Por Weligton Medeiros www.leoesdonorte.org.br A discussão que gerou na maioria de opiniões na imprensa local por leitores e ouvintes de rádio, na ação promovida contra a música papa frango, tem uma peculiaridade: a defesa do cantor.
A relação sexual baseada na troca de moeda existe muito antes de Cristo, seja entre homossexuais ou héteros – homens e mulheres.
E o questionamento não é a negação dessa realidade, mas ao inferiorizar uma determinada parcela da sociedade e que pode provocar mais seqüelas e atritos do que já enfrentamos no dia-a-dia.
Exemplos?
Tentativa de suicídio é um dos mais comuns.
Cinco vezes mais praticados entre homossexuais que héteros.
A maioria argumenta que “há mais o que se fazer que acionar a Justiça”.
Lavar roupa, por exemplo, é uma das sugestões, e deixar o cantor trabalhar em paz e parar com essa “ditadura homossexual” e a “institucionalização da censura”.
Essas opiniões não traduzem nada novo do que já conhecemos.
O preconceito explícito em reação ao reivindicarmos o legítimo direito de não sermos insultados e muito habilmente nos afastar do convívio social, nos colocar como é de praxe à margem da sociedade.
Vivemos a máxima do “faça o que mando, mas não faça o que faço”!
A cultura de inferiorização do segmento homossexual está tão arraigada na sociedade que qualquer ação que demonstre cidadania para a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) provoca ira.
Assim ainda é com a questão racial, porém com um detalhe.
Existe uma lei e aí a intolerância racial não precisa ser aturada.
Temos que nos resignar e ficar em nosso lugar, no gueto, quieto e, de preferência sem incomodar a ninguém querendo ser tratado como gente.
E se alguém grita na intenção de ser respeitado nada melhor do que mandá-lo lavar roupa.
Temos o direito de não ter direito nenhum, pensam os conservadores preconceituosos.
Mais grave é inverter a ordem.
Somos os que tentam censurar!
Não permitir que se vulgarizem relações humanas e que as crianças, filhos/as de homossexuais não sofram mais um problema na sociedade sendo alvo de uma “brincadeira” onde um de seus pais é o frango e o outro um boy.
Como devemos tratar essas famílias? de “Núcleo Mauricéia: muito mais frango?!” Como devemos chamá-los?
Que tipo de relacionamento terá os pais com a sociedade que apóia seus filhos homossexuais, se massificar o conceito de que não passamos, conforme a letra composta, de pessoas que sustentam um boizinho para conseguir um relacionamento?
Poderemos andar com um amigo, irmão, parente ou até o namorado sem que um ouvinte de música não pense ou exponha um (pré)conceito e reproduza que ali está um frango e do lado o outro que recebe presente em troca de sexo?
As conseqüências que virão depois para essas famílias formadas por homossexuais serão desastrosas e o que podia ser prevenido com a leitura de uma formação cidadã no comportamento da sociedade terá impactos sem previsão.
A música “uma tapinha não dói” também foi questionada.
Não pela qualidade da música ou ritmo, mas porque se naturalizava com a composição, que a violência contra a mulher é normal se for uma tapinha.
Uma tapinha hoje, outra amanhã, daqui a pouco uma a cada hora, depois por minuto.
Um só a cada minuto não dói, pois um artista assim canta e o povo gosta e a massificação de que não dói torna natural a violência contra a mulher.
A letra da música que recebeu diversas defesas não encontrou ainda quem possa achar, além do desrespeito, uma imposição para o isolamento social.
E a brincadeira hoje, amanhã com milhares de crianças e adolescentes ouvindo que as nossas relações são comerciais aumenta a violência.
Se houver um flerte de um homossexual, assumido ou não, com um boizinho (gay no armário) e esse achando que após a relação sexual consumada deve haver um pagamento, a violência ganha uma justificativa.
Um “artista” assim afirmou, assim massificou na sociedade e assim será.