Da Agência Brasil Brasília - Após negar que o faria, a Polícia Federal divulgou trechos editados do áudio de uma reunião ocorrida em São Paulo na última segunda-feira, entre delegados e diretores, com o intuito de comprovar que o delegado Protógenes Queiroz deixou por vontade própria o comando do inquérito da Operação Satiagraha.

A gravação reproduz um diálogo entre Protógenes e o diretor de Combate ao Crime Organizado, Roberto Ciciliati Troncon Filho.

O delegado reconhece ter criado um problema e manifesta interesse em colaborar na continuidade das investigações, mas diz expressamente não querer mais presidir o inquérito.

Protógenes: (…) “Eu criei um problema para os meus colegas delegados, um grande problema, e para você também.

Então minha proposta é essa, permanecer minha vinculação ao seu gabinete, à sua disposição até o final do trabalho, para não ficar aquela pecha de que Brasília vem fazer operação nos estados e deixa no meio do caminho.

As minhas nunca ficaram e a exemplo dessa, não vai ficar, mas com um diferencial: eu não vou ficar presidindo, não pretendo presidir nenhuma investigação, mas ficar coletando dados, analisando…”.

Em resposta a Queiroz, antes que ele concluísse o raciocínio, Troncon condiciona a permanência do delegado à conclusão do inquérito antes que ele iniciasse a parte presencial de um curso de formação, com início previsto para a próxima segunda-feira em Brasília.

O curso foi o argumento usado pela PF para justificar o afastamento do delegado.

Troncon: “Se eventualmente, dentro do desdobramento natural desse inquérito que você instalou, se você conseguir concluir antes do período de você ir para a academia, sem nenhum problema.

Agora, se não conseguir dentro da melhor técnica, e isso requerer maior tempo e maior análise, aí a gente passa para um dos colegas”.

Em outro trecho da reunião, Protógenes agradece o apoio recebido dos seus superiores e faz uma autocrítica em que admite falhas na condução da Operação Satiagraha, especialmente em relação à presença de uma emissora de TV no momento em que se efetuavam prisões.

Protógenes: “Não preciso nem falar com relação ao doutor Troncon, que é um chefe ímpar, que me deu toda essa…

Eu devo praticamente 100% da execução dessa operação a dois homens de bem dessa Polícia Federal.

Primeiramente eu destaco o doutor Troncon.

Em seguida, o doutor Leandro [Daiello, superintendente da Polícia Federal em São Paulo] e em terceiro, como coadjuvante dos dois, eu não poderia esquecer aqui o dr.

Luiz Fernando Côrrea [diretor-geral da PF], a quem prezo e tenho um carinho muito grande.

Então ele era sabedor dessa operação e correu tudo bem.

Aqui hoje é uma avaliação de erros para nos corrigirmos e nos policiarmos.

Então houve a presença da imprensa aqui em São Paulo?

Houve.

Quem falhou?

O Queiroz [delegado se refere a ele mesmo] falhou, porque o Troncon me depositou [confiança] e eu firmei compromisso com ele, mas falhou o meu controle”.