Por Kátia Telles Em CABRA MARCADO PARA MORRER, famoso filme de Eduardo Coutinho, João Pedro é um homem marcado para morrer por lutar contra as injustiças sofridas por camponeses nordestinos.
Falecido em 1962, sua história é contada por sua mulher, a triste viúva Elizabeth Teixeira.
Esse fim de semana acompanhamos a trajetória de outro João.
João Severino que percorreu duas emergências no Recife para buscar um atendimento digno depois de sofrer um acidente vascular cerebral (o popular “derrame”).
Junto com a esposa e uma prima o nosso cabra começou sua agonia no Hospital Municipal Oscar Coutinho, na Boa Vista, de onde foi transferido para o Hospital da Restauração já que havia pelo menos trinta pessoas na sua frente esperando atendimento ( o transporte até a Restauração foi providenciado pela família pois não havia ambulância no local).
Ao chegar a maior emergência de Pernambuco, a despeito dos esforços empreendidos por médicos e pessoal de apoio, ele não teve tanto sucesso na sua empreitada.
Primeiro ficou em uma cadeira (não havia macas ou camas) depois, transferido para um leito, seus familiares foram informados que, mesmo necessitando ser transferido para uma UTI, o hospital não poderia realizar esse procedimento pois a mesma estava lotada.
Então o nosso João, o nosso cabra, ficou em um leito normal, sem o equipamento recomendado para a gravidade de seu estado de saúde.
Enquanto isso, na Assembléia Legislativa, TODOS os partidos políticos lá representados, juntamente com seus candidatos à prefeitura do Recife, apoiaram a privatização da saúde estadual.
Essa privatização que é chamada de “criação de fundações”, fundações essas que vão precarizar o emprego de médicos e pessoal de apoio (seus contratos serão regidos pela CLT) e enfraquecer o controle dos trabalhadores sobre as unidades de saúde, ou seja, tratar a saúde como um negócio e não como um direito da sociedade e dever do estado. É fácil explicar o apoio dos candidatos burgueses às fundações.
O candidato Raul Henry recebeu em sua campanha para deputado federal verbas do IHENE e do Hospital São Marcos (duas grandes empresas de saúde privada do Recife), João da Costa e Cadoca participaram de governos (João Paulo/Jarbas) que deixaram postos de saúde, SPA’s e emergências em um estado de carência absoluta; no governo Mendonça Filho assistíamos diuturnamente emergências lotadas e pessoas que morriam por falta de atendimento.
Esses candidatos prometem resolver a problemática da saúde e se atacam na campanha.
Esses candidatos estão juntinhos, em total acordo, no apoio às fundações impostas pelo governo Eduardo Campos.
Esses candidatos também estão unidos na repressão aos servidores da saúde e na criminalização de pessoas que lutam pelos seus direitos.
Perdão pelo clichê, mas são “farinha do mesmo saco” O PSTU, através de nossa candidatura, afirma que somente quem não é financiado por grandes empresários da saúde pode revolucionar a o atendimento aos recifenses.
Somente os que não estavam ao lado dos governos que favoreciam os grandes hospitais privados e sucateavam a saúde pública podem ter moral de colocar os hospitais nas mãos dos trabalhadores, com mais verbas e serviços de qualidade.
Em 1984, Eduardo Coutinho lançou para o mundo a história de João Pedro, camponês marcado para morrer pelas elites agrárias do nordeste, na Paraíba.
Em 2008, João Severino é outro cabra que está marcado para morrer.
Em Pernambuco.Por culpa da elite que apóia o quarteto João da Costa/Mendonça/Cadoca/Raul Henry, a elite que se orgulha em proclamar que “Recife é um dos maiores pólos médicos do país” e acha que os trabalhadores que adoecem e morrem nos hospitais municipais e estaduais são meros dados estatísticos.
Que a mulher de João Severino não tenha que contar a história de seu cabra…
PS da autora: O nome do paciente foi propositalmente trocado PS2 da autora: www.excelencias.org