Numa declaração surpreendente, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou ontem que chegou a hora de as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) abandonarem a luta armada e libertarem todos os seus reféns.

Em seu programa dominical Alô, Presidente, Chávez disse ainda que está à disposição do novo líder da guerrilha, Alfonso Cano, para intermediar a libertação dos seqüestrados. “Chegou a hora de as Farc libertarem todos os reféns em troca de nada, o que seria um grande gesto humanitário”, declarou. “Essa é minha mensagem para você, Cano: liberte essas pessoas.

Há idosos, mulheres, pessoas doentes, soldados que estão presos nas montanhas há dez anos.” As Farc têm hoje 40 reféns políticos e 730 seqüestrados para fins de extorsão.

Para Chávez, a luta das Farc contra o governo colombiano não tem mais justificativa. “No momento que a América Latina vive hoje, uma guerrilha está fora de contexto.” As declarações de Chávez surpreenderam, pois ele vinha sendo um dos principais contatos da guerrilha na comunidade internacional e já defendeu publicamente a retirada do grupo da lista de organizações terroristas.

Ano passado, Chávez intermediou negociações pela libertação de seis reféns.

Além disso, foi acusado de apoiar as Farc, enviando-lhe dinheiro e armamentos.

As declarações do venezuelano ocorrem num momento em que a guerrilha está enfraquecida após sofrer uma série de golpes em sua liderança.

Em 1º de março, o número 2 das Farc, Raúl Reyes, morreu em um ataque aéreo colombiano no Equador.

Uma semana depois, Iván Rios, outro membro da cúpula, foi assassinado pelo chefe de sua segurança, Pedro Pablo Montoya.

Há duas semanas, o governo colombiano anunciou a morte do líder máximo do grupo, Pedro Antonio Marín – Manuel Marulanda ou Tirofijo.

No sábado, Chávez anunciou que a polêmica lei de inteligência e contra-informação, aprovada no final de maio, está suspensa e será modificada para corrigir “alguns erros”. “Escutei as críticas e concluí que há alguns erros.

Não me custa nada reconhecer isso”, disse.

A lei, que obriga qualquer cidadão, empresa ou organização a colaborar com os serviços de inteligência do país, sob pena de prisão, abriu um áspero debate entre o governo e a oposição, que acusou Chávez de violar os direitos humanos.