Por Angelo Castelo Branco O episódio da Unicap confirma os receios de muita gente que vê, nesses debates, um alto risco de distorção nos objetivos dos encontros.
Na verdade, situações como a de ontem não constituem novidade.
Diante de uma platéia contaminada por militâncias e radicalismos, não existe a mínima possibilidade de se conduzir um debate em que os candidatos possam transmitir, com clareza, os seus conceitos e suas propostas sobre fatos políticos e projetos para nossa cidade, agravada dia-a-dia por problemas econômicos, sociais e urbanos de grande magnitude.
Por causas que remontam a décadas passadas, o Recife está sitiado por favelas e bairros com baixo índice de qualidade de vida, configurando um quadro desafiador que jamais será satisfatoriamente equacionado em menos de 50 anos, e ainda assim se houver um Plano Diretor Compulsório devidamente protegido pela Constituição Federal, sob pena de enquadrar os gestores municipais em crime de responsabilidade caso não cumpram as etapas estabelecidas para cada mandato.
Foi assim na Europa quando destruida pelas guerras, está sendo assim na China reerguida das sombras do maoismo e não parece diferente entre os tigres asiáticos ou nas margens do Golfo Pérsico, nas bandas dos emirados que controlam Dubai.
O Recife precisa de leis que assegurem cidadania aos seus habitantes.
Estamos enloquecidos com a violência e a criminalidade, com a privacidade doméstica invadida o tempo todo por caixas de som em malas de automóveis e em carrinhos de CDs piratas que desfilam livremente pelos bairros, atormentando idosos, doentes e recem-nascidos, alem de privar a população do seu direito fundamental ao silêncio.
As calçadas danificadas representam um alto risco ao povo e as ruas escuras e sem proteção estimulam os bandidos.
Nada disso foi sequer levemente suscitado, no debate da Unicap.
Temos edifícios inacabados e apodrecidos que enfeiam o centro histórico dos bairros do Recife antigo, Santo Antonio e São José, numa agressão estética aos conceitos de urbanismo, que, inclusive, comprimem a autoestima da população, extraindo-lhe o sentimento de orgulho e de prazer de ser recifense.
O que também estarrece, e passou batido no debate, é se verificar a indiferença dos partidos e de seus candidatos majoritários, diante das bizarras participações de candidatos a vereador que os representam e se apresentam nas TVs e nos rádios, com gestos e frases rigorosamente desrespeitosos e estranhos a um processo democrático que merece respeito porque é fruto do sacrifício de gerações de brasileiros, muitos dos quais pagaram com a vida na defesa do resgate do estado de Direito, das liberdades individuais e do voto popular.
Permitir que o espaço gratuito de campanhas esteja sendo ridicularizado pelos bizarros, é uma afronta à memória dos que derramaram sangue para que o Brasil visse a conquistar a democracia.
O processo eleitoral é uma ferramenta de aperfeiçoamento social de uma cidade ou de um país.
Já seria excepcional se pudéssemos ao menos aproveitar a oportunidade para escolher legisladores municipais menos comprometidos com o ridículo e optar por prefeituráveis que tenham uma visão da nossa realidade.
Por enquanto, os nossos problemas mais concretos continuam sem propostas de solução, o que nos mantém imobilizados numa sombria perspectiva em relação ao futuro do Recife.
PS: Castelo Branco é jornalista Leia mais: » Louca interrompe debate com escândalo particular