Caro Jamildo, Esta carta eu dirijo a você para que coloque no blog não como um artigo, mas como um protesto de um cidadão que sofreu na pele arbitrariedades típicas do regime militar.

Hoje, 7 de setembro, durante a manifestação do Grito dos Excluídos, testemunhei e fui vítima, entre outros militantes políticos e de entidades da sociedade civil, de uma ação arbitrária da Política Militar de Pernambuco (PMPE), ação essa que desonrou suas fileiras e sua história.

A PM cometeu um ato ilegal ao proibir a livre circulação das pessoas, o direito elementar de ir e vir durante uma manifestação pacífica, na qual as pessoas pediam justiça social, igualdade de direitos, educação, saúde e segurança.

Estiveram lá alguns políticos, a exemplo dos candidatos do PT e do PSOL.

Fizeram seus filmes para o guia eleitoral, e foram embora.

Um deles, cercado por quatro seguranças (vê-se como é dura a vida de celebridade), foi assediado pela imprensa (pobre imprensa que sofre sob a camisa de força de um jornalismo de viseira, com honrosas exceções).

Estive lá, também, como sempre esteve o PCB, independentemente de ano eleitoral com seus guias que simulam uma cidade ilha da fantasia.

Estive lá, mas não deveria.

Vi a polícia arbitrária batendo em militantes políticos e de entidades.

Sofri escoriações.

Nosso candidato a vereador, Rodrigo Dantas, foi espancado com um cassetete na cabeça.

Sangrando, foi levado a uma delegacia para prestar queixa, e depois a um hospital.

Que polícia é essa?

Que governo do Estado é esse que reprime uma manifestação pacífica e ordeira?

Que militares são esses que se dobram a uma ordem ilegal e arbitrária?

Por que a SDS e a PM decidiram impedir o acesso à Conde da Boa Vista?

Por que os três carros de som não puderam acompanhar a marcha dos excluídos e reprimidos, depois que, sob pancadas, empurrões e ameaças, conseguimos romper o cerco da PM?

Por que essa PM só consegue contar mortos e feridos nas ruas do Recife e de outras cidades, mas é incompetente para reprimir o banditismo?

Por que essa PM quer o apoio da sociedade civil para suas justas reivindicações salariais, mas não pensa duas vezes em espancar os mesmos militantes dessa sociedade?

Essa polícia é a polícia do governador Eduardo Campos, que mancha a memória de Miguel Arraes ao reprimir a manifestação.

Essa polícia é a polícia dos políticos que cortejam o voto popular, mas não ficam para marchar contra as misérias e desigualdades do capitalismo.

Essa polícia tem balas e porrada para o povo, mas é intimidada no combate aos bandidos.

Foi tudo tão absurdo que, sob nossos argumentos de que eles estavam cometendo uma ilegalidade ao impedir o nosso direito de ir e vir, um policial nos respondeu: “Eu sei, mas eu estou obedecendo ordens”.

Mas algo de forte simbolismo ocorreu durante a pancadaria da PM.

Vimos algumas bandeiras caírem no chão, enquanto os militantes sofriam os safanões e cassetetes.

Mas rompemos o cerco arbitrário da PM, e depois, uma a uma, recuperamos as bandeiras.

Somos livres.

Um dia seremos independentes sob a bandeira socialista.

Roberto Numeriano é candidato a Prefeito do Recife pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB).