Caro Jamildo Meu nome é Thiago Saraiva, sou médico cardiologista do HAM onde exerço minhas funções desde 2002 primeiramente como contratado temporário e posteriormente como concursado.

Venho aqui expor minha opinião na crença que o debate democrático sirva para o melhor esclarecimento da grave situação em que se encontra a saúde de Pernambuco.

Li hoje no JC a nota ofical da SES quando se questionou a não presença do Governador Eduardo Campos nas negociações e tentativa de fim do embate entre a categoria médica e o Governo.

Me entristece ver o quanto parcial e ludibriosa tenta ser a SES com a opinião pública ao mascarar fatos e distorcer a realidade.

Na nota ela afimar que: “no momento, o governador Eduardo Campos está mais preocupado em agir do que em falar.

Como pode testemunhar toda a imprensa de Pernambuco, o governador está empenhando todas as suas energias - e as do seu governo - no esforço para assegurar assistência médica à população, em meio ao abandono dos hospitais por médicos sob a orientação do sindicato.” Pois bem, estamos com mais de um ano e meio do mandato do Governador e quais foram os esforços por ele feitos durante todos esses meses???

Trabalho no HAM e posso dizer com total segurança, que praticamente nada de melhoria foi realizado, aliás a cada mes que se passa, mais lotada fica a nossa emergência, não sou partidário do Governo Jarbas/Mendonça mas durante os úlitmos anos, pelo menos, houve investimentos importantes, tenho que concordar, na infra-estrutra da cardiologia do HAM, com a compra de aparelhos monitores, eletrocardiógrafos, etc, e até criou-se uma uti para pós-operatório de Cirurgia cardíaca que nunca chegou a ser completamente implementada advinhe porque?

Pela simples falta de escala de médicos para esse setor.

Pois é, a falta de médicos não é algo de agora, é algo crônico e que o Governo Eduardo Campos, que se colocava como uma mudança nada fez para melhorar.

A SES não informa por exemplo, que do último concurso realizado em 2005 VÁRIOS médicos já pediram sua exoneração, paulatinamente.

A lista dos aprovados “rodou” e muitos colegas nem sequer cogitaram entrar para o serviço público, e outros tantos, entraram mas decediram sair do mesmo, cito como exemplo o meu setor da emergencia cardiológica que, atualmente, conta com apenas 06 MÉDICOS CONCURSADOS DE FATO.

Os outros colegas que preenchem a escala, que deveria ser de 21 médicos, são todos contratos temporários, contrato esse que tem laços trabalhisticos muito frágeis, podendo ser quebrados até mais facilmente do que o estatutário e o celetista.

Ou seja, com cerca de 03 anos do último concurso só restaram na emergência 06 médicos!

E o que a SES fez?

Desde o final do ano passado para não se parar completamente a emergencia cardio do HAM, o estado pagava em cheque plantoes extras a médicos individualmente (sem vínculo nenhum com a SES) para que se mantivesse a escala pelo menos com 02 plantonistas!

Fato muito semelhante ao caso já muito publicado dos neurocirurgiões do HR que também iriam se afastar do serviço publico e a “solução da SES” foi pagar via caixa dois a esses profissionais.

Então nos perguntemos: são essas as soluções da SES? pagar caixa dois? afrontando desta forma toda uma categoria profissional do Estado?

Na mesma nota segue: “assim como é ele, com o apoio do vice-governador e secretário da saúde, João Lyra, que comanda o plano emergencial implementado para suprir a ausência dos médicos que abandonaram os plantões, sem consideração com a vida das pessoas que procuram as grandes emergências do estado.” SEM CONSIDERAÇAO COM A VIDA, isso é nota de uma secretaria de Estado que tem como obrigação resolver a situação já caótica da saúde publica? 1) os médicos NÃO abandonaram os plantões, abandonar é você está presente e sair, ou estar vinculado ao serviço e faltar sem justa causa (médicos também ficam doentes por exemplo).

Os médicos que não mais estão nos plantões pediram exoneração há mais de 30 dias, e aliás, há muito mais tempo vem pedindo!

