Por Raul Henry Andar pelas ruas do Bairro do Recife deveria significar um banho de história, cultura, arquitetura, boemia.
Mas o que se observa hoje, no coração da capital dos versos de tantos poetas, são ruas sujas, mal-cheirosas e pouco iluminadas, venda e consumo de drogas, bares e restaurantes fechados, edificações antigas caindo aos pedaços.
No passado, a área foi um grande centro comercial e importante ponto de embarque e desembarque de mercadorias para todo o Nordeste.
Mas devido à ausência de uma política consistente de revitalização, o Bairro do Recife passou a abrigar apenas escritórios contábeis ou de representação e, sobretudo, bordéis.
Os moradores mudaram-se e o rico conjunto arquitetônico foi-se deteriorando.
Nos anos 90, durante a gestão de Jarbas Vasconcelos, tiveram início projetos de revitalização da área.
Prédios históricos foram restaurados, ruas iluminadas, o Porto Digital foi instalado ali.
A Rua do Bom Jesus virou cartão postal e um calendário de shows em pólos descentralizados reacendeu a veia artística e cultural do bairro.
Com essas e outras mudanças, o Bairro do Recife adquiriu vida novamente.
O turismo se intensificou, gerando emprego e renda para a população da capital pernambucana.
As ações tiveram continuidade na administração de Roberto Magalhães.
Infelizmente, os esforços das gestões anteriores foram desperdiçados pela atual administração municipal.
Sem incentivo, os bares e restaurantes foram, pouco a pouco, sendo fechados.
A Rua do Bom Jesus morreu.
A realidade atual do bairro é de nova decadência, por falta de políticas públicas que se preocupem com sua preservação e manutenção.
Recém-reformada, a Rua da Moeda padece de um grave problema: falta de segurança.
Em matéria publicada no último dia 20 de abril, o Jornal do Commercio mostra traficantes disfarçados de flanelinha vendendo maconha e crack livremente.
A “profissão” de flanelinhas, aliás, vem sendo estimulada pela PCR.
Esses “donos da rua” são cadastrados e trabalham com o aval da Prefeitura, com suas pranchetas de Zona Azul, guardando as vagas de estacionamento ao seu bem prazer e obrigando o motorista a pagar o dobro do valor para ter o direito de parar seu carro.
Como resultado desses problemas, o Bairro do Recife padece sem dinamismo econômico, social, cultural, turístico.
A população, que deveria se orgulhar da beleza de sua cidade, hoje tem vergonha dos altos índices de violência e da poluição.
Os turistas cada vez mais seguem direto para Porto de Galinhas.
E, com eles, oportunidades de emprego e renda.
Como se não bastassem, esses males não se restringem ao Bairro do Recife.
A Guararapes, o Pátio de São Pedro, a Conde da Boa Vista, a Dantas Barreto, o Camelódromo, as calçadas da Sete de Setembro e Hospício, a Praça da Independência, a Rua Nova, a Imperial, dentre outros pontos tradicionais, também se encontram em situação de abandono.
Revitalizar os bairros do Recife, Santo Antônio, São José e Boa Vista será uma das prioridades da nossa gestão.
Isso porque entendemos que esses são não só locais historicamente importantes para a nossa cidade, mas que precisam voltar a ser economicamente atrativos e bons de se morar.
Como já vimos nos exemplos de Bogotá e Medellín, na Colômbia, e Guayaquil, no Equador, intervenções urbanas como saneamento básico, iluminação, cuidado com as fachadas de edificações e calçadas, construção de jardins e parques, enchem a população de auto-estima e contribuem consideravelmente para a redução da violência e, ao mesmo tempo, trazem de volta os turistas.
Parcerias entre o público e o privado também são indispensáveis, para estimular a reocupação imobiliária dessas áreas.
Outra prioridade será a luta para que o projeto Recife-Olinda saia do papel, beneficiando as duas cidades.
Com essas ações, teremos novamente o uso misto dos bairros tradicionais da capital pernambucana, com comércio, habitação, lazer e serviços, resultando num Recife de maiores oportunidades e mais igualdade social. *Deputado federal e pré-candidato do PMDB a prefeito do Recife, escreve para o Blog às sextas dentro da série “Recife 2008.
Debate com os prefeituráveis”.