Por Luciano Siqueira* Democracia é debate – de preferência em nível elevado, para que os interessados possam se esclarecer acerca dos pontos de vista dos litigantes e firmarem uma compreensão própria sobre o tema em tela.

Não ajuda, entretanto, quando o embate de idéias se dá rasteiro.

Ao invés de ir ao âmago da questão, não passa da superfície, ou da aparência – o que traduz visão míope ou tendenciosa.

Caso da crítica ao programa Recife sem palafitas que a Prefeitura realiza em parceria com o Ministério das Cidades.

Dizer que não passa de maquiagem (sic), sinceramente, não qualifica quem assim se pronuncia.

Como chamar de simples maquiagem um esforço real de requalificação urbana justo em áreas de alagados que estiveram por muito tempo carentes de uma intervenção pública?

Populações condenadas a um padrão de vida subumano, residindo em palafitas, são socorridas por ações que de natureza urbanística e ambiental; e capacitadas a se inserirem no mercado de trabalho e na vida comunitária.

Brasília Teimosa – que teve 1,3 km de sua orla urbanizada e mais de quatrocentas famílias que habitavam em palafitas beneficiadas – é o exemplo mais emblemático.

Aos que intitulam uma intervenção dessa magnitude de simples maquiagem, faria bem uma visita à Avenida Brasília Formosa, assim denominada pelos moradores desde que reurbanizada.

Ao Conjunto Habitacional da Torre e do Cordeiro, onde hoje residem em 320 unidades habitacionais família oriundas das comunidades Arlindo Gouveia e José de Holanda, que há 70 anos viviam em palafitas às margens do Capibaribe.

Ou ao Conjunto do Cordeiro, em que 704 apartamentos abrigarão em definitivo famílias transferidas de Brasília Teimosa, da Vila Vintém II e do Bueirão.

Que se debata o problema habitacional do Recife apontando soluções sob o primas de cada candidato, ao invés de tentar “desconstruir” (como costumam recomendar os marqueteiros) o que se faz com seriedade e aguda sensibilidade para com o drama das populações mais pobres. “Desconstruir” leva a nada; apresentar propostas, ao contrário, conduz o eleitor a uma escolha consciente.

E é dever de todos os postulantes ao governo municipal contribuir para que assim ocorra. *Vice-prefeito do Recife e pré-candidato do PCdoB à Prefeitura, escreve para o Blog ás quartas, dentro da série “Recife 2008.

Debate com os prefeituráveis”.