Por Sheila Borges, da editoria de Política do JC Quase conseguiram.
Temendo a repercussão da auditoria especial do Tribunal de Contas do Estado (TCE), que identificou o uso de notas fiscais irregulares para justificar o gasto das verbas indenizatórias, os vereadores do Recife, mesmos aqueles que não foram citados, fizeram um pacto de silêncio.
Nenhuma informação relativa ao processo poderia chegar à imprensa, pelo menos antes do julgamento do caso pelo Pleno do TCE, o que, na contabilidade deles, só ocorreria após as eleições.
Mas o escândalo veio à tona, anteontem, da maneira mais inusitada.
O vereador Vicente André Gomes (PCdoB), o último dos 26 notificados, não conseguiu se conter e fez uma grande confusão quando recebeu das mãos do auditor Lucilo José da Silva a intimação para se defender das acusações.
A celeuma chamou a atenção de funcionários da Câmara, que testemunharam a reação nada contida do comunista.
Há 20 dias, ele evitava aparecer no Legislativo para não ser notificado.
Foi o único que ainda não devolveu os recursos públicos usados de forma irregular.
Estima-se que ele gastou mais de R$ 40 mil da verba, comprovados com notas fiscais inidôneas.
A reportagem do JC não conseguiu localizá-lo, deixou recado com assessores e familiares.
Todos os outros 25 receberam uma guia de recolhimento, emitida pela 1ª Secretaria do Legislativo, com os valores usados de forma incorreta, e devolveram o dinheiro para os cofres da Prefeitura do Recife.
Até esse tumulto, o caso era tratado de forma discreta.
Os vereadores, inclusive, decidiram concentrar todos os documentos – as cópias do processo do TCE – no gabinete do 1º secretário, João Arraes (PSB), mesmo porque, além de uma espécie de gerente financeiro da Casa, o socialista faz parte do grupo que escapou ileso da investigação dos auditores.
Segundo o pacto de silêncio, cada vereador só ficava sabendo dos detalhes de seu caso, assim não havia especulações.
Foi em função dessa estratégia que João Arraes terminou sendo o vereador mais pressionado nas últimas 48 horas.
Todos os notificados debitaram na conta dele a fatura pela “quebra” do sigilo.
Mas com a negativa do socialista, o grupo promoveu ontem uma espécie de caça às bruxas com o objetivo de identificar o “traidor”.
Chegou, inclusive, a abordar conselheiros e técnicos do TCE na tentativa de transferir a “responsabilidade política” do vazamento para aquela instituição, formada por conselheiros que, em sua maioria, já foram políticos.
Apesar de não ter exercido mandato eletivo, o relator do processo, Marcos Loreto, sempre foi militante do PSB e ex-assessor do governador Eduardo Campos, desfiliou-se para assumir, por indicação política do Executivo, uma cadeira no TCE.
Loreto, contudo, fez questão de ressaltar que o “vazamento” não saiu do tribunal.
Explicou aos vereadores que a Casa tem um regulamento interno que nem auditores nem conselheiros comentam relatórios antes do julgamento.
Mesmo com esse esclarecimento os vereadores não se conformam, querem a todo custo encontrar quem colocou a Câmara neste imbróglio antes da eleição, o que pode custar a reeleição do mandato de alguns acusados.