Diferenças absurdas nas notas clonadas Por Sheila Borges, no JC de hoje Acostumados a entregar almoço na Câmara Municipal do Recife e a receber grupos de vereadores e assessores em seu estabelecimento, os proprietários da Galeteria Alvorada, Inaldo Luna e Amaro Silva, ficaram surpresos com as notas falsas apresentadas pelos gabinetes dos vereadores Gilvan Cavalcanti (PMN), Valdir Facioni (PMN), Antonio Luiz Neto (PTB) e Henrique Leite (PT) e do ex-vereador Sílvio Costa Filho (PMN) – hoje deputado licenciado e secretário estadual de Turismo –, que chegam a R$ 9,8 mil.

Os documentos foram identificados pela auditoria especial do Tribunal de Contas, que investigou o uso das verbas indenizatórias da Câmara.

Em relação ao talonário original, as notas apresentavam diferenças no layout, na grafia, nos valores, nas quantidades, nas datas de emissão e até na descrição do produto.

Os pratos mais pedidos pelos gabinetes – o galeto e a picanha completos – custam R$ 24,00 e R$ 43,00 respectivamente.

De acordo com o relatório da auditoria do TCE, as notas falsas protocoladas pelos vereadores equivalem ao pagamento de “refeições completas”, sem nenhum outro detalhamento.

A elevação dos valores é de 9.267%.

A diferença mais gritante é a do pedido de Sílvio Costa.

Na nota verdadeira, a refeição custou R$ 15,00.

Na falsa, o mesmo almoço subiu para R$ 1,3 mil.

Valdir Facioni apresentou uma nota falsa de R$ 1,9 mil.

O preço da nota verdadeira do Alvorada indica outro valor, R$ 27,00.

A diferença da quantia escrita nas notas do gabinete de Gilvan Cavalcanti e do restaurante chega a 4.883%. “Isso é desonestidade.

Não entregamos notas em branco, fazemos tudo correto”, reagiu Amaro Silva.

O outro sócio da Galeteria Alvorada frisou que sempre atende políticos, mas que nunca tinha passado por uma situação como esta. “É uma grande fraude.

Clonaram nota com o nome de nossa empresa”, criticou.

A Galeteria funciona no Derby.

O chinês naturalizado brasileiro Samy Kan também reagiu indignado ao ver sua churrascaria Full House, chamada na nota fiscal de Prestígio, envolvida no escândalo da Câmara.

Samy afirma que nunca vendeu diretamente para os gabinetes dos vereadores. “Não faço nada errado, fico chateado com isso”, lamentou.

Segundo o relatório do TCE, as notas apresentadas pelos gabinetes são falsas.

Elas somam R$ 12,8 mil.

Os valores chegam a ser 10.954% superiores aos indicados nas notas da churrascaria, que fica em Afogados.

Mostraram notas falsas da Full House os vereadores Eduardo Marques (PTB), Gilvan Cavalcanti, Romildo Gomes (DEM), Valdir Facioni, Luiz Vidal (PSDC), Luiz Eustáquio (PT) e Henrique Leite, além do ex-vereador Silvio Costa Filho.

Três casos chamaram a atenção dos auditores.

Gilvan consumiu R$ 12,00, de acordo com a nota de seu Samy.

Na apresentada pelo gabinete, o valor pulou para R$ 1,3 mil.

Pastor Valdir também fez uma refeição de R$ 12,00, mas o comprovante entregue ao TCE estava com o preço de R$ 915,00.

O preço do almoço para o gabinete de Leite foi de R$ 5,00.

Na nota para o TCE, subiu para R$ 401,00.

Em relação às acusações, os vereadores estão se defendendo no TCE.

Com exceção de Vicente André Gomes (PCdoB), todos já devolveram o dinheiro.