O desfecho de uma longa e pesada guerra de bastidores pelo controle da poderosa Secretaria da Receita Federal veio à tona na semana passada num aparente clima de tranqüilidade.

Jorge Rachid, que ocupava o cargo desde o início do governo Lula, pediu demissão dias depois de anunciar com pompa o mais novo recorde na arrecadação de impostos – 327 bilhões de reais apenas no primeiro semestre de 2008.

Em seu lugar, assumiu a auditora Lina Maria Vieira.

A posse da secretária, ao contrário da tradição, aconteceu a portas fechadas.

Lina não falou de seus planos, não anunciou sua equipe e nem cumprimentou o antecessor, que também preferiu o silêncio na despedida.

Oficialmente, Rachid saiu de férias.

Não havia alternativa ao ex-secretário.

Na última quarta-feira, ele foi chamado ao gabinete do ministro Guido Mantega, que, sem nenhum rodeio, perguntou se ele preferia ser demitido ou pedir demissão. “Precisamos mudar de ares”, limitou-se a explicar o ministro.

Mantega ainda ofereceu a Rachid uma diretoria do Banco do Brasil ou a Secretaria de Fazenda do Rio de Janeiro.

O ex-secretário ficou de dar a resposta quando voltar do descanso, provavelmente em setembro.

Jorge Rachid viveu durante cinco anos e meio o dilema de representar ao mesmo tempo a solução e o problema.

A eleição de Lula, em 2002, provocou uma onda de desconfiança nos mercados, e, para estancar os problemas, o presidente precisava mostrar que não mudaria os fundamentos da economia.

Indicou o então ministro Antonio Palocci para o Ministério da Fazenda e colocou Rachid – braço-direito de Everardo Maciel, o ex-secretário da Receita no governo tucano – para comandar o Leão.

Os petistas, porém, nunca se conformaram em não ter controle sobre um dos órgãos mais poderosos do governo.

Em 2006, com a posse de Guido Mantega, começou a contagem regressiva para a troca de comando na Receita.

O desgaste teve início quando Mantega demitiu antigos assessores de Rachid envolvidos em denúncias de corrupção.

A pressão aumentou com o anúncio de que o ministério pretendia reabrir um processo que investigou a participação de Rachid em um suspeitíssimo processo envolvendo a empreiteira OAS.

Em 1993, quando era um simples auditor, Rachid aplicou uma multa de 1 bilhão de reais na empreiteira, que acabou, depois, reduzida para apenas 25 milhões.

Os advogados que conseguiram realizar a mágica, além de auditores licenciados da própria Receita, eram amigos e assessores de Rachid.

A dupla foi demitida a bem do serviço público, mas o ex-secretário foi poupado por Palocci.

Com a arrecadação em alta e a economia apresentando excelentes resultados, os petistas descobriram que Rachid era somente um problema – e não hesitaram em apresentar a solução.

PS: Reveja a maior e melhor cobertura da indicação da nova dirigente da RF indo na área de buscas.

Infelizmente, com a modernização da página, a área de buscas ficou um pouco prejudicada.

Uma dica é pedir o mês de julho e procurar as matérias, enquanto o pessoal da área de tecnologia não conserta a pesquisa das edições anteriores.

Nós confiamos em Deus.

Na Veja desta semana Receita petista