Na Veja desta semana Há cinco meses, tropas colombianas abriram um clarão na selva próximo à fronteira da Colômbia com o Equador.

Realizada em território vizinho, a caçada implodiu um dos centros de comando das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), matou 23 de seus integrantes e causou um grave incidente diplomático na América do Sul.

Em meio aos destroços, os militares recuperaram intactos três computadores portáteis que pertenciam a Raúl Reyes, o número 2 das Farc, especialista em finanças, expoente da ala mais radical e sangrenta da guerrilha e que foi morto na operação.

A memória resgatada dos computadores de Reyes tem provocado efeitos políticos extraordinariamente positivos na região.

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, aparece nas mensagens como financiador das ações do grupo terrorista.

O pouco que se revelou do conteúdo do computador do terror sobre Chávez já fez o ditador venezuelano abrandar o tom.

De revolucionário passou, de uma hora para outra, a conciliador.

Na semana passada, a revista colombiana Cambio publicou uma reportagem com base nos dados resgatados do computador de Reyes, mostrando que também no Brasil os tentáculos são tão grandes quanto já se suspeitava. É conhecida a histórica afinidade ideológica dos radicais do PT – felizmente, uma minoria – com o grupo terrorista.

Os arquivos eletrônicos apreendidos, porém, revelam que desde a posse do presidente Lula essa aproximação foi ficando cada vez mais intensa, envolvendo integrantes do governo em ações políticas de interesse dos guerrilheiros.

As novas evidências sobre esses laços clandestinos estão reunidas em 85 mensagens eletrônicas trocadas por representantes das Farc entre 1999 e 2008.

Apreendidos nos computadores de Reyes, os arquivos chegaram às mãos do ministro da Defesa, Nelson Jobim, e foram objeto de uma conversa mantida pelo presidente brasileiro com seu colega Álvaro Uribe na visita que Lula fez à Colômbia, há duas semanas.

Embora nenhuma das mensagens divulgadas até agora tenha como interlocutor alguém do PT ou do governo, existem diversas referências a membros do partido e do governo brasileiro.

A correspondência sugere vínculos das Farc com parlamentares, dirigentes petistas, cinco ministros e ex-ministros e três assessores pessoais do presidente Lula.

As referências, em sua ampla maioria, revelam apenas tentativas de aproximação com o governo por meio de dirigentes e parlamentares petistas.

Não haveria, portanto, nada que pudesse levar à conclusão de que há ou havia entre eles uma relação mais estreita.

O problema é que, ao se verificarem alguns dos assuntos tratados, percebe-se que as ações de interesse dos narcoguerrilheiros foram bem-sucedidas – parte delas com apoio, segundo os relatos, de pessoas influentes do governo.

Um dos casos mais interessantes relatados nas correspondências apreendidas envolve o ex-ministro José Dirceu.

Em junho de 2005, quando ele ainda era o todo-poderoso chefe da Casa Civil do governo, houve um misterioso encontro em Cuba entre um representante das Farc e o jornalista brasileiro Breno Altman.

Em uma mensagem arquivada no dia 4 daquele mês, um guerrilheiro, chamado José Luis, faz um relato ao comandante Reyes: “Um jovem que se apresentou como Breno Altman me disse que vinha de parte do ministro José Dirceu e que, por motivos de segurança, eles tinham concordado que as relações não deviam passar pela Secretaria de Relações Internacionais, mas, sim, pelo ministro, com a representação de Breno”.

Não se sabe que tipo de relações o guerrilheiro descreve, mas fica evidente que se trata de alguma coisa clandestina.

O jornalista Breno Altman é um dos fundadores do PT e amigo do ex-ministro José Dirceu.

Ele confirmou que esteve com o guerrilheiro em Havana, mas garante que não se apresentou em nome do ex-ministro.

Dias depois do encontro, porém, Reyes relata o resultado da reunião com “o enviado de Dirceu”, afirmando que o governo Lula “aceita a presença discreta de Olivério no país”.

Olivério é o padre Olivério Medina, guerrilheiro condenado na Colômbia por vários crimes e escondido no Brasil desde 1997.

O padre é o personagem principal das conexões das Farc com o governo brasileiro.

Em março de 2005, três meses antes do encontro de Havana, VEJA publicou uma reportagem revelando que agentes da Abin monitoraram uma reunião política comandada por Olivério Medina em uma chácara nos arredores de Brasília.

Segundo o relato dos espiões do governo, que se infiltraram no encontro, além do padre, compareceram cerca de trinta pessoas, entre militantes petistas de Brasília e representantes de uma tal corrente Luís Carlos Prestes.

Era 13 de abril de 2002.

Em frente a uma bandeira das Farc, os convidados cantaram o hino da guerrilha, gritaram algumas palavras de ordem e, depois, sentaram-se e passaram a discutir as eleições presidenciais.

Medina revelou que os guerrilheiros doariam 5 milhões de dólares à campanha de Lula.

Os detalhes da reunião, incluindo a promessa da doação milionária, foram registrados em um documento da agência, classificado como secreto.

A Abin não conseguiu descobrir se a promessa foi cumprida.

Na época, Medina circulava tranqüilamente por Brasília, participava de reuniões políticas e arregimentava simpatizantes para a organização.

Era conhecido como o embaixador das Farc no Brasil.

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