Por Patricia Jungmann Sobre o HR Está tão na cara, porque não se vê que o Grandão não é mais Grandão.
Em idades diferentes e sob perspectivas diferentes nunca deixei de ver que o HR é um gigante da resistência contra o trauma nesta cidade.
Porém o que não se vê agora é que o Gigante da Agamenon Magalhães passou da idade de crescimento há muito tempo, e que os seus nove andares continuam basicamente do mesmo tamanho desde a sua inauguração.
Aquele prédio que parecia uma imensidão há muito tempo atrás, hoje não mais suporta a extravagante demanda que lhe é atribuída.
A nossa cidade explodiu em população, em violência urbana, em acidentes, em carências de cuidados com a saúde, e, esta multidão que depende da assistência médica pública continuou a procurar o seu socorro subindo as rampas das suas duas emergências (adulto e pediátrica), ao som das sirenes das ambulâncias que tocam na orquestra do drama da saúde.
O plantão da emergência que “era” uma atividade de permanência para atender as eventualidades de urgência e emergência da cidade, onde se podia inclusive estudar em tempo real com os mestres do trauma de lá, não mais existe como tal.
O plantão “era” uma atividade médica onde “era” humanamente previsto parar e respirar entre um atendimento e outro, refletir, revisar uma conduta, circular corretamente nos corredores.
Tudo isso “já era”… nem tem tempo mais para estudo (dentro de um hospital escola), nem tem mais mestres de cabelos brancos por lá (pois os CRMs do plantão, na sua maioria, mal saíram das fraldas da residência médica), e nem tem tempo para reflexão de qualidade alguma, pois as ocorrências médicas simplesmente não param de acontecer em momentos que deixaram de ser seguidos para serem simultâneos.
Não tem equipe de saúde que agüente, não tem medicação que chegue, não tem UTI que chegue, não tem tomógrafo que agüente, não tem centro cirúrgico que agüente, não tem elevadores que agüentem, funcionar as 24 horas do dia, nos 365 dias do ano, acima da superlotação!!!
A superlotação do HR traz tudo o que não se aceita num ambiente hospitalar, tudo aquilo que faria a mais benevolente das vigilâncias sanitárias fecharem as portas deste serviço à população.
Pacientes geometricamente colocados por todos os lados: além da ocupação total dos boxes previstos para o atendimento, eles estão enfileirados em macas em todos os corredores e paredes e, o pior de tudo, também no chão.
Não há a menor possibilidade de controle de infecção hospitalar num local que mistura traumas de toda espécie, com pacientes em coma por acidentes vasculares cerebrais, episódios agudos de hemorragias digestivas, e quadros infecciosos de toda ordem.
Não tem solução em tempo real pra ninguém, nem para os pacientes nem para as equipes de saúde que militam nos plantões, nos ambulatórios e nas enfermarias.
Tudo é demais o tempo todo.
Sabe como é o nome disso: Pressão: Ação de forças por unidade de área.
Sabe o que acontece quando a pressão excede os limites?
A coisa explode.
Pegando uma carona nas ciências exatas, colocando questões de simples matemática e física e também da psicologia, podemos raciocinar um pouco dentro dessa situação: Da física: Dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço: Assim vem a primeira solução: temos de criar mais espaços para tirar os pacientes dos corredores, do encosto das paredes e do chão, (enquanto a quarta dimensão não está acessível).
Da matemática: para atender X pacientes em 12 horas, é necessário Y médicos.
Para atender X2 pacientes em 12 horas é necessário Y2 médicos.
Não é possível escapar da proporcionalidade nessas coisas.
Assim, a Demanda de pacientes é quem manda nessas equações todas, e contrariar a física e a matemática na medicina é igual a: Morte de pacientes, e a exaustão das equipes. É o que estamos vendo agora.
Da psicologia: sentimentos de segurança e de satisfação dos pacientes com a assistência que recebem motivam a crença no atendimento médico.
Sentimentos de orgulho e pertencimento ao ambiente de trabalho e boa remuneração motivam a satisfação pessoal profissional e o bom desempenho no serviço médico.
Ora, temos pacientes insatisfeitos e descrentes (quando não defuntos) e médicos desmotivados… o que será que está faltando?
