Por Edilson Silva* Não, não é João da Costa, é João dá as Costas mesmo. É assim que deve ser chamado e ficar conhecido o candidato do PT à prefeitura do Recife, coligado com mais de uma dúzia de partidos.

João dá as Costas para a democracia, para o debate político, para a sociedade civil organizada, dá as Costas para o Recife.

Chegamos a esta conclusão após o desrespeito deste candidato e de sua coordenação de campanha para com o debate realizado no último dia 13 de julho na sede do MTC – Movimento dos Trabalhadores Cristãos, promovido por esta tradicional entidade ligada às forças progressistas de nossa sociedade, em parceria com o Fórum Permanente pela Ética na Política.

Convidado formalmente pela organização do debate, a candidatura de João dá as Costas não só não compareceu, como também sequer se dignou a mandar uma justificativa para a ausência.

Outros candidatos, impossibilitados de comparecer, tiveram suas respeitosas justificativas lidas para o público presente.

Três candidatos compareceram, Edilson Silva, do PSOL, e os candidatos do PCB e do PSTU, e puderam expor para um público formado por lideranças populares um bom debate sobre os rumos da nossa cidade.

Recentemente, em debate promovido pela Confraria da Educação, João dá as Costas também não compareceu, argumentando problemas de saúde.

Há alguns dias, em outro debate, promovido pelo Clube de Engenharia de Pernambuco, João de novo deu as Costas e se ausentou, segundo ele por falta de regras claras.

Na série de artigos dos prefeituráveis do Recife, publicados regularmente por um conceituado blog de política, João dá as Costas negou-se a escrever aos leitores, até onde sei sem justificativa alguma.

Ao dar as costas para o debate eleitoral, este João, que também poderia ser chamado de fujão, conseqüentemente dá as costas para a nossa cidade.

Só enxergo três fatores que podem justificar este fato.

O primeiro é o despreparo completo de João dá as Costas para enfrentar um debate franco e aberto com os demais candidatos ou com os recifenses que não são seus cabos eleitorais.

O segundo é sua impossibilidade de defender a atual gestão, que efetivamente não cuidou das pessoas, mas desrespeitou os direitos cidadãos de nossa população.

O terceiro é a aposta de todas as suas “fichas” na falência da pouca democracia que nos resta, ou seja, a tentativa de se eleger montado na máquina da prefeitura e em peças publicitárias, com uma campanha milionária.

No caso em questão, parece que houve uma mistura de cada um dos fatores.

Despreparo, insegurança na defesa da “grande obra” que diz ter ajudado a construir e muito dinheiro pra gastar.

Se ele estivesse com uma dianteira segura nas pesquisas de intenção de voto, talvez pudéssemos creditar-lhe a tática, mesmo assim equivocada, de não colocar-se em risco expondo-se ao debate público, mas esta não é a realidade.

Só podemos concluir que João dá as Costas e seus aliados estão tentando comprar um mandato de prefeito, tentando vender-se para o povo como uma mercadoria, com publicidade e propaganda, com muitos cabos eleitorais, mas sem debate, sem discussão e sem democracia.

Esta postura da candidatura de João dá as Costas não é um ato isolado, mas a demonstração inequívoca das opções políticas que já exercem supremacia absoluta no PT e nesta ex-esquerda.

Ao coligar-se e estabelecer relações orgânicas com as elites conservadoras e retrógradas de nossa sociedade, passa a agir como elas sempre agiram, passa a ser ela própria, apostando na anti-cultura, na deseducação, no aniquilamento humanístico, mercantilizando a democracia e investindo na ignorância da população. É uma degeneração sem limites.

Eleições não devem servir apenas para se aferir ao final quem conseguiu amealhar mais votos.

O resultado quantitativo dos votos deve ser respeitado por todos, mas é preciso que todos, sobretudo os atores políticos que se dispõem à vida pública, respeitem o processo democrático, que tem a ver com o resultado qualitativo do processo eleitoral, ou seja, seu caráter pedagógico, de exercício pleno da democracia e da cidadania.

João dá as Costas para este caráter pedagógico e para este exercício da cidadania, que pressupõem direitos e deveres a todos, principalmente aos candidatos.

Um candidato desta natureza não pode ser considerado de esquerda ou progressista, jamais.

Nós do PSOL reivindicamos o debate político.

Iremos a todos os debates, entrevistas, painéis, sabatinas, rodas de diálogo, e quaisquer outros formatos de interação de idéias que a população, através de suas entidades, instituições, imprensa, movimentos sociais e toda e qualquer forma de organização social nos convidar.

Fazemos isso porque estamos preparados para qualquer debate, porque acreditamos no nosso projeto, porque confiamos que temos as melhores propostas e concepções para a nossa sociedade, porque acreditamos que os debates contribuem na formação de uma consciência social mais elevada, e porque acreditamos que as campanhas que só apresentam dinheiro e marketing como proposta são as grandes responsáveis pelo mar de lama que afoga a política em nosso país. *Presidente do PSOL/PE e candidato à Prefeitura do Recife.