Por Edilson Silva* Nossa candidatura à prefeitura do Recife recebeu esta semana mais um apoio político importante.
O ex-juiz Clóvis Correia, que já foi vereador do Recife e candidato ao governo do estado em 2006, teve sua pré-candidatura à prefeitura do Recife inviabilizada pela direção do PSDC, e decidiu dedicar-se a fortalecer nosso projeto.
Confesso que recebi com surpresa o apoio de Clóvis Correia.
Fiquei sabendo pela imprensa, pois a última vez que havia falado com ele pessoalmente foi em 2006, nos bastidores do debate entre os candidatos ao governo do estado promovido pela Rede Globo.
Nos últimos dias tentei falar-lhe por telefone, para prestar solidariedade pela situação em que se encontrava no PSDC, mas não tive sucesso.
Além da surpresa pelo apoio sem uma única palavra prévia, fiquei surpreso também pela precipitação de um tipo de apoio que julguei que só viria no transcorrer da campanha propriamente dita, período em que a força do nosso projeto teria melhores condições de dialogar com espectros sociais e políticos mais variados.
Mas, antes de definirmos a forma como receberíamos o apoio de Clóvis Correia, pois o PSOL e os construtores de nossa candidatura são corretamente exigentes e principistas, tivemos que responder a uma questão fundamental: qual base política dará aderência a este apoio?
Teve peso preponderante em nossa definição os posicionamentos políticos de Clóvis Correia no último período e sua auto-crítica em relação à sua localização política anterior, o que estabelece uma linha de coerência em direção às posições políticas de nossa candidatura, que se pretende mais ampla que o PSOL.
Na luta pela regulamentação do transporte alternativo, Clóvis Correia foi inegavelmente um dos maiores apoiadores dos chamados “kombeiros”, estando ao lado destes até hoje contra o cartel das empresas de ônibus, assentado na EMTU, e apoiado pelas prefeituras e pelo governo do estado.
Por este gesto corajoso, Clóvis Correia passou por uma forte campanha de desqualificação sobre os setores médios da sociedade.
Em 2006, Clóvis Correia, como candidato ao governo, declarou apoio à Heloisa Helena na corrida presidencial.
Ainda no processo eleitoral de 2006, foi um dos mais ácidos críticos das campanhas eleitorais milionárias, denunciando que o seqüestro do estado pela corrupção tem nestas campanhas uma de suas causas, defendendo, assim como o PSOL, um outro formato de financiamento.
Ainda em 2006 fez de sua campanha uma trincheira de críticas contra a CELPE privatizada, denunciando os desmandos e a truculência que tomaram conta das relações entre a empresa fornecedora de energia elétrica e os consumidores, sobretudo os de baixa renda.
Com estes e outros posicionamentos políticos sendo levados às últimas conseqüências, e sendo Clóvis um sujeito de presença política marcante, com boa capacidade de comunicação de massa, e tendo ele um apetite flagrante para divulgar suas idéias em palanques majoritários, se tornaria impossível sua presença junto às siglas partidárias tradicionais, patrocinadoras de tudo aquilo que ele critica.
O fato de estarmos numa eleição municipal muito disputada, fez de Clóvis Correia uma vítima fácil dos predadores políticos de plantão.
Portanto, é este o Clóvis Correia que recebemos para apoiar nossa candidatura.
Um sujeito que sabe o que é a candidatura do PSOL, uma candidatura de um partido que condenou e condena veementemente gestos como distribuir dinheiro aos pobres com viés eleitoral, como Clóvis permitiu ser interpretado em episódio na Ilha de Deus, numa prática equivocada, pois a linha que separa um gesto de solidariedade a uma família que perdeu tudo num incêndio, como foi o caso, a um gesto de clientelismo eleitoral e compra de votos, é praticamente invisível quando se trata de políticos, ainda mais em período pré-eleitoral.
Recebemos o apoio político de um sujeito que publicamente assumiu suas arengas ideológicas contra os caciques dos partidos de direita que freqüentou, como o PSDB, assumindo seus equívocos políticos, e que admitiu que sua aproximação de nossa candidatura é fruto de um processo de decantação.
