Do UOL As mudanças climáticas previstas para as próximas décadas prejudicarão mais a produção de energia na região Nordeste.

Esta é uma das principais conclusões de um estudo da Coppe/UFRJ, que procura medir o impacto dos efeitos climáticos sobre a produção de energia a partir de fontes renováveis no período de 2071 a 2100.

O Nordeste sofrerá efeitos na geração de energia hidrelétrica, eólica e na produção de biodiesel.

A pesquisa foi patrocinada pelo Reino Unido por meio do Global Opportunity Fund e faz parte do projeto de uso dos cenários de mudanças climáticas para estudos de vulnerabilidade e adaptação no Brasil e na América do Sul.

Os pesquisadores ressaltam que, em razão do grande número de incertezas e da necessidade de bases de dados mais completas, o estudo é mais um indicador de tendências. “As regiões áridas se tornarão mais áridas e o problema da irrigação aumentará.

Haverá menor incidência de ventos.

O sistema energético do interior do Nordeste é menos robusto do que o do Sudeste e é menos capaz de responder a variações climáticas”, afirma Alexandre Szklo, um dos autores.

As hidrelétricas da bacia do São Francisco serão as mais atingidas, com perspectiva de queda na produção de energia de até 7,7% na estimativa mais pessimista.

Foram definidos dois cenários, um de emissões altas e outro de baixas emissões de gases do efeito estufa.

O primeiro prevê aumento de temperaturas e o segundo supõe chuvas e ventos mais reduzidos.

O estudo usa ainda as projeções do Plano Nacional de Energia 2030, da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).

Para José Goldemberg, físico da USP e especialista em energia, as conclusões não deixam dúvidas: “Isso mostra que o país não pode assumir a postura de que o problema não é conosco.

A questão do Nordeste está ligada à circulação de água na Amazônia.

O que devemos fazer é engajar o Brasil nas negociações internacionais que têm como finalidade reduzir as emissões de gases do efeito estufa”, afirmou.

Para o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, é preciso observar os resultados com cautela porque as projeções envolvem muitas incertezas.

Apesar disso, avalia os resultados como favoráveis, com perspectiva de expansão do álcool e queda pequena das hidrelétricas.

Sobre a oferta de energia no Nordeste, ele avalia que o fator regional tende a perder importância no futuro. “É razoável supor que daqui a 50 anos não vai haver limite de intercâmbio de uma região para outra.

Você vai ter transmissões com redes contínuas e outras tecnologias que estão nascendo, e a regionalização perde sentido”, disse.

Demanda em alta O estudo avaliou ainda o aumento da demanda de energia em razão das mudanças climáticas e verificou que haverá, no cenário mais pessimista, uma elevação de 8% no consumo total de eletricidade no país.

Foram levados em conta, nessa projeção, os aumentos da temperatura média e também do número de dias quentes.

O cálculo considera que o aparelho de ar-condicionado é ligado com temperaturas acima de 24C.

O consumo de eletricidade no setor residencial deve aumentar até 9% e o do setor de serviços, até 19%.

Em 2005, o uso de aparelhos de ar-condicionado nas residências representou 7,6 TWh (terawatts/hora), o equivalente a 9,2% do consumo total de eletricidade no setor residencial.

Para 2030, a projeção é de um consumo de 14,8 TWh, o que significaria uma participação de 5,2%.