Por Kátia Telles-PSTU No dia 29 de setembro do corrente mês, lembraremos um século da morte de Machado de Assis,o maior escritor brasileiro.
Preto, pobre, gago e epiléptico, Machado não seguiu o triste destino que parecia reservado para ele e transformou-se em um dos ícones da literatura mundial.
Esse ano teremos também outra data a registrar.
Completaremos oito anos de gestão petista no Recife ,uma gestão que começou sob o olhar da esperança e termina como um marco de opressão aos trabalhadores além de ser responsável pelo desmantelamento da educação pública.
João Paulo, assim como Machado de Assis, tem origem humilde.
O escritor, filho de pintor de paredes, o político, filho de um cobrador de ônibus; mas enquanto o primeiro é motivo de orgulho pelo que fez (e faz) pelas letras,o segundo colaborou para que Recife seja considerada uma das cidades que tem o pior ensino do Brasil.
No romance machadiano Memórias Póstumas de Brás Cubas há o relato de um escravo que, depois de anos apanhando e sendo humilhado por seus senhores , é surpreendido pelo protagonista quando xingava e batia em outro negro da mesma forma que faziam com ele. É a mesma história do nosso prefeito e do próprio PT, antes cotidianamente ao lado dos trabalhadores e hoje demitindo dirigentes sindicais que denunciam as escolas sucateadas do município (como fez com Cláudia Ribeiro, diretora do Sindicato dos Professores do Recife-SIMPERE).
Imaginemos que um estudante recifense queira ter acesso às obras do Bruxo do Cosme Velho,imaginemos que ele quer se encantar com a ambígua história de Capitu (traidora?
Não traidora?) do livro Dom Casmurro; pois bem,ele terá muita dificuldade pois na nossa capital só há duas bibliotecas públicas municipais (Afogados e Casa Amarela) para uma população de quase dois milhões de habitantes!
Se existe dúvida sobre se Capitu é traidora ou não, a mesma dúvida não temos com relação ao governo de João Paulo (PT).Nesse governo, a traição aos mais oprimidos é explícita.Um professor da rede municipal do Recife ganha míseros R$ 4,49 por hora para dar aula nas séries iniciais, se tiver doutorado vai receber pouco mais de seis reais e há escolas que funcionam somente com estagiários,que recebem salários ainda mais baixos.
O desconto relativo à saúde e previdência dos servidores aumentou nesse governo e muitos acordos fechados entre o sindicato dos professores municipais e a prefeitura simplesmente não são respeitados pelo governo petista.
Os apaixonados por Machado sabem que uma das características da obra de nosso escritor maior era destacar as contradições no interior da sociedade,notadamente a contradição entre o parecer e o ser.
A hipocrisia e a mentira eram sarcasticamente exploradas por ele.
Podemos relacionar isso com a atual administração municipal que faz alarde das “academias da cidade” mas silencia sobre as dezenas de escolas que não tem nenhum espaço para a prática de esportes; que inaugura “novas” escolas e “esquece” de dizer que são só antigos anexos com um novo nome. É uma gestão que parece trabalhar pela educação mas na verdade é uma prefeitura que chegou a fazer uma escola funcionar dentro de um bar !
O resultado de tudo isso ficou estampado na bela reportagem “Alfabetização de faz-de-conta”, da jornalista Margarida Azevedo, publicada no JC do último domingo.
Escutemos um trecho: “em vez de casa,,o garoto escreve caia.
No lugar de bola, bobi.
A palavra mala é grafada baga.
Lata é escrita aia.
Quem redige não é um menino que está sendo alfabetizado.
Ele está cursando a sexta série do ensino fundamental em uma escola da rede municipal do Recife,localizada na zona sul da cidade.” O PSTU afirma que os governos do DEM e do PMDB junto com o PT/PSB/PC do B são responsáveis por esse descalabro .Exige que as bibliotecas estejam presentes em todos os bairros, que todas as escolas funcionem em período integral com todos os equipamentos necessários (quadras,salas de computação etc.), que as creches devem atendam 100% do Recife e nenhum professor ganhe menos que o salário mínimo do DIEESE.
Nenhuma verba educacional deve ir para empresas terceirizadas (conservação,vigilância e merenda) e a prefeitura deve criar mecanismos de real inclusão social para jovens e adultos que não concluíram o ensino fundamental e não meros programas enganadores e paliativos como o ProJovem.
Nós lutamos para que chegue o dia em que todos a crianças, jovens e adultos dessa cidade possam ler o sertão de Guimarães, o cão de Cabral, o encanto de Solano e a magia de Clarice.
E teremos então milhares de “Machados” que vão contrariar a triste história que a classe dominante traçou para suas vidas!!!
PS.: Kátia Telles é candidata à Prefeitura do Recife pelo PSTU.