Li neste final de semana e adorei o novo livro do jornalista pernambucano, de Olinda, Frederico Vasconcelos.
Gostaria de recomenda-lo a todos os leitores do blog, como tenho feito com meus amigos e colegas de trabalho.
Quem se deliciou com Juízes no Banco dos Réus, de 2005, vai achar engraçado como vários personagens, do alto de suas autoridades, já frequentavam o noticiário de crimes, concedendo sentenças favoráveis aos réus denunciados pelo Ministério Público Federal.
O juiz Rocha Matos, que brilhou na operação Anaconda, de 2003, é apenas um exemplo emblemático.
A primeira coisa que encanta no livro é que Vasconcelos dedica-se à criminalidade endinheirada, no Judiciário, na Política, em um país em que a maioria da população olha apenas para a criminalidade favelada.
Quem gosta de criticar a mídia terá vários casos de estudo, como o caso da imprensa mineira, que manera com Aécio Neves, o presidenciável tucano que o PT busca cooptar.
Nem a mídia do maior estado do Brasil, São Paulo, escapa ao escrutínio do repórter, com as denúncias do uso político pelos tucanos com o escândalo da Nossa Caixa, em 2006.
O livro trata de investigações jornalísticas em três áreas: empresas, governos e tribunais.
Os estudantes de jornalismo, pela pureza de espírito, são os que mais podem beneficiar-se das lições deste mestre do jornalismo investigativo.
Quem já amadureceu e nunca teve coração de ousar, não será hoje que aprenderá um truque novo.
No caso, o principal mérito é ensinar técnicas de apuração, coisas que as faculdades, lotadas de acadêmicos, não conseguem oferecer.
No entanto, o livro pode ser útil também para políticos e assessorias de imprensa.
Com exemplos práticos, poderão perceber que críticas da imprensa não são perseguição pessoal.
Os episódios servem de lição para os que querem praticar a arte da reportagem e todos os que se vêem de alguma maneira afetados por ela.
Quando trata do Ministério Público, Vasconcelos mais uma vez rema contra a maré, ao mostrar como é importante manter a independência em relação aos procuradores.
A desmontagem da imagem do procurador Luiz Francisco, seu destempero na entrevista só prova quanto perguntas simples podem ser embaraçosas - é um chute no estômago para uma boa parte dos coleguinhas, que colocam o MP sempre do lado do bem, sem distanciamento crítico algum.
Mas essa gente não é imaculada, como tenta parecer.
Existe procurador bom e ruim em todo lugar, como acontece com jornalistas.
Declaro, de antemão, que sou amplamente suspeito, por admirar a coragem e o rigor de Fred Vasconcelos, exercidos ao longo de 40 anos de carreira.
O primeiro livro dele, Fraude (da Editora Scritta), sobre corrupção na importação de equipamentos no governo Qúercia, li ainda na faculdade, em puro deleite.
Como o atual, ensinada com a prática que a busca de documentos deve sempre anteceder a busca por declarações e versões oficiais.
Uma parte, em especial, aproxima à província dos grandes centros da mídia: A persistência do repórter tem um ônus. “Quanto mais complexa a investigação jornalística, maior a possibilidade de que os outros veículos se abstenham de tratar do assunto.
A persistência isolada do jornalista que revela e dá seqüëncia a um fato relevante pode ser interpretada injustamente como ânimo persecutório, interesse político ou interesse pessoal.
A rememoração de detalhes, necessária para a contextualizar o fato e permitir o melhor entendimento do caso conm a cada volta ao assunto nos jornais, dá margem a que as partes atingidas aleguem, depois, terem sido vítimas de uma campanha sistemática da imprensa”, escreve.
Não lhes lembra alguns reizinhos locais?
A melhor resposta a este tipo de autoritamismo, muitas vezes má fé travestida de ignorância, é dada no livro pelo desembargador Fábio Henrique Podestá, ao reformar a sentença de um juiz de primeira instância contra o jornal Folha de São Paulo, na reportagem que mostrou ainda em 1999 o enriquecimento ilícito de juízes paulistas, antes da Operação Anaconda. “A divulgação de fatos relacionados com a atuação do Poder Público tem redobrada importância em um regime republicano e democrático”, afirmou. “Não é por outro motivo que a imprensa desempenha importante papel no sistema democrático, revelando fatos, incentivando polêmicas, estimulando críticas e, especialmente, exercendo uma espécie de policiamento sobre a conduta de autoridades públicas”, acrescentou.
Serviço Anatomia da Reportagem Autor: Frederico Vasconcelos Editora: Publifolha 152 páginas R$ 27,00 Sobre o autor Frederico Vasconcelos nasceu em Olinda, Pernambuco, em 1944.
Formado em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, exerce a profissão desde 1967.
Repórter especial da Folha de S.Paulo, onde trabalha desde 1985, também é autor dos livros Fraude (Scritta, 1994) e Juízes no Banco dos Réus (Publifolha, 2005 — finalista do Prêmio Jabuti).
Pelas suas reportagens, já recebeu o Prêmio Esso, o Prêmio Bovespa de Jornalismo, o Prêmio BNB de Imprensa e o Prêmio Icatu de Jornalismo Econômico, entre outros.
Desde 2007, mantém um blog na Folha Online: blogdofred.folha.blog.uol.com.br