Por Roberto Numeriano À exceção dos partidos que considero de esquerda com um conteúdo programático ideológico socialista (e aqui não incluo o PT), a eleição em curso, no Recife e noutras cidades, parece consolidar um padrão de luta eleitoral que nivela e iguala as táticas dos partidos do e no poder, nas esferas municipal, estadual e federal.
Vemos o primado do marketing político ao invés de programas de partido, vemos a personificação do poder pelos medalhões antigos ao invés de quadros novos, vemos os discursos e as práticas demagógicas ao invés do debate qualificado dos problemas da cidade.
Nesta perspectiva, o PT, o DEM, o PMDB e o PSC se igualam.
Pensam e praticam a política cuja face eleitoral consideram, na prática, um fim em si mesmo.
Ou seja, política é isso e é assim mesmo.
Não é algo para transformar as pessoas, desalienando-as de sua condição de miséria espiritual, além de livrá-las da pobreza material.
Quando muito, fazem obras e executam certas políticas públicas que “aliviam” os efeitos da pobreza.
Não me surpreende o fato dessa política ser praticada (e ter os mesmos efeitos) por partidos como o PT e o PSDB ou DEM, nas cidades brasileiras.
No caso do Recife, o PT começou a praticar o que sua sensibilidade político-social percebeu no processo de ascensão ao poder: criar e implantar políticas sociais dirigidas para a periferia degradada do Recife, nas duas gestões.
São iniciativas de mérito, devemos reconhecer.
O DEM ou PFL não percebeu essa necessidade pelo fato mesmo de possuir uma mentalidade social apenas assistencialista.
Mas, ainda assim, o PT não conseguiu (nem vai, porque não está ao se alcance, dadas as contradições do nosso modelo econômico-social) recuperar a qualidade do ensino nas escolas fundamentais. É uma condição estrutural, própria do sistema de produção capitalista, fazer remendos no dique dessa miséria mental e social.
Como escapar dessa “camisa de força” do sistema?
Não há uma fórmula (ainda bem, pois a construção dessa resposta será efeito direto de um processo de luta dos movimentos sociais e populares), mas a premissa requer pensar na socialização das formas de exercício do poder (hoje, no modelo liberal, concentradas excessivamente nas Câmaras e Governos municipais).
Os velhos reacionários de plantão devem estar de cabelo em pé: “Mas isto é a revolução”.
Calma…
Este será apenas mais um remendo no dique.
Uma revolução socialista, se ocorrer, para se sustentar deverá recriar a própria forma e natureza da representação parlamentar.
Deverá, portanto, criar uma nova institucionalidade.
Como político e cientista político, posso afirmar que, nos limites da atual institucionalidade político-eleitoral, o modelo vai se esgotar dentro de alguns anos, em nosso país.
Esse modelo não vai suportar as velhas fórmulas e pantomimas de candidatos da “ordem”, seus debates antigos e rotos, que nunca discutem as condições concretas do porquê dessa miséria material e espiritual.
Quando essa consciência vir à tona (se for o caso) a memória política dos Lulas, Joões e outros medalhões será apenas passado de um tempo em que a política não era com e nem do povo, mas apenas (e sob certos limites) para o povo.