Por Ana Lúcia Andrade De Política, do JC Com base na análise de 150 eleições, o sociólogo Alberto Carlos de Almeida traçou a lógica que orienta o eleitor brasileiro na hora de escolher seu candidato.
A conclusão aponta para um critério simples.
Desprovidamente simples. “O brasileiro vota a favor do governo ou do candidato do governo se considera que sua vida está boa ou melhorou.
E no candidato da oposição se considera que sua vida está ruim ou piorou”.
Ou seja, o eleitor está para menos blablablá.
E mais, muito mais, para o pragmatismo.
Não quer correr riscos.
Só depõe contra o que está posto, se estiver insatisfeito.
Ou se for plenamente convencido de que pode ter algo melhor.
Em ano de eleições municipais, a conclusão de Almeida chega às bancas no livro A cabeça do eleitor (Editora Record) e parece explicar, em parte, o que estamos assistindo no período pré-eleitoral para a Prefeitura do Recife.
Ao contrário de outros pleitos, esta disputa vem sendo prematuramente marcada por propostas para melhorar a cidade.
O bate-boca, de tão próprio do embate eleitoral, ainda não perdeu totalmente seu espaço.
Mas o tom é outro.
E muito antes do programa eleitoral começar, e abrir alas para que as propostas se vistam da magia televisiva, a disputa para a Prefeitura do Recife tem exibido pré-candidatos atentos à agenda administrativa.
E que têm dito o que pretendem fazer pela cidade (veja em quadros algumas das sugestões).
Cientistas políticos ouvidos pelo JC concordam que esta eleição do Recife deve mesmo ser menos pirotécnica e mais propositiva – termo que já vem endossando a promessa de comportamento de vários dos postulantes ao cargo de prefeito.
As explicações para se prever um “novo” debate eleitoral não residem apenas no ponto levantado pelo livro de Carlos de Almeida.
Embora concordem com a tese, o perfil dos pré-candidatos em disputa contribue muito, segundo os estudiosos, para um debate mais qualificado.
O cientista político da UFPE, Michel Zaidan, é um dos que destaca esse aspecto, associando-o ao fato de que essa será uma eleição muito competitiva, sem favorito, o que ajuda na qualificação do embate. “Essa não é uma disputa de cartas marcadas e os candidatos, cada um de um jeito, já tiveram experiência administrativa, têm proposta a apresentar, têm serviço prestado à cidade ou ao Estado.
Então tudo concorre para que a eleição seja melhor.
Mas cabe à imprensa, à Justiça Eleitoral e à população fiscalizarem para que eles cumpram o espírito que está aí, de uma campanha menos demagógica”, alerta.
A qualidade da gestão do prefeito João Paulo (PT) também é apontada como um fator que contribuirá para uma eleição marcada pelo debate, na avaliação de Zaidan.
Falhas à parte, o governo do petista, segundo ele, é um somatório de experiências positivas que os demais candidatos “não vão querer voltar atrás”. “Isso ajuda a elevar o debate.
Os candidatos terão que ter ter um discurso pragmático e perto do que vem sendo colocado em prática.
Não vão inventar coisas impossíveis de fazer.
Podem fazer críticas pontuais, mas recuperando o que tem de positivo nesses programas.
E há, de certa maneira, um amadurecimento dos candidatos.
Eles estudaram a pauta do que é a administração municipal”, acredita.
Cientista Político da Universidade Católica, o professor Thales Castro também credita à “experiência” e à “maturidade”, no exercício de algum cargo eletivo, dos principais pré-candidatos as chances de termos uma eleição com menos ataques pessoais e mais propostas.
Mas é a passagem do PT por oito anos de governo da capital – fato que, segundo ele, gerou um “estilhaçamento” da disputa – que pode contribuir mais com esse cenário. “Sempre se viveu pleitos polarizados no Recife.
Esse não. É um pleito estilhaçado de candidaturas.
Isso exige um debate de idéias.
Os candidatos vão precisar se afirmar junto ao eleitorado”, avalia.
O cientista político André Régis também abona o perfil dos pré-candidatos de políticos mais voltados para o debate e menos para a troca de agressão, como uma característica que marca o pleito do Recife e favorece um debate eleitoral qualificado.
Chama a atenção, entretanto, para a possibilidade de que essa fase propositiva pode ficar restrita a esse momento da campanha, direcionada, segundo ele, apenas para a classe média. “Essa fase é voltada para o eleitor mais esclarecido.
Esse é o eleitor que está atento a pré-campanha, o que pensa a cidade.
Mas eleição é um jogo de dois tempos.
E, fatalmente, quando o guia começar, começa também o debate do imaginário.
Ao contrário do que ocorre agora, que é o debate do real.
Quando começa o guia, os candidatos, de certa forma, abandonam o eleitor mais exigente e se voltam para o menos esclarecido”.
O professor Régis pode até estar certo.
Mas como prega o publicitário Duda Mendonça, o eleitor sabe que todos dizem o que querem.
Por isso, lembra Duda, “a crebilidade da propaganda diminui muito durante a campanha”.
E mais, pontua o publicitário em seu livro Casos e Coisas (Editora Globo): “Quem bate, perde”.