Entre as provas de peso citadas pelo procurador da República Rodrigo de Grandis estão as conversas telefônicas que vinculam Humberto Braz a Daniel Dantas.

Em um dos grampos telefônicos, Dantas teria dado ordens a Braz para que ele oferecesse US$ 1 milhão ao delegado da polícia federal.

Veja a íntegra da denúncia aceita contra o banqueiro hoje em São Paulo aqui.

Do site do MPF de São Paulo O Ministério Público Federal em São Paulo ofereceu denúncia e a 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo abriu hoje processo contra Daniel Valente Dantas, Humberto José da Rocha Braz e Hugo Sérgio Chicaroni pelo crime de corrupção ativa.

A denúncia relata detalhadamente como Daniel Dantas articulou o oferecimento de propina para um delegado federal com o intuito de que seu nome, de seu filho e de sua irmã Veronica Dantas deixassem de ser alvos da investigação da PF que culminou na Operação Satiagraha.

A partir de agora, Dantas, Braz e Chicarone passam a ser réus.

O processo pelo crime de corrupção ativa é o primeiro da Operação Satiagraha e não significa o arquivamento das investigações contra Dantas pelos crimes de gestão fraudulenta de instituição financeira, concessão de empréstimos vedados, evasão de divisas e crime de quadrilha ou bando que ainda permanecem em apuração.

Braz e Chicaroni estão presos preventivamente.

O primeiro se entregou no último domingo.

Chicaroni, desde a deflagração da operação, em 8 de julho.

Nos dias 18 e 23 de junho, em ação policial controlada autorizada pela Justiça Federal, Humberto Braz, que é ex-presidente da Brasil Telecom Participações e braço direito de Dantas, e o consultor Chicaroni ofereceram, por ordem de Dantas, US$ 1 milhão ao delegado federal Vitor Hugo Rodrigues Alves Ferreira para que ele retirasse das investigações Dantas, seu filho e Verônica.

Segundo a denúncia, após a publicação, pelo jornal Folha de S.

Paulo da reportagem Dantas é alvo de outra investigação da PF´´, em 26 de abril de 2008, Dantas passou a envidar esforços no sentido de descobrir detalhes acerca da apregoada investigação, valendo-se, para a execução de tal mister, de Humberto Braz e Hugo Chicaroni´´.

Nas investigações foi apurado que Chicaroni foi apresentado ao advogado Wilson Mirza Abraham, que trabalha para Dantas.

Mirza perguntou se Chicaroni havia visto a reportagem e se ele conhecia o delegado Protógenes.

O consultor disse que sim.

DANTAS MANDOU - A investigação revela que Dantas sabia de tudo.

A interceptação telefônica autorizada judicialmente demonstra que Dantas teve duas conversas com Braz no último dia 5 de maio na qual trata sobre o andamento da apuração que ele desencadeou para tentar descobrir em que estado da federação tramitavam os autos.

Vinte dias após o contato entre Chicaroni e Mirza, o consultor procurou Protógenes.

O delegado que comanda as investigações o encaminhou para Vitor Hugo, alegando que não estava mais no caso.

Em 11 de junho, Vitor Hugo recebeu telefonema de Braz, que pedia uma reunião para que conversassem sobre a nova investigação contra Dantas.

Este telefonema motivou o pedido do delegado para que fosse feita a quebra do sigilo telefônico de Braz e o início do procedimento de ação controlada e escuta ambiental.

Autorizada judicialmente a ação, a primeira reunião ocorreu entre Chicarone e o delegado aconteceu uma semana depois em um restaurante de São Paulo.

Na ocasião, Chicaroni disse que já havia recebido R$ 50 mil que estariam à disposição em troca do primeiro contato com o delegado.

Na conversa, o consultor disse que a propina estava orçada em US$ 500 mil para ``resolver o caso´´, mas que o valor poderia ser aumentado com o consentimento de Dantas.

Do restaurante, ambos seguiram para o apartamento de Chicaroni e o delegado pegou os R$ 50 mil, que foram apreendidos na PF.

US$ 1 MILHÃO - Em 23 de junho, Braz encontrou-se com Chicaroni e o delegado no mesmo restaurante de Higienópolis.

Para comprovar a investigação, o delegado mostrou alguns documentos do caso que não comprometiam a apuração e mais uma vez, agora a três, passaram a discutir o valor da propina.

Braz levantou o dedo indicador para cima, demonstrando que o valor da corrupção poderia atingir US$ 1 milhão.

Braz disse que já estava autorizado por Dantas a pagar esse valor e que o faria em duas vezes de US$ 500 mil, uma parcela antes da deflagração da operação e outra depois.

Em 25 de junho, a menos de 15 dias da deflagração da operação, ocorreu o último encontro, num restaurante que fica na mesma rua do apartamento de Chicaroni, no qual o consultor informou que tinha mais R$ 80 mil para entregar ao delegado a título de adiantamento da primeira parcela do suborno.

O dinheiro foi contado e apreendido, mas havia apenas R$ 79.050,00.

Em depoimento à PF, após sua prisão, Chicaroni disse que após a última conversa com o delegado, recebeu, em diversas entregas, R$ 865 mil destinados ao pagamento da propina.

O dinheiro, segundo o depoimento, foi levado para ele por pessoas ligadas ao Grupo Opportunity.

Quem coordenou a entrega dos valores foi Braz, afirmou Chicaroni à PF.

Na casa do investigado, no dia da operação, foram apreendidos pelos policiais R$ 1.180.650,00.

Na cota da denúncia remetida ao juiz Fausto Martin de Sanctis, o procurador da República Rodrigo de Grandis pede que seja aberto um inquérito policial específico para apurar se o advogado Wilson Mirza Abraham e Verônica Dantas participaram do crime de corrupção ativa.