No Estadão O ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), está convencido de que é preciso colocar um ponto final no abuso de autoridade que, na avaliação dele, tem caracterizado boa parte das operações deflagradas pela Polícia Federal.

Hoje, o dirigente da instância maior do Judiciário deverá reunir-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar do tema.

A iniciativa do ministro vem no rastro da Operação Satiagraha, que na semana passada levou para a cadeia o banqueiro Daniel Dantas, o investidor Naji Nahas, o ex-prefeito Celso Pitta e outros 14 acusados de integrarem suposto esquema de desvio de recursos públicos, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Convencido de que as prisões são um abuso, Mendes decretou a soltura dos investigados e abriu intensa polêmica com magistrados de primeira instância e procuradores da República - ontem, eles fizeram ato de protesto em apoio ao juiz Fausto Martin De Sanctis, que havia ordenado a prisão de 24 alvos de Satiagraha.

O ministro busca apoio de Lula para fazer avançar uma proposta que iniba excessos por parte de agentes encarregados de missões amparadas por decisões judiciais.

Recentemente, Mendes conversou uma primeira vez com o presidente sobre o tema.

Ele contou a Lula sobre sua preocupação com os casos que, segundo o ministro, caracterizam abuso, incluindo histórias de vazamentos de informações protegidas pelo sigilo e o grande volume de interceptações telefônicas.

Mendes anotou que, em muitos casos, as operações da PF - que classifica de “espetacularização” -, em parceria com o Ministério Público Federal, nem sequer rendem denúncia contra os investigados.

Há, de acordo com o ministro, vários exemplos que reforçam essa conclusão.

Ele sustenta que, em muitos casos, o oferecimento de denúncia leva meses para ser apresentado.

Citou a Operação Navalha, que pegou o empreiteiro Zuleido Veras, em 2007. “Há dificuldades na apresentação da denúncia”, disse o ministro. “Há casos muito complexos, como os que envolvem crimes financeiros e de lavagem de dinheiro, que por suas peculiaridades são diferentes daqueles praticadas no meio da rua, como o roubo”, reagiu o procurador da República Rodrigo de Grandis. “Esse tipo de caso exige preparação maior, uma investigação mais longa.

São crimes complexos que demandam análise contábil e financeira.

Não se pode comparar denúncia sobre crime de estelionato, por exemplo, com uma denúncia contra a criminalidade organizada que requer uma apuração minuciosa, exaustiva.

Eventual demora significa um cuidado maior na denúncia.”