Por Edilson Silva O grupo Leões do Norte, respeitada entidade de defesa dos interesses da população homossexual, organizou recentemente um debate com os prefeituráveis de Recife.

O evento aconteceu na boate Metrópole.

Por mais incrível que pareça, o grupo Leões do Norte censurou a presença de alguns candidatos, convidando apenas os visivelmente mais abastados.

Este que lhes escreve foi uma das vítimas do preconceito.

Como são as coisas.

Um dia antes do debate na Metrópole, na condição de candidato, fui entrevistado numa rádio cujo ancora do programa era um evangélico, e ele me perguntou ao final da entrevista, em tom jocoso e de desafio, se ao chegar à prefeitura eu iria apoiar a Parada Gay, casamento gay e outras similaridades.

Fui contundente em afirmar que todos os cidadãos e cidadãs, todos, têm direitos constitucionais garantidos e que vivemos sob um estado laico, e não numa teocracia.

Nas eleições de 2006, fui o único candidato ao governo do estado que fez um guia de TV exclusivamente para combater o preconceito contra a população homossexual.

Detalhe: eu só tinha 54 segundos por dia para divulgar minhas idéias.

O PSOL, recentemente, quase perdeu um deputado estadual em São Paulo, acusado de quebra de decoro parlamentar por permitir uma performance em homenagem à diversidade sexual no interior da Assembléia Legislativa.

Mas, independente da militância que os candidatos e seus partidos tenham ou não próxima ao segmento GLBTS (tem mais letras, eu sei, e o L também poderia vir antes do G), o preconceito do Leões do Norte e da Metrópole é absolutamente condenável.

Deveria partir deles, exatamente deles, que sofrem com a constante tentativa de imposição de visões exclusivamente preto e branco do mundo, gestos largos de respeito às várias visões políticas presentes em nossa sociedade.

A lógica de quem segrega os que são circunstancialmente minoritários na política é a mesma de quem segrega os comportamentos sociais culturalmente não-hegemônicos.

Um beijo gay em público é um ato de contra-hegemonia, minoritário, mas por isso deve ser cuspido do ambiente social?

Por coerência, a lógica matemática do Leões do Norte e da Metrópole dizem que sim.

O elitismo e o preconceito do Leões do Norte e da Metrópole neste episódio lembram-me o filme “O Pianista”, dirigido por Roman Polanski.

No filme, ambientado na Polônia da 2ª Guerra Mundial, invadida pelos alemães, judeus-poloneses, ricos, não acreditavam que as bombas nazistas poderiam atingi-los num fino e caro restaurante.

O final foi trágico.

Mas esta segregação ainda traz outros prejuízos.

Eu mesmo gostaria muito de saber a opinião dos militantes deste segmento organizado sobre algumas idéias que tenho para a abordagem do tema homossexualidade nas periferias da cidade, como a melhor qualificação dos profissionais que atuam nos CAPS (Centros de Atendimento Psico-Social).

Acredito que nossos companheiros não permanecerão neste equívoco, pois senão ficará a impressão que se contentam com a mera tolerância por sua capacidade de consumo, colocando em segundo plano o respeito integral por serem cidadãos e cidadãs com plenos direitos.

PS:Presidente do PSOL/PE e candidato à Prefeitura do Recife