Por Edilson Silva* A ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, exonerou-se do cargo no dia de ontem, em caráter irrevogável.
A auto-exoneração da ministra não é simplesmente a saída de mais um auxiliar direto do governo Lula, como tantos outros o foram.
Trata-se de uma baixa de qualidade distinta, por vários fatores.
O primeiro deles é que se trata da pasta do Meio Ambiente, que abriga tema dos mais caros na política contemporânea, tanto pela problemática do aquecimento global quanto pela crise dos alimentos.
E estamos falando da pasta do meio ambiente num país chamado Brasil, ou seja, onde está localizada a maior reserva de floresta amazônica do mundo e um dos países centrais no debate mundial sobre os agro-combustíveis.
Outro aspecto que diferencia esta baixa das demais é por que estamos falando de Marina Silva, mulher antes de tudo ambientalista de renome internacional, respeitabilíssima por sua luta em defesa do desenvolvimento ecologicamente sustentável.
Mais um aspecto não menos importante: Marina deixa o governo sem problemas com a justiça, diferentemente da maioria dos petistas históricos que compuseram o governo Lula desde o início de seu primeiro mandato. É este enredo que deixou Lula “irritado” com a saída de Marina Silva e com a forma como ela saiu, sem dar-lhe condições de diminuir o negativo impacto perante a opinião pública nacional e internacional.
Ficou mal para Lula esta irritação, pois se trata da única ministra da turma do PT que saiu com a ficha limpa com a Justiça.
Marina Silva, conscientemente ou não, era muitíssimo utilizada por Lula no ambiente político internacional e nacional.
As relações de Marina com entidades como o Greenpeace, por exemplo, acabavam por ajudar na blindagem de Lula contra ações e críticas à sua política ambiental.
Neste terreno, Marina servia de escudo para um governo refém e entusiasta do agro-negócio, situação que se reverteu na prática em liberação de transgênicos, privatização da floresta amazônica, tolerância criminosa com o desmatamento, transposição do São Francisco, entre outras medidas anti-ecológicas.
Talvez a gota d\água tenha sido o governo Lula ter colocado em segundo plano o ministério do Meio Ambiente na elaboração e condução do PAS (Plano Amazônia Sustentável), que foi colocado nas mãos do ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), assim como os fortes enfrentamentos que vêm se dando nas últimas semanas no campo entre fazendeiros e trabalhadores rurais e populações indígenas.
Mas a irritação de Lula com a saída de Marina Silva pode ser também por que ele sabe que pode haver impactos políticos um pouco mais profundos no Brasil.
No ambiente da esquerda brasileira existe uma estória da carochinha de que o governo Lula estaria em disputa entre setores progressistas e conservadores.
Parte robusta dos argumentos em prol desta tese residia na luta hercúlia de ambientalistas dentro do governo, que estariam evitando que as coisas estivessem ainda piores.
Os ambientalistas agora saíram do governo.
Um dos alicerces centrais que sustentavam a “tese do governo em disputa” caiu por terra.
Marina Silva, pelo que tudo indica, convenceu-se que não há como humanizar o agro-negócio, que funciona como uma nuvem de gafanhotos, e que é um dos núcleos centrais de poder do governo Lula.
Marina Silva saiu do governo podendo ser acusada de ingênua, de ter dado condições de fortalecimento dos destruidores da natureza, mesmo que indiretamente, mas é inegável que ela sai de cabeça erguida, com seu patrimônio político lhe dando plenas condições de lançar-se fortemente em outras arenas em defesa da sua causa histórica: a defesa da vida.
Tomara que seja esta a sua intenção.
PS: Presidente do PSOL/PE e membro da Direção Executiva Nacional do PSOL