Pensando em abordar o drama do meu querido Grandão da Agamemnom Magalhães com quem de direito, procurei, por iniciativa própria, muito antes do atual conflito no atendimento médico, contactar com a pessoa indicada para assumir a Secretária de Saúde do Estado, pouco tempo antes de sua posse, no início do governo do estado atual, para lhe falar dos termos destas equações simples acima, e lhe dar sugestões sobre o assunto.
Causei espanto ao futuro secretário com minha atitude, pois, com palavras dele mesmo, me disse como era raro um profissional se aproximar dele na ante-sala do poder para lhe oferecer idéias, sem pedir empregos, cargos ou qualquer outra coisa.
Foi isso que eu disse ao futuro secretário: O senhor precisa ir lá no HR, visitar o plantão da emergência para entender o que vou lhe dizer (O senhor gostaria de ir lá na pele de um cidadão comum?
Eu lhe guio na emergência como alguém que está procurando informações de um paciente (quando na realidade são de todos), e vou lhe mostrando as coisas como estão… vamos?
Vocês devem imaginar que nunca fiz esse passeio por lá na companhia dele.
Eu segui na minha conversa dizendo: O senhor precisa fazer o seguinte, (e poderei: não pense, senhor, que sou maluca ou prepotente vindo aqui dizer ao secretário algo importante que ele deveria fazer, eu só quero ajudar): Derrube o prédio do ambulatório do HR, que é uma construção térrea no rés do chão, coberta de zinco e construa um anexo a emergência do HR no seu lugar (até me lembrando que político adora um anexo…).
Coloque uma ponte aérea conectando a rampa da emergência de adultos com o novo prédio.
Neste prédio novo construa um novo centro cirúrgico com recuperação pós-anestésica para toda traumatologia e cirurgia geral, com as respectivas enfermarias nos andares e deixe no prédio original as áreas que requerem instalações especiais já formatadas por lá, como a neurocirurgia, a unidade de queimados, a cirurgia vascular e pediátrica e também a clínica médica.
Faça um prédio sob pilotis para melhorar o estacionamento, sobretudo o das ambulâncias.
Deve-se inclusive prever um novo espaço para o ambulatório neste mesmo prédio, se ele puder ter os mesmos nove andares de seu irmão do lado.
E assim fui eu, numa saga de idéias percorrendo um trajeto de arquitetura e engenharia do meu idealizado anexo do HR, sabendo que o final da maratona termina quando se ultrapassa a fita da ciência política: decidir fazer, e depois de vencida a linha de chegada pisar o chão ciência econômica, para respirar de novo com o oxigênio do financiamento para o projeto.
Sem querer ser simplista, sei da complexidade de um projeto deste, mas sei também o quanto ele seria poderoso em aportar soluções.
Imagino que nenhum deputado se oporia a aprovar verbas do estado e verbais federais para uma empreitada dessas.
Acredito que o projeto governamental de construção dos novos hospitais nas zonas periféricas da cidade é importante, e bem vindo, mas ele tem um caráter diferente de ser um grande anexo do HR, que além de central, teria todos os especialistas em quase tudo, na porta do lado.
Estou puxando a brasa para minha sardinha sim (e lá no HR é melhor falar em tubarão) advogando esta construção.
Nós somos grandes e temos orgulho de ser grandes, e a população precisa que fiquemos maiores e melhores.
Só quem conhece bem o poder e a força de muitas das criaturas maravilhosas que trabalham lá, sente que operamos também com uma equipe inteira de anjos da guarda de plantão, e não duvida dos milagres que fazemos por lá, postas as atuais condições de trabalho, quando temos sido competentes em fazer o máximo a partir do mínimo.
Só que o nosso máximo tem mais cara de caos do que de ordem, e não queremos ficar mais desfigurados deste jeito.
Assim, agora me sirvo deste meio de comunicação para expressar publicamente aquela mesma idéia, que foi passada àquela autoridade naquela época, e a qual espero possa ser apreciada pelos setores competentes, e mais uma vez não quero cargos ou qualquer outra coisa, mas me ofereço para participar de um processo de implementação de um tal projeto porque acredito nele (e sei que não estaria sozinha nisso), como alguém que ama a sua profissão, o seu hospital, e deseja se orgulhar do atendimento nele praticado e anseia ver expressões de satisfação no rosto dos cidadãos que lá buscam assistência para seus problemas de saúde.
Dra.
Patricia Jungmann Médica Anatompatologista do HR e Professora Ph.D, de Patologia da UPE.
Artigo escrito especialmente para o Blog de Jamildo.