Faça mais pelo Recife Por Roberto Numeriano A cidade do Recife tem hoje duas faces.

Uma, brilha com sofisticadas lojas em grandes centros de compra, nos bons prédios de apartamentos em bairros com infra-estrutura e saneamento, nos grandes e bons colégios de alta qualidade de ensino.

Outra, envergonha-nos a cidadania e o orgulho face às palafitas e favelas, baixa qualidade do ensino na rede municipal, baixo índice de saneamento, rios poluídos, violência e surtos de doenças como a dengue.

Tudo isso é conhecido pelos recifenses.

Mas, o que explica vivermos numa cidade de fortes antagonismos de natureza econômica e social?

O que explica o Recife ser detentor do maior PIB per capita do Nordeste, e exibir, ao mesmo tempo, uma concentração de renda nas classes A e B que salta aos olhos?

Para o Partido Comunista Brasileiro (PCB), instituição pela qual me apresento como candidato a prefeito, a dimensão da gravidade desses problemas no Recife, além de sua contínua reprodução, precisa ser explicada, entre outros aspectos, a partir do seu modelo de gestão pública.

Assim afirmamos por que, a despeito das diferenças político-ideológicas dos dois últimos gestores da cidade, vemos que os problemas têm se avolumado, a despeito, até, de maiores investimentos orçamentários.

O modelo de gestão do município é conservador.

Ele está, em primeiro lugar, excessivamente concentrado na liderança pessoal do prefeito, como se o Recife fosse aquela cidade dos anos 50 e 60, na qual o gestor, face aos problemas, podia conhecer e decidir com eficácia e rapidez.

O efeito desse poder concentrado na mão de um Executivo que pouco delega é retardar a discussão e as respostas de políticas públicas.

Essa prática influencia diretamente a relação com a Câmara Municipal, independentemente do predomínio de legendas à esquerda ou à direita com assento na casa.

Uma prova disso é a interminável discussão em torno do Plano Diretor da cidade, questão estratégica fundamental para balizar as políticas de saneamento e abastecimento, transportes e vias, saúde e lazer, meio ambiente e habitação etc.

Em segundo lugar, verificamos que os gestores não têm pensado a cidade estrategicamente.

Basta ver que a prefeitura “corre atrás do prejuízo” em áreas sociais e econômicas que demandam estudos, planos e programas cujas gestões postergam discutir e aplicar.

O efeito disso é observável nas soluções quase sempre paliativas.

Mal comparando, um exemplo disso é o lastimável estado de conservação da malha viária municipal: tapam-se os eternos buracos, que depois renascem com as chuvas.

Em décadas, ninguém projetou a recuperação estrutural dessa malha, pelo menos nas vias estratégicas do município.

Por que, em oito anos, somente as avenidas.

Caxangá e Conde da Boa Vista sofreram intervenções estruturais?

Por que a Mascarenhas de Morais e a av.

Norte sofrem apenas intervenções paliativas?

O modelo de gestão conservador tem ainda efeitos perversos em termos da relação política entre os cidadãos e o poder público municipal.

Tome-se como exemplo o processo de discussão e gestão do orçamento participativo, em muitos casos refém de interesses de grupos (cabos eleitorais, muitas vezes) que manobram associações de moradores e comunidades.

Desvirtua-se uma boa idéia porque uns “participam” mais do que outros…

O que fazer, em cada caso apontado acima?

Recife não é apenas multicultural, mas também multiproblemático.

No primeiro caso, nossa proposta é dividir a cidade racionalmente, agrupando os bairros que tenham em comum aspectos sociais, culturais e econômicos, e daí discutir projetos e programas numa perspectiva estratégica.

A gestão desses bairros será feita por um sub-prefeito, necessariamente um técnico em cuja equipe sei integrem moradores, especialistas e voluntários sob um regimento que defina direitos e deveres.

No segundo caso, não é mais possível gerir o Recife nos moldes da prevenção contra as catástrofes (construção e/ou reforço de encostas de morros, por exemplo), sem planejar e adotar políticas que evitem a acelerada ocupação dessas e outras áreas.

A inexistência de uma política habitacional explica porque é crescente a ocupação dos morros, enquanto os sucessivos prefeitos esmeram-se orgulhosamente na divulgação de quantas lonas pretas distribuíram ou quantas encostas fora reforçadas.

Apenas isso.

Nossa proposta é formular a gestão do Recife inspirando-se no seu Plano Diretor.

Nesse sentido, há que se contar com os especialistas, sim, e não apenas a visão “política”.

Urbanistas, engenheiros, arquitetos, médicos sanitaristas, especialistas em transportes urbanos e engenharia de tráfego etc, E esta gestão deve estar atrelada a um compromisso de longo prazo, ou seja, deve projetar a cidade para além do tempo do governo que está no comando do governo.

São estas, em termos resumidos e conceituais, algumas idéias que configuram a pedra de toque de nossa proposta de gestão do Recife.

Nos próximos sábados, vamos apresentar outras propostas, mais específicas, relativamente aos problemas que afligem e agridem a nós, recifenses.

Desde já, agradecemos ao Jamildo este espaço de discussão e divulgação de nossas idéias.

Medite sobre a nossa candidatura, Faça mais pelo Recife.