Toda situação, para mim, é uma oportunidade de aprendizado e de observação da natureza humana.

Minha experiência aqui não tem sido diferente: as paixões que se revelam na militância, as motivações, os apegos…

Há um vasto material para ser discutido quando o assunto é algo que não se discute – política.

O processo eleitoral no Recife tem sido emocionante.

O candidato do PT, João da Costa, ocupava o segundo lugar antes de começar a propaganda eleitoral gratuita.

Depois que apareceu sendo apoiado pelo atual prefeito, pelo governador e pelo presidente da República, começou a crescer em intenções de voto e deixou pra trás o candidato Mendonça Filho, do DEM, que estava na liderança.

A maioria dos pernambucanos tem um orgulho inocultável de seu conterrâneo pobre que começou como metalúrgico e chegou ao mais alto posto do comando nacional.

No mote dessa aprovação e da boa avaliação que os eleitores fazem do atual governo municipal e estadual, espalhou-se o temor de perder benefícios concedidos pelo governo federal – fato que o povo, em sua ingenuidade, desconhece.

Assim, o secretário do prefeito chegou a ter mais do dobro de intenções de voto do segundo colocado.

O que parecia já decidido, e que indicava a vitória de João da Costa no primeiro turno em sua primeira candidatura, sofreu uma reviravolta ontem à tarde.

Com base em denúncia apresentada pelo Ministério Público, o juiz eleitoral pediu a cassação do registro do candidato do prefeito e sua inelegibilidade por três anos.

Seus advogados irão recorrer da sentença.

O que irá acontecer, daqui pra frente, só Deus sabe, mas os fatos são muito contundentes: a Prefeitura da Cidade do Recife virou um comitê de campanha do PT, onde os funcionários eram convocados para comícios e obrigados a distribuir panfletos.

A coisa era tão organizada que até emoticons para usar no MSN eram disponibilizados.

O que mais tem me chamado a atenção nessa situação são os comentários deixados nos blogs de política.

A paixão pelo partido e pelo candidato produz uma cegueira que impede que se veja o crime eleitoral que foi cometido e só se enxergue a utilização dessa bomba pelos adversários. É claro que a oposição vai utilizar amplamente esse material.

Mas a corrupção da ética situa-se no passo anterior.

Os eleitores do candidato cassado alegam que é desejo do povo do Recife ter João da Costa no poder e a decisão do juiz avilta contra a soberania da vontade dos cidadãos.

Ora, a vontade do povo está sujeita a leis.

Por mais que eu queira matar alguém por quem nutra ódio incontrolável, não posso fazê-lo porque a lei me impede.

Quando o Sr.

Antônio Nardoni passou a mão na cabeça do filho que assassinou sua própria neta, o Brasil ficou indignado, e com razão.

Com igual amor ao partido, querem passar a mão na cabeça do candidato que errou (seja lá por incentivar ou por permitir que fizessem propaganda sua utilizando dinheiro público).

Talvez eu tenha votado no Lula mais vezes do que qualquer pernambucano, já que sua primeira candidatura foi ao governo do Estado de São Paulo, quando votei pela primeira vez em 1982.

Acreditei no PT, esperei por sua vitória durante anos a fio.

Comemorei com emoção a posse de Lula na presidência da República.

Quando era funcionária do Banco do Brasil, como muitos outros, votei confiante em Gushiken.

Senti uma tristeza lacerante a cada escândalo descoberto e ainda me entristeço quando vejo mais coisas assim acontecerem.

Por maior que tenha sido minha crença e meu amor ao partido, não estamos tratando de um jogo de futebol – outro assunto que não se discute.

Recife pode virar um exemplo para o país a partir desse episódio.

Peço a Deus que dê discernimento para todos os eleitores deste país.

Que as eleições pelo Brasil afora sejam calcadas na ética e na justiça, e não no apego a idéias, a paixões ou a bandeiras de partidos.

Uns torcem pelo partido.

Outros pelo candidato.

Eu torço pelo Brasil.

PS: Tenho lido seu blog diariamente, acompanhando cada detalhe do desenrolar do processo eleitoral no Recife.

Parabéns pela agilidade, pela qualidade das informações, pela isenção.