Por Sérgio Montenegro Filho A direção nacional do PT de Lula vetou a iniciativa dos petistas mineiros de montar uma aliança em Belo Horizonte com o PSDB de Aécio Neves.

Em princípio, parece uma decisão natural, já que petistas e tucanos nacionalmente não se bicam. À primeira vista, um extenso terreno imaginário separa os dois partidos.

Mas não é bem assim.

Na definição moderna, partido é “a união voluntária de cidadãos com afinidades ideológicas e políticas”.

A divisão de políticos em agremiações distintas e opositoras surgiu na segunda metade do século 18, e se alastrou pelo mundo depois da revolução francesa e da independência dos Estados Unidos.

No Brasil, porém, a diferença entre PT e PSDB é muito tênue.

Numa justificativa primária, em nível nacional o PT é governo, o PSDB, oposição.

Nada além da tradicional polarização política.

Mas vejamos o cenário sob uma análise mais apurada: quais as reais diferenças entre as duas legendas? É certo que o PT tem boa penetração na classe baixa, enquanto o PSDB foi constituído, e se manteve, como um partido de classe média.

Também é fato que o PT conta com uma liderança forte de cunho popular - cujos índices de aprovação, por mais que seus aliados desastradamente se esforcem para arranhar - não caem.

Já os tucanos se penduravam na imagem de Fernando Henrique Cardoso, que saiu do governo deveras desgastada. É certo, ainda, que o PSDB assume a visão privativista, e que implantou no governo um escancarado programa de transferência do patrimônio estatal para grupos empresariais privados.

Talvez na esperança de ser sustentado por eles e garantir a longevidade no poder.

Os petistas, por sua vez, nunca abriram a boca para defender as privatizações, e ainda criticavam os tucanos.

Mas nem por isso deixaram de passar a mão na cabeça dos grandes empresários, que hoje aplaudem as medidas econômicas do governo Lula, a maior parte delas, herdada de FHC.

Ao mesmo tempo em que flertam com os poderosos, os dois partidos se empenham em aplacar a ira do populacho, com programas assistencialistas tipo bolsa-alguma-coisa.

Mas, resguardadas as questões regionais, as diferenças acabam por aí.

Então, vamos às semelhanças.

A principal delas talvez resida no fato de que ambos adotaram uma agenda política centrista, de espectro social-democrata, embora muito distante da social-democracia européia que os tucanos tanto pregam.

E ainda mais longe do utópico sonho socialista, que alguns petistas insistem em sugerir.

Chegando ao poder, o maior líder tucano renegou sua produção intelectual de esquerda - o famoso “esqueçam o que escrevi”.

Por sua vez, Lula - auxiliado por José Dirceu e outros ideólogos petistas - promoveu uma virada programática no congresso do PT em 2000, flexibilizando as teses antes antipáticas à elite.

O Lula peão, inimigo dos patrões, deu lugar ao Lulinha paz e amor.

A estratégia foi fundamental para garantir a vitória em 2002.

Quando, enfim, assumiu o poder, o PT passou por uma transformação de laboratório.

Ganhou asas e bico de tucano.

Seus caciques se distanciaram das bases e passaram a flertar com a elite.

Namoro lucrativo, com o qual Lula garantiu um segundo mandato.

Uma última semelhança: Nenhum dos dois jamais deixou seus aliados na mão.

Tanto FHC como Lula aparelharam o governo com seus correligionários e reservaram cargos e benesses aos partidos da base, em troca de apoio político e respaldo legislativo.

Toda comparação entre supostos antagonistas é, até certo ponto, perigosa.

Mas serve para dar um mínimo de noção de quão próximos estão os dois partidos.

E quão antiquados são ambos para o novo cenário político que se deseja no País, mais distante da institucionalidade e mais próximo das questões sociais.

Por outro lado, diante do exposto, ao contrário do que prega a direção nacional petista ao rejeitar os tucanos, é absolutamente possível se pensar em uma aproximação entre o PT e o PSDB.

Não somente a aliança, mas mesmo uma futura fusão das duas legendas não deveria jamais ser visto com surpresa.