Quem tem medo de homossexuais?
Weligton Medeiros* O que é medo?
Medo é um sentimento, um estado de alerta demonstrado pelo receio de fazer alguma coisa.
Pernambuco, considerado pelas estatísticas, um dos estados mais violentos contra o nosso segmento, tem medo de homossexuais e, consequentemente, institucionaliza a homofobia de estado com sua ausência de políticas públicas no combate ao preconceito e a homofobia.
E como o Estado não tem sentimento mas ações que definem, ou não, até que ponto ele proteje seu cidadão e cidadã podemos definir que quem tem medo de homossexuais é o Governador de Pernambuco.
Ou seja, Eduardo Campos.
Mas quem sofre com essa ausência de ações somos nós, homossexuais.
As consequências são desastrosas.
A homofobia mata gays, lésbicas e travestis.
Do ano de 2002 a julho de 2008 foram mortos 78.
Em fevereiro de 2008 cinco travestis, em 2008 são 7 travestis em sete meses.
Observe que a violência é generalizada e um problema que envolve, principalmente o desemprego e produz uma sociedade onde há concentração de riqueza e socialização da miséria.
Mas os crimes cometidos contra os homossexuais são os mais cruéis.
Oitenta por cento são assassinados a pauladas, facadas, estrangulamento, objetos pontiagudos, introdução de madeiras, garrafas e o que a mente de uma pessoa com ódio pode oferecer para humilhar e destruir algo que o incomoda o seu próprio eu.
Afora a contabilidade dos mortos por ódio, ainda temos a falta de investigação que identifique o agressor e, quando há muito raramente, a condenação pelo crime praticado.
Atrelada a tudo isso ainda temos a ausência de leis que de fato punam a discriminação.
As que existem, que pretegem pouco ou quase nada, precisam de regulamentação.
Seria necessário tornar a discriminação - por razão da orientação sexual, crime.
Mas esbarramos nos preconceitos de conservadores que “abominam o pecado e amam o pecado” e não admitem que nós sejamos tratados como cidadãos e cidadãs.
E a resposta é simples: somos homossexuais!
CUMPLICIDADE DO ESTADO Num dos documentos enviados ao Governador de Pernambuco, afirmamos que “a ausência de ações concretas é irmã do preconceito e da discriminação, que a ausência de mecanismos que tratem a questão com responsabilidade é órfã da democracia e que a ausência de diálogo é cúmplice do crime cometido contra a vida.” Pernambuco, através de seu Governador, mais uma vez em resposta ao documento, trata o segmento homossexual como caso de polícia.
Após os últimos assassinatos de travestis em nossa capital, cobramos mais uma vez ao Governador Eduardo Campos um diálogo com o segmento para tratar de ações que envolvam os interesses dos homossexuais entre as quais, o direito à vida.
Mais uma vez o Governo de Pernambuco trata com descaso a necessidade de criar mecanismos de combate ao preconceito e, conseqüentemente, a violência e direciona a problemática para ser tratada com membros da segurança pública.
Ironicamente trata o segmento como caso de polícia. tratar como caso de polícia a relação de uma parcela considerável da sociedade com o governo é irônico, desrespeitoso e insano porque não somos agressores.
Somo vítimas.
Mas o caso que deve ser tratado como caso de polícia, investigando e identificando os autores dos cartazes na cidade do Cabo de Santo Agostinho, assinados por uma Frente Nacionalista de Pernambuco e Carecas do Brasil-PE, conhecidos pela violência e crimes cometidos em São Paulo, não foi dada a atenção.
Coincidentemente mais travestis foram assassinadas em Recife e a desculpa que a Polícia dá para o crime - ligação com o tráfico, não colou.
O governo espera que a homofobia se manifestem através da agressão e tenta, através da segurança pública, tratar o preconceito como um problema que não existe ou que não seja responsabilidade dos governantes.
MEMÓRIAS DE CAMPANHA Convidados pelo Leões do Norte para participar com o segmento de debate sobre as propostas de combate ao preconceito e a homofobia, os três candidatos Eduardo Campos, Humberto Costa e Mendonça Filho foram unânimes em concordar no “respeito às diferenças”.
O destaque ficou com o atual governador que assumiu que enviaria projeto de previdência estendida aos homossexuais afirmando que “O importante é que a decisão política serve como exemplo para o combate ao preconceito”.
BOA NOITE CINDERELA Esse compromisso, não cumprido, nos leva a perguntar: além de vítima do preconceito também temos que ser vítima do Conto do Vigário?
Nossa cidadania vale menos após a campanha? É o que parece, pois mesmo com mais de um ano, sem diálogo, sem proposta e sem projeto, a resposta: Silêncio! *Ativista gay e Presidente do Movimento Gay Leões do Norte