Por Isaltino Nascimento “Se eu dou comida a um pobre, me chamam de santo, mas se eu pergunto por que ele é pobre, me chamam de comunista”.
A frase acima é uma das mais célebres de Dom Hélder Câmara - por 20 anos arcebispo de Olinda e Recife - que ficou conhecido mundialmente como defensor da paz e da justiça para os filhos de Deus.
Amanhã, 27 de agosto de 2008, completarão nove anos de sua partida para a “verdadeira vida”, como ele chamava a morte.
Dom Hélder deixou um legado importante, sedimentado pela atuação política e social, a pregação libertadora em defesa dos mais pobres e a coragem de denunciar a exploração sofrida pelos países menos desenvolvidos.
Tudo em uma época de sombras, durante a ditadura militar, sendo por isso chamado de comunista e vítima de retaliações e perseguições por parte das autoridades da época, que também o impediram de divulgar suas idéias nos meios de comunicação.
Mas não conseguiram calar o Dom da Paz, que se transformou em um líder contra o autoritarismo e os abusos aos direitos humanos praticados pelos militares. À época já havia assumido o arcebispado de Olinda e Recife, para o qual foi nomeado em 12 de março de 1964, transferido do Rio de Janeiro.
Levantou a voz, em suas pregações, em prol da luta pela fé cristã e da caridade aos pobres e oprimidos.
Foi além das atividades religiosas, desempenhando inúmeras funções, principalmente em Organizações Não Governamentais (ONGs), movimentos estudantis e operários e ligas comunitárias contra a fome e a miséria.
Criou projetos e organizações pastorais, destinadas a atender às comunidades do Nordeste, que viviam em situação de miséria.
Mesmo sob as amarras da ditadura, Dom Hélder ganhou dimensão no Brasil e no exterior, passando a receber convites para proferir palestras e presidir solenidades nas universidades brasileiras e em instituições internacionais.
Nestes eventos, exprimia e propagava seus ideais e questionamentos religiosos, políticos e sociais.
Recebeu cerca de 600 condecorações, entre placas, diplomas, medalhas, certificados, troféus e comendas, sendo distinguido com 32 títulos de Doutor Honoris Causa, 24 quatro prêmios dos mais diversos órgãos internacionais, além de cerca de 30 títulos de cidadão honorário concedidos por municípios de Norte a Sul do País.
Sua atividade literária também foi intensa, escrevendo livros que foram traduzidos em vários idiomas, entre eles o japonês, o inglês, o alemão, o francês, o espanhol, o italiano, o norueguês, o sueco, o dinamarquês, o holandês e o finlandês.
No final da década de 90, inconformado com o fato de milhares de pessoas ainda estarem vivendo na miséria dois mil anos depois do nascimento de Jesus Cristo lançou a campanha Ano 2000 sem Miséria, na Fundação Joaquim Nabuco, com apoio de instituições filantrópicas.
Figuras como Hélder Pessoa Câmara - natural de Fortlaeza, no Ceará - jamais serão esquecidas, pois seu exemplo de vida deixou marcas profundas em nossa história.
Como forma de homenageá-lo, apresentei projeto de lei na Assembléia Legislativa propondo que o Hospital Metropolitano Sul, a ser construído no Cabo de Santo Agostinho pelo Governo do Estado, receba o seu nome.
Proposta que deve ser aprovada pelos demais integrantes da Casa Joaquim Nabuco em função da história deste homem tão especial.
Assim esperamos contribuir para que o grande peregrino do povo, de aparência frágil, mas palavra forte, viva infinitamente entre nós.
PS: Isaltino Nascimento (www.isaltinopt.com.br), deputado estadual pelo PT e líder do governo na Assembléia Legislativa de Pernambuco, escreve para o Blog todas às terças-feiras.