Em assembléia geral realizada nessa quinta (31) à noite, no auditório da Associação Médica de Pernambuco, os médicos vinculados à rede pública estadual de saúde decidiram, por unanimidade, entregar os cargos a partir desta sexta-feira (1º).
Denúncias e reclamações sobre as condições de trabalho de atendimento à população, bem como o descaso do Governo do Estado em relação às reivindicações da categoria deram o tom das intervenções dos médicos. “Se vocês decidirem pedir demissão amanhã, nem se preocupem porque não virá médico algum de Alagoas para substituí-los aqui”, garantiu o presidente do Sindicato dos Médicos de Alagoas, Wellington Galvão.
Alagoas em 2007, a paralisação dos médicos alagoanos durou 88 dias.
De acordo com o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), aproximadamente 500 médicos especializados devem aderir à proposta acatada em assembléia. “Em algumas especialidades, como as de cirurgiões vasculares e otorrinos, já contamos com adesão de 100%”, afirmou.
Os próprios médicos têm de reconhecer firma e entregar a exoneração no departamento de Recursos Humanos, dos hospitais onde trabalham.
Ainda de acordo com o Simepe, os UTIstas devem ser os primeiros a entregar os pedidos de demissão. “Estes especialistas já não agüentam as condições de atendimento a que são submetidos seus pacientes”, informa Antônio Jordão.
A saída efetiva dos médicos, no entanto, foi programada para 24 de agosto, conforme orientação do departamento Jurídico do sindicato.
Logo no começo da Assembléia, o presidente do Simepe, Antônio Jordão, criticou o anúncio do governo do Estado sobre a proposta do novo modelo de gestão. “Eles disseram que iam fazer um grande anúncio no último dia 30 e vêm com uma proposta de um modelo de gestão construído exclusivamente pelo Executivo.
Demos um voto de confiança ao governo na semana passada e esperávamos que eles sentassem à mesa conosco”, reclamou.
Durante toda a assembléia, os médicos deixaram claro o impasse com o Executivo estadual. “Infelizmente, uma semana se passou e não há proposta concreta para a categoria.
Esse governo tem demonstrado negligenciar o diálogo.
Na semana passada, liguei para o secretário (João Lyra) e informei que, em assembléia, a categoria tinha votado pela mesa de negociação”, ressaltou o vice-presidente do Cremepe, André Longo. “Não estimulamos a demissão; este é um ato individual mas na situação em que se encontram os médicos, é natural se recusar a trabalhar”, concluiu.
O Simepe garantiu que estudará maneiras de comunicar a decisão à população. “Estamos numa luta salarial, mas também lutamos pela saúde pública, como sempre fizemos”, disse Jordão. “Não tenho dúvidas de que a população está do nosso lado.” Vale lembrar que no último dia 23.07.08, a juíza Clara Maria de Lima Callado, da 3ª Vara da Fazenda Pública da Comarca do Recife, determinou, através de liminar que o Estado garanta o atendimento aos pacientes que procurarem a rede pública de saúde, sendo inclusive responsável pela transferência imediata e pagamento dos cursos do atendimento em hospitais da rede privada, nos casos em que a falta do serviço médico implique em risco de morte.
A magistrada ainda determinou o pagamento de uma multa de R$ 5 mil por cada dia de não cumprimento integral da decisão.
No texto da liminar, a juíza classifica de “insustentável” a situação dos dos serviços de urgência, emergência e ambulatorial dos principais hospitais da rede estadual de saúde. “Centenas de vidas, inclusive bebês na Maternidade do Hospital Barão de Lucena, encontram-se correndo risco de morte por falta de cirurgias, leitos de UTI’s ou infecção hospitalar devido ao grande número de pacientes que se amontoam nos corredores, enfermarias e berçários dos grandes hospitais de Pernambuco”, escreveu a magistrada.