Por Isaltino Nascimento O feito da atriz brasileira Sandra Corveloni, que ganhou o prêmio de melhor atriz em Cannes pela sua atuação no filme Linha de Passe, de Walter Sales, representa bem a riqueza do nosso povo.

Que anônimos, diariamente, investem no seu trabalho, qual quer que seja a profissão.

E anônimos seguem pela vida, apesar dos seus talentos, fazendo este país andar.

Em entrevista, um dos diretores do filme, Walter Sales, usou uma frase que resume esta situação: “Quantas pessoas no Brasil têm o dom de atuar e não conseguem espaço para expressar este talento.

Essa é nossa riqueza e nossa tragédia ao mesmo tempo”, disse, ao considerar ainda reduzido o número de filmes feitos por ano no Brasil, o que faz as vagas serem restritas nas produções.

Mesmo ainda faltando espaço em várias áreas de atuação, exemplos como o de Sandra são importantíssimos.

Não apenas para o cinema nacional, mas para todos aqueles que não perdem a esperança de lutar, dia-a-dia, pelos seus sonhos.

Como bem expressou a atriz, foi como se estivesse ganhando uma medalha em uma competição olímpica.

Usando como exemplo a dedicação dos desportistas, que em nosso país sempre estão nos surpreendendo com suas histórias de superação.

Feitos como esses, em qualquer ramo, alimentam a alegria de viver que nos faz uma das nações mais otimistas do mundo.

O que não quer dizer que devamos viver de devaneios.

Pelo contrário. É o que nos move a brigar e brigar, a cada dia, por aquilo em que acreditamos.

Temos certeza disso pela forma como se deu a escolha da atriz para o filme, como também pela própria história da personagem que nele interpreta.

Linha de passe foi construído com a reunião de pessoas que nunca haviam trabalhado em cinema antes.

A exigência era que tivessem talento e determinação.

E daí surgiu Sandra Corveloni, que para nós pode ser desconhecida, mas que atuava em teatro há mais de 20 anos e também é professora.

Talento reconhecido pela ousadia de Walter Sales, que mais uma vez marca pontos importantes para o cinema brasileiro fora do país, com um filme emblemático.

O papel de Sandra Corveloni, Cleusa, é o eixo moral que fala de uma mãe-coragem e seus quatro filhos, que querem mudar de vida pelo futebol.

Como disse a própria atriz, é a trajetória de uma família da periferia de São Paulo que enfrenta todas as dificuldades de se viver numa cidade gigantesca, “onde as pessoas são tratadas como números, são anônimas, onde os jovens terminam a escola e não têm muitas oportunidades e ficam tentando se apoiar em coisas que podem alavancar a vida para uma coisa melhor, como o futebol ou o subemprego”.

Exemplo de que trabalhar com amor, dedicação e vontade dá prêmio sim.

Mesmo que continuemos no anonimato.

PS: Isaltino Nascimento (www.isaltinopt.com.br), deputado estadual pelo PT e líder do governo na Assembléia Legislativa, escreve para o Blog todas às terças-feiras.