Do blog de Noblat Virou uma esculhambação ampla, geral e irrestrita a operação montada pelo governo para calar a boca de José Aparecido, chefe da Secretaria de Controle Interno da Casa Civil da presidência da República, acusado de ter vazado o dossiê sobre despesas sigilosas da administração Fernando Henrique Cardoso.
O que explica o fato de um funcionário que incorreu em falta grave e que traiu a confiança dos seus superiores não ter sido afastado do cargo até agora?
Ou pelo menos até ontem à noite?
Só há uma explicação possível: negocia-se com ele para que se mantenha em silêncio em troca da impunidade. É tal a sordidez do espetáculo de barganha explícita que parlamentares aliados do governo e membros da CPI do Cartão Corporativo perderam totalmente o cuidado com as aparências.
Um notável exemplo disso está em reportagem de Alan Gripp publicada, hoje, em O Globo.
Na reunião secreta da CPI ocorrida ontem, veja o que disse e como se comportou o deputado Sílvio Costa (PMN-PE), fiel vassalo do governo: - Esse cara (Aparecido) segura a onda?
E se esse cara chega na CPI e diz: “não, quem mandou fazer (o dossiê) foi a Erenice (Guerra, braço direito de Dilma na Casa Civil)”.
Aí, lá vem convocar a Erenice, e ela chega: “Não, quem mandou fazer foi a Dilma!”.
Nós não podemos fazer o jogo da oposição.
O melhor para o governo, segundo Costa, seria que a CPI adiasse a convocação de Aparecido e de André Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que recebeu de Aparecido o dossiê.
Costa sugeriu que a base de apoio ao governo “montasse o discurso” de que se deveria aguardar o fim da investigação da Polícia Federal para só então se convocar ou não Aparecido e André.
E justificou: - É melhor um desgaste pontual, uma vez, do que a gente dar um tiro no escuro.
A convocação de Zé Aparecido, meus amigos, é um tiro no escuro.
A CPI acabou por aprovar a convocação de Aparecido e de André.
Mas líderes do governo advertiram antes: que a oposição não ouse apresentar requerimento para ouvir a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, e seu braço direito ali, Erenice Guerra.
Não ouse.
Porque o governo não permitirá.
Ora, por que não?
Que mal haveria se Dilma fosse a CPI e repetisse que não há dossiê, nunca houve?
Não foi o que ela disse na Comissão de Infra-Estrutura do Senado?
Ela está rouca de tanto garantir que o dossiê era um banco de dados - nada mais do que isso.
O ministro Tarso Genro, da Justiça, começou dizendo que dossiê era “um conceito”.
Depois evoluiu e disse que fazer dossiê não é crime - crime é vazar dossiê.
Mais recentemente, admitiu que vazamento de dossiê inexistente não configura crime.
Pode configurar apenas “falta de cuidado”.
O governo já mentiu com mais categoria.
Sua popularidade em alta começa a lhe fazer muito mal.