O dono do Banco Opportunity, Daniel Dantas, tem depoimento marcado para amanhã (18) na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, informou o seu advogado, Nélio Machado.

Esse será o segundo interrogatório ao qual o banqueiro comparecerá nesta semana na PF na capital paulista - o primeiro foi ontem (16), quando ele se negou a responder às perguntas do delegado Protógenes Queiroz, coordenador da Operação Satiagraha.

Dantas é acusado pela PF de corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, evasão de divisas e sonegação fiscal.

Além do depoimento de amanhã na PF, Dantas também já tem agendado um interrogatório na Justiça Federal em São Paulo.

No dia 7 de agosto próximo, o banqueiro será ouvido pelo juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de SP, que acompanha a operação.

O magistrado aceitou a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal contra o banqueiro, o professor universitário Hugo Chicaroni e o ex-presidente da Brasil Telecom Humberto Braz.

Chicaroni e Braz são os únicos dois acusados pela PF na Operação Satisgraha que ainda continuam presos.

O professor universitário está na carceragem da Polícia Federal em São Paulo, e o ex-presidente da Brasil Telecom encontra-se recolhido na penitenciária de Tremembé.

O juiz De Sanctis também vai ouvidos: Chicaroni será interrogado no dia 5 de agosto, e Braz, no dia 7.

Segundo o juiz, os três teriam oferecido vantagens indevidas de “pagamento de altas somas em espécie” ao delegado federal Victor Hugo Rodrigues Ferreira, integrante da equipe da Operação Satiagraha.

Num encontro num restaurante da capital paulista, Chicaroni teria oferecido inicialmente R$ 50 mil ao delegado para obter informações sobre um investigação da PF envolvendo Dantas.

Após receber a confirmação de que a operação existia, Chicaroni disse ao delegado que Braz estaria autorizado por Dantas a lhe oferecer-lhe até US$ 1 milhão para retirar o nome do banqueiro, de sua irmã, Verônica Dantas, e de seu filho das investigações.

Em um dos diálogos transcritos durante a investigação, Dantas conversa com Braz e pede para que ele mantenha contato com o delegado Protógenes para tentar suborná-lo.

Humberto: Alô… oi…

Dantas: Oi… não… o Chico acabou de me ligar que ele esteve com a Aline e ela disse pra ele uma coisa um pouquinho diferente do que disse pra você, acho até que disse pra vc certo…

Mas não mencionou esse assunto de que houve aquela discussão…

Humberto: Tá…

Dantas: Meio que colocou que o objetivo continua sendo o original… e quem tá responsável é esse Protógenes mesmo…

Humberto: Sei.

Eu acho também, é o que eu acho também… eu não tenho… aliás eu não tenho dúvida nenhuma até porque afinal ele teria…

Dantas: Ele não tinha dito que tinha recebido de Otávio uma orientação em direção oposta?

Humberto: Não, ele não recebeu… ele tem…

Dantas: Ele não… ele soube que foi recebido…

Humberto: Soube e eu não tenho dúvida nenhuma que recebeu, pelos detalhes que ele deu…

Dantas: Tá bom…

Humberto: Nenhuma, nenhuma…

Dantas: Agora já que identificou quem é…

Humberto: Agora ele tem… o problema é que ele em um contato ali que ele quer proteger até o fim da vida, viu?

Então ele… ele não vai nem confirmar isso aí não…

Dantas: Confirmar para você?

Humberto: Não… prá mim tudo bem… prá mim tudo bem, eu tô dizendo ele…

Dantas: Não… eu sei, mas minha pergunta é: se dá… se a gente já sabe quem é, o endereço… se não podia entrar em contato…

Humberto: Mas o problema é que já entrou e ele disse que não, né?

Então…

Dantas: Não entrou diretamente com… não Humberto: Entrou, entrou, entrou… não, tudo bem, através de pessoas, mas se entrar diretamente, também vai dizer que não… mas nós estamos bolando um caminho aqui… um caminho jurídico aí… é… bem desenhado…

Em sua decisão, o juiz afirma que as investigações conduzidas pela Polícia Federal revelaram indícios suficientes de autoria e materialidade do crime, incluindo a confissão dada por Chicaroni em seu depoimento à Polícia Federal na semana passada, quando ele confirmou ter procurado o delegado Victor Hugo Ferreira para questioná-lo “sobre a possibilidade de que fossem passadas informações ao grupo Opportunity sobre a investigação envolvendo o mesmo grupo”.

Chicaroni também confirmou ter entregue ao delegado a quantia de R$ 50 mil, “a título de primeiro encontro” e também pela promessa de obter mais informações sobre o caso.

Durante o depoimento, Chicaroni confirmou ao delegado Protógenes Queiroz que ele e Braz marcaram um encontro num restaurante de São Paulo e ofereceram a Victor Hugo a quantia de US$ 1 milhão e que teria entregue ao delegado R$ 80 mil desse total.

O restante, cerca de R$ 865 mil, foi levado à sua casa por pessoas ligadas ao banco e deveria depois ser entregue ao delegado. “Quem coordenou a entrega dos valores foi uma pessoa de nome Humberto [Braz], executivo do banco Opportunity”, disse Chicaroni, em depoimento.

Quando a operação foi deflagrada, no dia 8 de julho, essa quantia em dinheiro foi apreendida pelos policiais federais na casa do professor universitário.

Outro indício que levou o juiz a acreditar em crime foi uma busca feita na casa de Dantas, que levou a Polícia Federal a apreender um documento chamado “Contribuições ao Clube”, onde se encontram escritas expressões como “contribuição para que um dos companheiros não fosse indiciado criminalmente”, acompanhado de um valor – ainda não se sabe em que moeda – de 1,5 milhão.

Em outra folha manuscrita, com timbre do hotel The Waldorf Asturia, lê-se “usar o assunto da polícia para produzir notícia e influenciar na justiça”.

Da Agência Brasil