Caro Jamildo, envio esta mensagem desabafo aos bravos e verdadeiros servidores da saúde pública de Pernambuco.

Sou médica, formada há 28 anos.

Não sou de serviço público, estadual, municipal ou federal, mas apóio plenamente nossos colegas.

Estamos em regime de escravidão?

Não podemos trabalhar dignamente nem tampouco pedir demissão?

Nosso Ministério Público é uma piada, parcial, tendencioso.

Ao invés de tentar contornar e adequar a situação, toca fogo e tenta responsabilizar quem é também vítima, nós médicos.

Tanto quanto os pacientes que não têm condição humana e decente de atendimento, os médicos e todos os demais profissionais da área de saúde, são obrigados a trabalhar sem estas mesmas condições.

Sem exames, sem medicamentos, sem leito, sem respeito ao paciente e a si próprio.

Sem falar na remuneração que é a “melhor” do Nordeste.

O que é o melhor para estes que falam isso?

Seus salários são muito acima dos nossos e seu trabalho não é insalubre, sem condições ou desumano.

Em muitas situações somos obrigados a escolher que paciente terá o direito ao tratamento, pois não há para todos.

Como se fôssemos senhor da vida e da morte dos pacientes, que procuram em vão pelo cuidado do estado.

Nosso Código de Ética profissional nos obriga a denunciar e nos proibe de trabalhar nestas condições.

Teria imenso prazer em atender nossos governantes e o pessoal do Ministério Público nas condições em que atendemos a população pobre nos serviços públicos.

Imagino qual seria a reação deles diante de tamanho descaso e falta de respeito com a vida humana.

Estes que hoje, por razões óbvias, crucificam a nossa classe, são os primeiros a não trabalhar 1 segundo além do seu tempo obrigatório, isto quando trabalham.

E têm a regalia de atendimento à sua saúde e dos seus familiares na rede privada.

Enquanto o povo é atendido na “privada” do serviço público.

Acusam quem está na linha de frente, quem enfrenta o estado de guerra em que se encontram as emergências públicas, tentando desviar a responsabilidade que lhes foi dada através do povo que paga também os seus salários.

Parece que nunca vamos conseguir mudar esta situação, pois diz respeito apenas aos pobres.

Com a redução de atendimentos nas urgências, economiza o governo e resta para nossa classe a pecha de mercantilistas, que só pensam em dinheiro.

Se assim pensássemos, provavelmente seríamos todos políticos ou funcionários de Ministérios Públicos.

Haverá um dia, tenho esperança, em que a Carta Magna será cumprida - Saúde é direito de todo cidadão e dever do estado.

Por enquanto nos resta a saída honrosa: demissão como protesto e discordância com as condições atuais.

Quem sabe não reflitam nossos governantes?

Se tiverem um mínimo de humanidade e deixarem de lado a sua vaidade, pode ser que as coisas mudem.

Bons tempos aqueles em que não sabíamos no que estávamos nos metendo quando nos tornamos médicos.

Achávamos que apenas faríamos o bem aos pacientes.

E nos vimos trabalhando em condições que mais fazem mal do que ajudam.

E nos tornamos cúmplices daqueles que provocaram esta situação.

Um abraço da colega, Helena Castelo Branco (Unimed Recife)