E durante todos esses meses de escala de plantão defasada o que a SES fez?

Por que não chamou os militares para cobrir as escalas de plantão???!!, Quem vem cronicamente abandonando a população pernambucana é o próprio governo!

Mais consideração com a vida alheia é o profissional que trabalha no caos dos hospitais, atendendo sem estrutura, no chão, colocando, no nosso caso, pacientes com infarto agudo do miocardio, em cadeiras de plásticos, é, cadeiras de plásticos dessas que você se senta para tomar uma cervejinha com os amigos!!!!, Isso é consideração com a vida, é trabalhar onde não se pode, se desdobrar para fazer pequenos (e as vezes grandes) milagres cada plantão!

A SES vem mais uma vez mostrar falta de bom senso ao querer colocar a culpa nos médicos!

Grande plano esse emergencial do governo…

Por fim a nota diz: o governador está trabalhando na implantação do novo modelo de gestão que vai acabar, de uma vez por todas, com os crônicos problemas da rede pública do Estado, para os quais o Simepe só apresenta como solução a demissão coletiva de médicos e o abandono das pessoas que precisam de assistência médica." Bom, esta trabalhando na implantação…ainda está trabalhando? na metade do mandato? fora o período antes das eleições em que supostamente o candidato deve estar preparado para assumir o governo, ou pelo menos ter uma idéia do que fazer??? sim, tudo bem, esta trabalhando…até quando???!! até o final do mandato?

Pergunto-me o que eles então estavam fazendo até então?.E novamente, como grand finale, vem dizer que o Simepe só apresenta solução a demissão…primeiramente a solução da SAUDE DE PERNAMBUCO É UMA OBRIGAÇÃO DO GOVERNO DO ESTADO e nao do sindicato, e pelo que saiba, o sinditado, desde antes do governo Eduardo, vem apresentando opiniões, soluções e etc, o sindicato é um orgão que representa a categoria médica, que lida com questões trabalhistas, que envolve salários e condições de trabalho, não é dever dar soluções na gestão da secretaria, Alias, a solução é até simples!

INVESTIMENTO em infra estrutura e na valorização dos profissionais, DE TODOS OS PROFISSIONAIS.

Por que a secretaria não vai para os debates do cremepe, fenam, etc, lá há soluções, Que tal, cito só como um exemplo, o cargo exclusivo de médico (e outros profissinais) do SUS, com crescimento do profissional dentro da hierarquia do SUS, com vencimentos dignos, com fixação do mesmo ao serviço público como o é nos países de melhores índices de saúde como França, Inglaterra, e até mesmo nossa quase vizinha Cuba (ps. vejam o filme Sicko de Michael More).

A solução que o Governador diz é a criação dessas fundações?

Que solução é essa que: 1) só chega agora na metade do seu governo, 2) é extremamente controversa inclusive juridicamente, que não foi amplamente debatida, e aliás, foi repudiada no conselho gestor de saúde - essa é a sua solução Governador??, 3) Mesmo que essas fundações sejam até criadas, bom, vamos a uma pergunta básica - quem vai trabalhar nela? que médicos vão querer se submeter de trabalhar no serviço “público” da fundação como celetista? sem direito a estabilidade que é típica do serviço público, sem perspectiva de crescimento dentro do serviço, sem direito a uma aposentadoria específica.

Devo lembrar que se você já tem uma carteira assinada em qualquer outro hospital e for trabalhar nas fundações você só terá direito a aposentadoria do teto maximo do INSS de 2800 (aproximadamente).

Então qual será o atrativo das fundações.

Ah, lembrei de algo mais…Faz parte do SUS no Brasil, a formação dos futuros profissionais, (residencia médica por exemplo). então como essas fundações vão estimular a residência sem preceptores para ensinar? e quem quiser fazer Mestrado ou Doutorado?

Pode pedir licença SEM OU COM vencimento via CLT?

Que eu saiba não.

Sr Jamildo, desculpe o desabafo, espero não ter sido tão enfadonho, e que tenha contribuido de alguma forma para a melhoria da saúde do meu querido Estado de Pernambuco