Por Isaltino Nascimento Hoje, terça-feira, 20 de maio de 2008, faz 10 anos do assassinato do grande guerreiro Xukuru de Pesqueira, o cacique Xicão.

Defensor incansável do seu povo e dos demais indígenas brasileiros ele tombou, em 1998, vítima do ódio dos latifundiários que invadiram as terras da sua etnia.

Na Serra do Ororubá, o dia não é de tristeza, mas de reverenciar a memória da trajetória de lutas deste povo, que sob a batuta de Xicão iniciou na década de 80 a mobilização que culminou com a retomada de suas terras.

A luta não foi fácil e ainda não está encerrada.

Pelo contrário.

Os Xukuru, como as demais etnias de Pernambuco e de outros Estados brasileiros, batalham pela conquista de muitos direitos que lhe são negados.

Um ato religioso, seguido de uma caminha da aldeia até o centro de Pesqueira, encerrando com um ato público, vão lançar mais uma vez o grito de resistência de todos os Xukuru.

E porque não dizer de todos os povos indígenas de Pernambuco.

Infelizmente, preconceito e a tentativa de criminalização de lideranças ainda são os maiores problemas enfrentados pelos indígenas.

Contudo, eles não estão parados.

A mobilização que começou no último sábado (17), quando teve início a VIII Assembléia do Povo Xukuru com o tema “10 anos sem Xicão e a perseguição continua”, deu provas que o espírito guerreiro não está enfraquecido.

Nos debates travados até esta terça-feira, além dos problemas pertinentes à etnia, lideranças indígenas pernambucanas e de outros Estados, entidades e representantes do governo discutiram o projeto de lei sobre o Estatuto dos Povos Indígenas e a criação do Conselho Nacional de Política Indigenista.

E hoje, juntos, protestam contra o assassinato de Xicão e de outras lideranças que tombaram lutando, bem como contra todas as outras formas de violência que ainda vitimam os indígenas.

Isso demonstra que a morte de Xicão não calou os Xukuru.

Pelo contrário, fortaleceu a luta deste povo, que era considerado extinto até o início do século XX.

Foi com a luta permanente que, enfim, conseguiram a homologação dos 27.555 hectares das terras que lhe pertenciam, em maio de 2001.

Vale lembrar que no final dos anos 1980, os Xukuru ocupavam menos de 10% do seu território.

E que só após um violento processo de demarcação das terras, cerca de 70% do território foi retomado.

Atualmente a população da etnia é de aproximadamente nove mil indígenas, distribuídos em 24 aldeias.

O líder atual dos Xukuru é o jovem Marcos Luidson, filho de Xicão.

Ele também vem sendo vítima de ameaças por conta de sua luta pela terra e, inclusive, escapou de emboscada em que dois companheiros seus foram assassinados.

Apesar da juventude, Marcos carrega no sangue a coragem de seu pai.

E como ele, não se cansa de lutar pelos direitos do seu povo e de outras nações indígenas, denunciando as agressões sofridas aqui e fora do Brasil.

Como bem sempre repete o cacique Marquinhos, falta compreensão do funcionamento das sociedades indígenas por parte do Estado brasileiro.

Havendo até quem ainda veja o índio como o homem nu, de cabelo liso, pintado, na aldeia.

Esteriótipos que não condizem com a realidade histórica dos indígenas no nosso Estado e na região Nordeste.

Esse é um dos muitos recados dados no dia de hoje pelo povo Xukuru, simbolizando a luta de todos os povos indígenas, a quem somos solidários na busca pela garantia de seus direitos históricos.

PS: Isaltino Nascimento (www.isaltinopt.com.br), deputado estadual pelo PT e líder do governo na Assembléia Legislativa, escreve para o Blog todas às terças-feiras.