Recebemos o apoio de um ator político que tinha tudo para associar-se ao capital, para somar-se a empreendimentos político-econômicos e esquemas de poder que certamente lhe foram oferecidos, mas optou por emprestar seu apoio a um projeto radicalmente alternativo e de esquerda, sem fazer absolutamente nenhuma reivindicação, mas aceitando nossos pontos de vista políticos e nosso modo de fazer política.
Como era de se esperar, alguns setores já começam a espernear diante deste fato.
A imprensa em geral deu mais atenção a um suposto apoio material que desembarcaria em nossa candidatura com a adesão de Clóvis Correia.
Outros setores, como o Blog Acerto de Contas, chegaram ao extremo de inventar frases supostamente ditas por mim para desqualificar o apoio recebido.
Aqui é importante salientar que a essência e a força da nossa candidatura estão nos seus aspectos imateriais, e não na sua estrutura material.
Nossa forma de fazer a campanha está intrinsicamente ligada às nossas propostas e idéias, e estas foram e estão sendo definidas nos debates no PSOL, em nosso Conselho Político, a partir do Fórum Pensando Recife e em nossas plenárias de candidatos a vereadores.
Faremos uma campanha sob o olhar da periferia da cidade e atacando os problemas da democracia e do meio ambiente, sempre conectando com nosso projeto nacional.
Nossa campanha está sendo feita e continuará sendo feita por voluntários: militantes do PSOL, intelectuais, professores universitários, jornalistas, médicos, advogados, aposentados, engenheiros, sociólogos, artistas, estudantes, jovens das periferias, desempregados, pedreiros, artesãos, garçons, donas de casa, etc.
Nosso guia de tv será produzido pelo jornalista e documentarista, voluntário, Daniel Barros.
Nossa ilha de edição será um lap top.
Nossa campanha na internet estará a cargo do estudante e webdesigner, voluntário, Pedro Cavalcanti.
Nosso programa de rádio deverá ficar a cargo de um grupo de estudantes de comunicação, voluntários, da Faculdade Maurício de Nassau.
Nossa assessoria de imprensa terá o reforço voluntário da jornalista Fábia Lemos.
Toda esta engenharia voluntária de comunicação está sendo feita com o aconselhamento, também voluntário, do jornalista Gerson Flávio, e supervisionado pela secretária de comunicação do PSOL, Albanise Pires, que é servidora do Ministério Público Federal.
Não abrimos mão, em hipótese alguma, de desenvolver uma campanha com DNA militante, o que só conseguimos trabalhando coerentemente fidelidade ideológica, programática e metodológica.
Os reforços que Clóvis Correia vier a disponibilizar, como um carro de som com o qual ele já se comprometeu, por iniciativa própria, serão bem vindos para potencializar nossa campanha militante, nada mais.
Confesso que tenho interesse especial em apoio jurídico, pois em 2006 fomos massacrados covardemente pelo aparato jurídico de outras candidaturas, e se Clóvis Correia nos ajudar nisto será muito bom, pois a amolação de nosso discurso continua tão ou mais cortante quanto antes.
Temos interesse também em alguns estudos técnicos sobre a cidade, que Clóvis Correia dispõe, e que serão úteis para aperfeiçoar as propostas que temos para a cidade.
Sobre as críticas do blog Acerto de Contas, fiquei decepcionado com a equipe.
Os responsáveis pelo blog estão hoje contratados por candidatos a prefeito do Recife, da situação e da oposição, o que não os impediria de fazer um trabalho com um mínimo de isenção.
Mas a condição de alugado na política é assim mesmo, e os jovens estão sendo obrigados a mostrar serviço, fazendo o conhecido trabalhinho sujo.
Apesar de não concordar, entendo o medo dos seus respectivos patrões.
Esquerda com visão larga e de longo alcance assusta mesmo. *Presidente do PSOL/PE e pré-candidato à prefeitura do Recife e escreve todas as sextas-feiras para o Blog de Jamildo.