Por Carlos Eduardo Cadoca Cinco pessoas.
Cinco histórias.
O mesmo desfecho.
O sinal vermelho acende em uma das avenidas do Recife.
O motorista pára e, segundos depois, o susto.
A batida no vidro do carro é a senha: assalto.
Três dessas cinco pessoas perderam o celular e tiveram que entregar a carteira.
Tinham pouco dinheiro, mas todos os documentos se foram.
Duas das vítimas é um casal amigo, que teve que entregar aos bandidos sob a mira de um revólver toda a renda de um negócio da família, cerca de R$ 8 mil.
Isso foi à tarde, cerca de 16h.
O casal estava na Zona Norte da cidade.
Essas cinco pessoas relataram a história dos respectivos assaltos em um intervalo de três dias.
Todas elas são do nosso convívio.
Felizmente não houve maiores conseqüências além dos prejuízos financeiros, mas todos também foram unânimes no relato final.
Ficou o medo.
Ficou a revolta.
As estatísticas mostram que esse tipo de abordagem, apesar de corriqueira, é muito perigosa.
Muitas pessoas já morreram assim.
Ou porque o marginal atirou diante de qualquer suspeita de reação da vítima.
Ou porque atirou sem motivo algum.
Depois que a vítima entregou o que foi pedido pelo bandido.
A pergunta que todo mundo se faz quando toma conhecimento de mais uma situação de assalto é a mesma: podia ser eu, não podia? É.
Poderia ser eu, você, qualquer um.
Basta estar no lugar errado, na hora errada.
A guerra contra a violência não é fácil.
Desafia governos de todos os níveis, em todo o país.
No mundo inteiro.
O Recife, infelizmente, tem índices alarmantes.
Surge como uma das capitais mais violentas do país.
Pois bem.
Ainda assim a atual administração do Recife faz de conta que não é com ela.
Constitucionalmente, de fato, não é.
Cabe ao Estado cuidar da segurança do cidadão, mas um prefeito não pode se omitir.
Não pode deixar de dar a colaboração dele.
Não pode fechar os olhos para um problema tão grave.
E como pode ajudar?
Cuidando bem da cidade.
Iluminando bem as ruas e avenidas.
Fazendo intervenções no trânsito que evitem que as pessoas passem horas presas em engarrafamentos e, ali, transformem-se em alvo fácil para bandidos.
Trabalhando em fina sintonia com o Governo do Estado.
Requalificando a guarda municipal.
A ajuda pode ser dada de várias maneiras, mas não é o que acontece.
A administração municipal não deu nenhuma colaboração significativa para a redução de 7% no número de homicídios obtidos pelo Pacto pela Vida.
O Programa não atingiu a meta dos 12%, mas teve um avanço.
O Recife continua na berlinda.
A repercussão negativa é enorme.
Não dá mais para se omitir.
A Prefeitura tem, sim, papel estratégico na prevenção primária da criminalidade e deve colaborar de forma decisiva na prevenção secundária e social.
Com base nos conceitos do Sistema Único de Segurança Pública proposto pelo Governo Lula através do Ministério da Justiça, a Prefeitura deve assumir com determinação e firmeza a prevenção primária da segurança cidadã, atuando sobre o ambiente físico e social das áreas mais violentas da cidade para que este ambiente não contribua para a criminalidade.
A Prefeitura pode colaborar com o Governo do Estado, por exemplo, complementando as 500 câmeras de vídeo que serão instaladas, com pelo menos mais 350 câmeras blindadas sem fio com transmissão via celular e com visão noturna para monitorar os sinais mais violentos.
Isso já ocorre em outras cidades.
O monitoramento por câmeras também pode ser feito nas entradas e nas saídas das escolas públicas municipais do Recife.
Isso permite zelar pelo patrimônio público ao mesmo tempo em que previne o tráfico de drogas, outra causa importante da violência no Recife.
A Prefeitura deve atuar, ainda, na prevenção secundária da violência, evitando por todos os meios possíveis, que os grupos mais vulneráveis (jovens mais pobres, desempregados…) sejam envolvidos pelo tráfico de drogas e pelo crime. É necessária aqui uma atuação firme e determinada na educação, nos esportes, na cultura e no estimulo à geração de emprego e renda. É preciso dotar essa cidade de vários parques que possibilitem o lazer, a prática esportiva e os grupos culturais de jovens, que poderiam ser estimulados por jogos colegiais democráticos e festivais culturais organizados.
Não adianta fazer um único parque com teatro a peso de ouro na região sul da cidade, que além de tudo vai atrapalhar ainda mais o tráfego de uma região problemática.
Também é necessário articular ações com os demais poderes e municípios de forma a integrar e aumentar o efeito das ações através de um gabinete de gestão integrada da prevenção à violência. É preciso, sobretudo, superar o medo e ter coragem de encarar o problema de frente.
Afinal, qualquer um de nós pode ser a próxima vítima.